Luis Soares
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Política 27/Jun/2011 às 18:09 COMENTÁRIOS
Política

Mano Menezes acertou: futebol e religião não combinam

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 27 Jun, 2011 às 18h09
Mano quer por fim à farra das religiões na concentração
Às vésperas do início da Copa América – a mais importante competição entre seleções nacionais de futebol da América do Sul -, o técnico da seleção brasileira, Mano Menezes (foto), vetou a presença de pastores evangélicos na concentração da equipe na cidade de Campana, na Argentina, país onde será realizado o torneio.
A barração foi uma decisão sábia e sensata. Ao contrário da Copa 2010 na qual Dunga deu liberdade aos pastores para frequentar a concentração, o novo comandante do time verde-amarelo considera uma intromissão indevida a participação de pessoas que não integrem o staff da comissão técnica.
Sem discriminar a fé de nenhum atleta, Mano pretende dissociar religião do esporte. Além do Brasil ser um estado laico, comemorar gols com mensagens religiosas em camisetas por baixo da camisa oficial não pega bem. A própria Fifa (Federação Internacional de Futebol) proibiu manifestações religiosas durante competições esportivas.
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Isso ganhou mais visibilidade depois do crescimento das religiões cristãs neopentecostais, que fazem da religião uma maneira de espetáculo e sobretudo de faturamento monetário. Para os líderes religiosos deste naipe estar ligado a personagens de destaque nos cenários esportivo e artístico é importante, uma vez que serve como propaganda para seus negócios, ooops, templos.
Voltando ao futebol, seria incrível ter em uma mesma equipe integrantes de várias religiões. Quando o protestante faz o gol, ele ergue as mãos para os céus em agradecimento a Deus; já o católico, ajoelha-se, persigna-se e também a agradece a Deus; o muçulmano, por sua vez, ajoelha-se em direção a Meca para render homenagem a Alá; o judeu agradece Jeová e, na concentração, come apenas alimentos kosher, isto é, benzidos pelo rabino. O budista acenderia um incenso para o Ser Supremo, enquanto o hindu cantaria um mantra para Shiva. O umbandista jogaria flores para Iemanjá ou faria oferendas para Ogum. Finalmente, o ateu acharia tudo uma bobagem e mandaria os religiosos para aquele lugar…
O duro é que, apesar do tom irônico do parágrafo anterior, estas comemorações eram mais comuns do que se pode pensar até que os dirigentes da Fifa decidiram intervir e emitir uma nota proibindo manifestações religiosas no momento do gol – o gozo supremo do futebol.
Além de ser politicamente incorreto, uma comemoração deste tipo pode enfurecer os adversários, irritar os torcedores e provocar desconforto entre os próprios companheiros da equipe e seus próprios simpatizantes. Claro que cada um tem todo o direito de seguir sua fé ou até mesmo de não ter nenhuma religião, o que se deve evitar é levar para uma praça esportiva uma demonstração inequívoca de sua fé e provocar reações de apoio, de insatisfação e de desconforto.
Claro que a proibição, para ser completa, deveria ser estendida para os indefectíveis empresários, as onipresentes “maria-chuteiras” e os ridículos torcedores profissionais que tudo fazem para aparecer em uma fotografia abraçado a um craque ou artista famoso para fingir uma intimidade que nem de longe é real e verdadeira.
Por Antonio Tozzi, de Miami

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