Luis Soares
Colunista
Política 25/Ago/2010 às 15:21 COMENTÁRIOS
Política

Marcos Coimbra: Pesquisas Polêmicas (Ou o vexame do Datafolha)

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 25 Ago, 2010 às 15h21
Marcos Coimbra, sociólogo e autoridade em pesquisas eleitorais
Pesquisas nas quais não se pode confiar são um problema. Elasatrapalham o raciocínio. É melhor não ter pesquisa nenhuma que tê-las.

Aocontrário de elucidar e ajudar a tomada de decisões, confundem. Quem sebaseia nelas, embora ache que faz a coisa certa, costuma meter os péspelas mãos.

Isso acontece em todas as áreas em que são usadas. Nos estudos demercado, dá para imaginar o prejuízo que causam? Se uma empresa sebaseia em uma pesquisa discutível na hora de fazer um investimento, ocusto em que incorre?

Na aplicação das pesquisas na política, temos o mesmo. Ainda mais naseleições, onde o tempo corre depressa. Não dá para reparar os erros aque elas conduzem.

Pense-se o que seria a formulação de uma estratégia de campanha baseadaem pesquisas de qualidade duvidosa. Por mais competente que fosse ocandidato, por melhores que fossem suas propostas, uma candidatura malposicionada não iria a lugar nenhum.

Com a comunicação é igual. Boas pesquisas são um insumo para adefinição de linhas de comunicação que aumentam a percepção dos pontosfortes de uma candidatura e que explicam suas deficiências. As incertaspodem fazer que um bom candidato se torne um perdedor.

E na imprensa? Nela, talvez mais que em qualquer outra área, essaspesquisas são danosas. Ao endossá-las, os veículos ficam em posiçãodelicada.

A primeira página

Neste fim de semana, a Folha de S.Paulo divulgou apesquisa mais recente do Datafolha. Os problemas começaram na manchete,que se utilizava de uma expressão que os bons jornais aposentaram faztempo: “Dilma dispara…”. “Dispara..”, “afunda…” são exemplos do quenão se deve dizer na publicação de pesquisas. São expressões antigas,sensacionalistas.

Compreende-se, no entanto, a dificuldade do responsável pela primeirapágina. O que dizer de um resultado como aquele, senão que mostrariauma “disparada”?

Como explicar que Dilma tivesse crescido 18 pontos em 27 dias, saindode uma desvantagem para Serra de um ponto, em 23 de julho, para 17pontos de frente, em 20 de agosto? Que ganhasse 24 milhões de eleitoresno período, à taxa de quase um milhão ao dia? Que crescesse 9 pontos emuma semana, entre 12 e 20 de agosto, apenas nela conquistando 12,5milhões de novos eleitores?

O jornal explicou a “disparada” com uma hipótese fantasiosa: Dilmacresceu esses 9 pontos pelo “efeito televisão”. Três dias de propagandaeleitoral (nos quais a campanha Dilma teve dois programas e cincoinserções de 30 segundos em horário nobre), nunca teriam esse impacto,por tudo que conhecemos da história política brasileira.

Aliás, a própria pesquisa mostrou que Dilma tem mais potencial decrescimento entre quem não vê a propaganda eleitoral. Ou seja: aexplicação fornecida pelo jornal não explica a “disparada” e ele nãosabe a que atribuí-la. Usou a palavra preparando uma saída honrosa parao instituto, absolvendo-o com ela: foi tudo uma “disparada”.

É impossível explicar a “disparada” pela simples razão de que ela nãoaconteceu. Dilma só deu saltos espetaculares para quem não tinhaconseguido perceber que sua candidatura já havia crescido. Ela jáestava bem na frente antes de começar a televisão.

Mas as pesquisas problemáticas não são danosas apenas por que ensejamexplicações inverossímeis. O pior é que elas podem ajudar a cristalizarpreconceitos e estereótipos sobre o país que somos e o eleitorado quetemos.

Ao afirmar que houve uma “disparada”, a pesquisa sugere umavolubilidade dos eleitores que só existe para quem acha que 12,5milhões de pessoas decidiram votar em Dilma de supetão, ao vê-la algunsminutos na televisão. Que não acredita que elas chegaram a essa opçãodepois de um raciocínio adulto, do qual se pode discordar, mas que sedeve respeitar. Que supõe que elas não sabiam o que fazer até aquelesdias e foram tocadas por uma varinha de condão.

Pesquisas controversas são inconvenientes até por isso: ao procurarlegitimá-las, a emenda fica pior que o soneto. Mais fácil é admitir quefossem apenas ruins.

Marcos Coimbra

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