Massacre na Noruega: Preparada para morrer, sobrevivente faz relato arrepiante
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Emma levou um tiro no braço e perdeu 14 amigos; atirador sorria. |
amigos próximos de Emma. Seis deles foram baleados na frente da
estudante. Ela nadou para escapar da ilha e, embora tenha tido
dificuldades para se salvar, ainda ajudou uma amiga e um menino
desconhecido a fugir. Emma foi atingida no braço antes de ser resgatada
pela tripulação de um barco. De todas as perdas e dificuldades que
enfrentou, nada a impactou mais do que a lembrança do sorriso do
terrorista enquanto atirava nas pessoas. Emma contou como se amparou na família e nos amigos para tomar fôlego
entre uma braçada e outra naquele dia. Apesar do terror, ela diz se
sentiu obrigada a continuar viva.
Como você percebeu que estava em meio a um tiroteio?
Eu meus amigos ouvimos o barulho e nos escondemos atrás de um
morro. Não tínhamos como ver muita coisa de lá. Então começaram a chegar
mensagens nos celulares, com perguntas sobre como era o atirador e se
ele estava sozinho. Depois nos avisaram que era um homem vestido como
policial e que ele estava vindo em nossa direção.
Primeiro eu rezei, mas tentei ao mesmo tempo acalmar os outros ao
meu redor. Em seguida, enviei uma mensagem para o líder do movimento
juvenil trabalhista. Ele disse que estava a salvo e eu perguntei o que
deveria fazer, já que éramos quatro encurralados em um rochedo. A
resposta foi simples e direta: “Nade!”
Minha amiga gritou atrás de mim: “Emma, você está sangrando!”.
Olhei para baixo e vi o sangue jorrando do meu braço esquerdo. Só
naquele instante eu entendi porque doía tanto, mas não quis parar. Ainda
era possível ouvir tiros, gritos e a risada, a inconfundível risada do
desgraçado. Ele gritava e dizia que não escaparíamos.
Você frequentava o acampamento em Utoeya há quanto tempo?
Foi minha primeira vez. Todos os anos minha família viaja para a
Bósnia e para Montenegro, mas esse ano eu quis ir para Utoeya e voltei
mais cedo das férias.
O moderno reacionário é a porta de entrada para o velho fascismo
Lá tinha todos os atrativos de um acampamento de verão
tradicional. Durante cinco dias, nós jogamos futebol e vôlei, dançamos,
vimos shows de música, organizamos festas. Esse tipo de coisa. O
diferencial eram as atividades com ênfase na política. Havia barracas
onde os jovens podiam escolher o assunto em que queriam se aprofundar,
como política internacional, relações partidárias etc. Eu sempre gostei
muito de política e queria fazer algo pela Noruega.
O massacre mudou seus planos profissionais?
De forma alguma. É importante que cada um de nós continue a atuar
da forma que quiser. Assim o monstro não vai achar que conseguiu vencer
nossa política pacífica.
Já na vida pessoal, tudo mudou. Tenho medo de tudo o que me cerca.
Tenho de medo de barulho, fico olhando para trás sem parar e nunca saio
sozinha. Meu melhor amigo está sempre comigo. Ele nunca me deixa só. As
pessoas me perguntam coisas sobre Utoeya a todo instante e, quando não
consigo responder, é meu amigo quem responde por mim. Mas, mesmo com
ele, eu continuo assustada. Estou sempre preparada para correr e nem
mesmo sei o porquê.
O que você sabe sobre o atirador?
Sei que ele foi preso e que escreveu um manifesto de ódio. Mas eu
não posso lê-lo. Não tenho condições de saber como ele planejou nos
matar. Jamais vou perdoá-lo, mas não sinto nada por ele. A sensação é de
vazio ao pensar naquela pessoa. Na verdade, chego a sentir ódio por dez
segundos, só por causa das pessoas que ele tirou de mim. Mas depois
esse sentimento ruim vai embora e não sobra nada mesmo.