Exigir que Obama se desculpe é aposta arriscada de Dilma
Uma aposta arriscada de Dilma. Se exigir pedido público de desculpas e se contentar com menos, Brasil vai salientar o desequilíbrio nas relações com os Estados Unidos
Diante das revelações de que o governo dos Estados Unidos espionou a presidenta Dilma Rousseff e seus principais assessores, o Palácio do Planalto cancelou os preparativos para a visita de Estado a Washington, programada para outubro, e estaria exigindo um pedido público de desculpas da Casa Branca. Não há dúvidas de que Dilma está moralmente correta em sua busca por retratação, mas a presidenta está também fazendo a maior aposta diplomática de seu mandato – uma que pode não conseguir bancar.
A visita de Estado aos Estados Unidos tem um peso simbólico importante, pois serve como indicador de reaproximação entre Washington e o convidado. A do Brasil será a única do tipo em 2013. As denúncias de espionagem, feitas pelo Fantástico com base em material do jornalista Glenn Greenwald, foram um banho de água fria. O Brasil, então, teria imposto um pedido público de desculpas como condição para manter a visita de Estado. É este o risco da aposta de Dilma. É bastante improvável que essa condição seja aceita por Barack Obama e, passada a tensão atual, o Brasil pode acabar se contentando com uma retratação inferior à exigida inicialmente – o que comprovaria em público o desequilíbrio das relações com os Estados Unidos.
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A indignação do governo brasileiro é patente. Na noite de quarta-feira 4, uma fonte do governo brasileiro revelou à agência Reuters que Dilma está “completamente furiosa” com a espionagem e que o Planalto considera esta uma “grande crise”.
Agrava a situação o fato de as explicações enviadas por Washington até aqui serem disparatadas. Enquanto as denúncias são de espionagem direta às comunicações internas do governo brasileiro, os EUA afirmam que sua Agência de Segurança Nacional (a NSA) monitora apenas ameaças terroristas e nucleares. O Brasil não aceita essa versão. “Acho que essa espionagem indiscriminada não tem a ver a com segurança nacional”, afirmou o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. “É uma espionagem com um caráter comercial, industrial, interesse em saber questões como o pré-sal e outras de peso econômico ou de peso comercial. Portanto, é mais grave do que fica parecendo à primeira vista”, disse.
Uma primeira tentativa de explicações por parte de Obama ocorreu no encontro do G-20, que ocorre em São Petersburgo, na Rússia. Washington tenta lidar com a questão de forma discreta. “Se há inquietações que possamos resolver e sejam consistentes com as exigências de segurança nacional, nossa meta é fazê-lo por meio de nossa relação bilateral”, disse o assessor de segurança nacional de Obama, Ben Rhodes, segundo o jornal. Em entrevista nesta sexta-feira 6, Dilma afirmou que Obama prometeu uma resposta até quarta-feira 11.
Se Dilma não ficar satisfeita com as ponderações de Obama e levar a cabo o cancelamento da visita de Estado, as relações entre Brasil e Estados Unidos vão se degradar. Para os Estados Unidos, não será um grande drama, mas a retomada da parceria instável que existia durante o governo Lula. Para o Brasil, entretanto, pode implicar numa redução de seu perfil internacional, que sofreu um baque com a troca de Lula por Dilma e a de Celso Amorim por Antonio Patriota (demitido recentemente). Talvez a crise, ao menos, sirva de alerta para o governo Dilma entender que um país só pode ser grande internacionalmente caso tenha esse desejo e o coloque em prática.
José Antonio Lima, CartaCapital