Luis Soares
Colunista
Política 28/Jun/2011 às 15:47 COMENTÁRIOS
Política

Leonardo Boff: Crise terminal do Capitalismo?

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 28 Jun, 2011 às 15h47
“O próprio capitalismo criou o veneno que o pode matar”
Tenho sustentado que a crise atual do capitalismo é mais queconjuntural e estrutural. É terminal. Chegou ao fim o gênio do capitalismo desempre adaptar-se a qualquer circunstância. Estou consciente de que são poucosque representam esta tese. No entanto, duas razões me levam a estainterpretação.
A primeira é a seguinte: a crise é terminal porque todosnós, mas particularmente, o capitalismo, encostamos nos limites da Terra.Ocupamos, depredando, todo o planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio eexaurindo excessivamente seus bens e serviços a ponto de ele não conseguir,sozinho, repor o que lhes foi sequestrado. Já nos meados do século XIX Karl Marxescreveu profeticamente que a tendência do capital ia na direção de destruir asduas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho. É o que estáocorrendo.
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A natureza, efetivamente, se encontra sob grave estresse,como nunca esteve antes, pelo menos no último século, abstraindo das 15 grandesdizimações que conheceu em sua história de mais de quatro bilhões de anos. Oseventos extremos verificáveis em todas as regiões e as mudanças climáticastendendo a um crescente aquecimento global falam em favor da tese de Marx. Comoo capitalismo vai se reproduzir sem a natureza? Deu com a cara num limiteintransponível.
O trabalho está sendo por ele precarizado ou prescindido. Hágrande desenvolvimento sem trabalho. O aparelho produtivo informatizado erobotizado produz mais e melhor, com quase nenhum trabalho. A consequênciadireta é o desemprego estrutural.
Milhões nunca mais vão ingressar no mundo do trabalho,sequer no exército de reserva. O trabalho, da dependência do capital, passou àprescindência. Na Espanha o desemprego atinge 20% no geral e 40% e entre osjovens. Em Portugal 12% no país e 30% entre os jovens. Isso significa gravecrise social, assolando neste momento a Grécia. Sacrifica-se toda uma sociedadeem nome de uma economia, feita não para atender as demandas humanas, mas parapagar a dívida com bancos e com o sistema financeiro. Marx tem razão: otrabalho explorado já não é mais fonte de riqueza. É a máquina.
A segunda razão está ligada à crise humanitária que ocapitalismo está gerando. Antes se restringia aos países periféricos. Hoje églobal e atingiu os países centrais. Não se pode resolver a questão econômicadesmontando a sociedade. As vítimas, entrelaças por novas avenidas decomunicação, resistem, se rebelam e ameaçam a ordem vigente. Mais e maispessoas, especialmente jovens, não estão aceitando a lógica perversa daeconomia política capitalista: a ditadura das finanças que via mercado submeteos Estados aos seus interesses e o rentismo dos capitais especulativos quecirculam de bolsas em bolsas, auferindo ganhos sem produzir absolutamente nadaa não ser mais dinheiro para seus rentistas.
Mas foi o próprio sistema do capital que criou o veneno queo pode matar: ao exigir dos trabalhadores uma formação técnica cada vez mais aprimoradapara estar à altura do crescimento acelerado e de maior competitividade,involuntariamente criou pessoas que pensam. Estas, lentamente, vão descobrindoa perversidade do sistema que esfola as pessoas em nome da acumulação meramentematerial, que se mostra sem coração ao exigir mais e mais eficiência a ponto delevar os trabalhadores ao estresse profundo, ao desespero e, não raro, aosuicídio, como ocorre em vários países e também no Brasil.
As ruas de vários países europeus e árabes, os “indignados”que enchem as praças de Espanha e da Grécia são manifestação de revolta contrao sistema político vigente a reboque do mercado e da lógica do capital. Osjovens espanhóis gritam: “não é crise, é ladroagem”. Os ladrões estãorefestelados em Wall Street, no FMI e no Banco Central Europeu, quer dizer, sãoos sumossacerdotes do capital globalizado e explorador.
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Ao agravar-se a crise, crescerão as multidões, pelo mundoafora, que não aguentam mais as consequências da superexploracão de suas vidase da vida da Terra e se rebelam contra este sistema econômico que faz o que bementende e que agora agoniza, não por envelhecimento, mas por força do veneno edas contradições que criou, castigando a Mãe Terra e penalizando a vida de seusfilhos e filhas.

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