Luis Soares
Colunista
Política 02/Ago/2010 às 14:41 COMENTÁRIOS
Política

Vencendo os mitos da Aids: portadores de HIV se tornam avós

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 02 Ago, 2010 às 14h41
Quem recebe a notícia de que está com HIV, em geral, tem toda a vida desestruturada. Mas, depois que a poeira baixa, quem segue um tratamento adequado pode viver uma situação bem melhor. De acordo com pesquisa da Casa da Aids do Hospital da Clínicas de São Paulo, a maioria das pessoas que descobriram a doença há dez anos ou mais hoje está num relacionamento estável, trabalha e mantém uma vida social ativa.

Para a diretora da Casa da Aids, Eliana Gutierrez, os dados são surpreendentes. “A gente realmente não imaginava”, diz. Em números, são 75% dos pacientes trabalhando, 68% vivendo com família ou amigos e 59% em relações amorosas estáveis. Destes, dois terços fazem sexo com quem não tem o vírus e 90% contaram ao parceiro que são portadores do HIV.

O que explica os bons resultados, segundo a diretora da instituição, é o tratamento. “Estas pessoas estão usufruindo hoje dos benefícios da medicação”, conta. O fato de terem recebido o diagnóstico há bastante tempo também é importante. “O diagnóstico tem um poder de desorganização de todos os domínios da vida que não é pequeno. Essas pessoas já passaram pela fase do choque do diagnóstico”, afirma a diretora.

Para ela, um dos méritos da pesquisa é mostrar o que pode acontecer com um soropositivo após esse choque inicial. “Muitas vezes, quando as pessoas recebem o diagnóstico e iniciam o tratamento, não conseguem enxergar o que vai acontecer dali alguns anos. Nós estamos mostrando o que pode ocorrer com pessoas que já têm diagnóstico há muitos anos e já estão em tratamento”, diz.

Quem tem HIV também está envelhecendo. A média de idade dos pacientes da Casa da Aids é de 44 anos. “É possível envelhecer com Aids, envelhecer mesmo, ir ficando velho. Muitos dos meus pacientes já têm netos, e eu ainda não tenho. Está acontecendo um envelhecimento da epidemia e um dos fatores é que as pessoas que vivem com HIV e fazem o tratamento estão sobrevivendo muito tempo”, afirma Eliana.

O outro fator que explica este envelhecimento não deve ser comemorado. A diretora da Casa da Aids explica que, diferente dos jovens, que cresceram ouvindo sobre a importância dos preservativos, as pessoas mais velhas não têm o hábito de usá-los. O resultado é que quem tem mais idade está contraindo o vírus.

Por Mariana Desidério, no Terra Magazine

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