Redação Pragmatismo
Meio Ambiente 15/Dez/2010 às 12:07 COMENTÁRIOS
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Wikileaks: FBI investigou morte de Dorothy Stang

Publicado em 15 Dez, 2010 às 12h07
Wikileaks FBI investigou morte de Dorothy Stang
Dorothy Stang

Uma série de documentos publicados pelo Wikileaks mostra que a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília acompanhou de perto as investigações sobre a morte da missionária norte-americana Dorothy Mae Stang, preocupados com “a corrupção dos policiais e com a atuação do FBI” no caso. “Devido à natureza política e à extensiva cobertura midiática do caso, o FBI vai se manter extremamente discreto”, revelou um dos despachos.

O FBI participou na primeira fase da investigação, ao lado da polícia brasileira, reunindo provas para um processo contra Rayfran das Neves Sales e Clodoaldo Carlos Batista nos Estados Unidos. A policia federal norte-americana chegou a entrevistar os acusados enquanto estavam sob custódia brasileira.

Os dois foram condenados por um tribunal do júri em Washington em junho de 2005. No Brasil, o último acusado, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, só foi condenado definitivamente em abril deste ano.

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O FBI mantém um escritório em Brasília para atuar em solo nacional. Dorothy Stang foi assassinada em 12 de fevereiro de 2005 em Anapu, Pará, por defender famílias sem-terra que ocupavam um projeto de desenvolvimento sustentável em uma região marcada pela violência conduzida por grileiros de terra.

O FBI, discreto

Um despacho de 18 de fevereiro de 2005 diz que, pouco após a morte da missionária, o embaixador norte-americano John Danilovich se encontrou com o subsecretário do Itamaraty Ruy Nunes Pinto Nogueira para mostrar o interesse dos EUA no caso. Danilovich ouviu que o governo ia fazer o maior esforço possível para punir os culpados.

Pouco depois da morte de Dorothy, o advogado-geral dos EUA estudou os fatos do caso e decidiu que queria processar os assassinos nos EUA. Isso porque, segundo o FBI, o crime foi uma violação à lei norte-americana, que estabelece a culpabilidade de assassinos de cidadãos norte-americanos, mesmo em outro país. O crime tem que ser uma “coação, ou retaliação, contra o governo ou a população civil”.

A unidade extraterritorial do FBI, sediada em Miami, decidiu enviar dois agentes ao Brasil para auxiliar na investigação na semana do dia 21 de fevereiro. Segudo o despacho, o time legal da embaixada estava consultando policiais brasileiros a esse respeito.

Devido à natureza política e à extensiva cobertura midiática do caso, o FBI vai se manter extremamente discreto”, explica Danilovich.

Policiais corruptos

A embaixada acompanhou de perto o desenrolar das investigações e conversou com testemunhas-chave sobre o andamento dos processos. Danilovich transmite com preocupação, em um documento de 22 de fevereiro, o medo de um oficial envolvido na investigação – cujo nome será preservado conforme as regras de segurança do Wikileaks – de que “a corrupção policial prejudicasse o andamento do caso”.

Aparentemente a investigação está correndo bem, mas há sérias preocupações de que a polícia pode estar comprometida por ligações impróprias com grandes donos de terra na região que estão envolvidos em apropriação ilegal de terra e desmatamento”, diz o texto.

Um oficial se disse ‘profundamente preocupado’ com a possibilidade de que a investigação seja manipulada pelas autoridades. Acredita-se que autoridades corruptas tenham permitido a grilagem de terra em larga escala e o desmatamento durante anos”, descreve o embaixador. Essa mesma fonte diz a ele que Dorothy era “uma pedra no sapato” dos fazendeiros e policiais.

(O oficial) não teve papas na língua, ele nos disse que os policiais nas zonas rurais estão proximamente ligados a grandes fazendeiros e são contratados como pistoleiros para intencionalmente obstruir investigações”.

Essa fonte afirmou estar “muito preocupada com a direção da investigação, a rapidez com que a polícia encontrou os quatro suspeitos e a segurança dos que estão sob custódia”, afirmando que eles podiam ser “apagados” na prisão. Rayfran Neves teria sido ameaçado e coagido pela polícia militar.

Outra fonte, um político, corrobora esse alerta. “Em razão das preocupações de longa data sobre a eficiência, corrupção e baixa moral da PM em todo o Brasil, além de preocupações especificas sobre a atuação da PM do Pará na investigação sobre Stang, vamos monitorar proximamente o caso para ver se o caso será federalizado”, conclui o documento.

Em outras comunicações, o embaixador mantém a preocupação com o andamento ds investigações e transmite uma visão favorável à federalização do caso.

FBI interroga no Brasil

A embaixada também foi bastante atuante ao acompanhar a visita do irmão de Dorothy, David Stang, ao Brasil. Pouco depois da visita de David, em 3 de março, Danilovich envia outro telegrama no qual reclama do então ministro da Justiça Márcio Thomas Bastos.

Estamos meio confusos com a relutância de Bastos de federalizar o caso devido ao alto envolvimento federal e a oportunidade do caso ser teste para a nova lei da federalização”, comenta ele.

No mesmo telegrama o embaixador explica que três investigadores do FBI – sendo que um deles trabalha permanentemente no Brasil – viajaram até a cena no crime e “colheram testemunhos, fotos e vídeo das autoridades
policiais brasileiras”.

Os investigadores do FBI também interrogaram os três suspeitos atualmente sob custódia brasileira”, prossegue o telegrama. “Um deles se recusou a falar e os outros reconheceram sua participação no assassinato”. Com base nessa visita, o advogado-geral dos EUA iria apresentar caso perante o tribunal do júri.

Imprensa critica Irmã Dorothy

Em 2 de maio, Danilovich descreve o que vê como uma clara tentativa da mídia local de desmerecer Dorothy Stang. “Recentemente tem havido um esforço concertado em alguns veículos do Pará de desmerecer a Irmã Dorothy. Uma revista chamada Hoje publicada na última semana na cidade de Altamira fez críticas ácidas à freira e a integrantes do PT”, diz o documento.

O superintendente da PF José Sales também dividiu conosco sua opinião pessoal que a Stang foi muito longe: ela uma vez procurou Sales e pediu que ele ‘retirasse os grileiros a qualquer custo’. Quando Sales respondeu que isso teria que ser feito pelos meios legais, ela respondeu que faria ‘da sua própria maneira’” descreve.

Opera Mundi

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