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Ator Yago França foi queimado vivo em um “ritual demoníaco”, diz MPSP

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Ator de 29 anos foi queimado vivo em um “ritual demoníaco”, diz Ministério Público de SP. Yago Henrique França levava alegria e a arte por onde passava e tinha ações sociais sobre diversidade na periferia. Áudios mostram envolvidos encomendando morte da vítima

Yago França

O Ministério Público de São Paulo (MPSP) informou nesta terça-feira (9) que o ator e drag queen Yago Henrique França, de 29 anos, foi queimado vivo em um “ritual demoníaco”.

O posicionamento da Promotoria se originou em um Inquérito Policial instaurado pelo Setor de Homicídios de Proteção à Pessoa de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, que investigou o caso.

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O corpo da vítima foi encontrado carbonizado, na tarde de 7 de março deste ano, em uma área de mata em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. Ele foi visto pela última vez com vida no dia 27 de fevereiro, após ir a um ritual religioso na zona sul da capital paulista.

Laudo do Instituto Médico Legal (IML) afirma que as vias respiratórias de Yago estavam com fuligem, quando seu corpo foi encontrado. “A vítima se encontrava viva quando seu corpo foi queimado, vindo a óbito por asfixia que antecedeu-se à carbonização praticamente total do corpo”, diz trecho do documento.

Ao redor do corpo de Yago foram posicionados objetos de cunho religioso, encontrados “após ritual demoníaco”, afirma, na denúncia, o promotor de Justiça João Augusto de Sanctis Garcia.

José Henrique Silva Santos, de 30 anos, também conhecido como drag queen Lunna Black, teria admitido à polícia que pagou R$ 10 mil para um assassino de aluguel matar e sumir com o corpo de Yago.

O motivo alegado por ela à polícia seria a cobrança de uma dívida de ao menos R$ 40 mil que Lunna teria com Yago, após não repassar parte dos cachês que a dupla ganhou em trabalhos artísticos feitos em parceria.

Lunna foi presa junto com o cabeleireiro Robson Pereira Felipe e o namorado dele, o pai de santo Lucas Santos de Souza, ambos de 33 anos, por participação no crime. Em mensagens de áudio obtidas pela investigação, Lunna conversou com o pai de santo sobre como iriam pagar o assassino de Yago.

Nas mensagens, feitas nos dias que antecederam o crime, Lunna fala com o pai de santo sobre parcelarem o pagamento ao homem que executaria Yago. “Eu acho que o Pix não faz o valor todo, mas eu posso tentar. Aí, eu transfiro, então”, disse Lunna, em uma das mensagens trocadas com Lucas. Segundo regras do Banco Central, o limite máximo para transferência via Pix é de R$ 3 mil, durante o dia, e de R$ 1 mil no período noturno.

“O rapaz [matador] é assim, já foi conversado com ele. Já foi combinado. Já passei o endereço. O que você mandou, que é do serviço da casa [de umbanda]. Certíssimo. Agora tem que pagar ele, né. Que é para ele já fazer as coisas [homicídio], entendeu?”. afirmou o pai de santo.

Depois da transferência bancária, Lunna manda uma mensagem confirmando que o crime estava encomendado. “Só dando um ok, que amanhã ok [o crime]. Já respondeu [o assassino] e ok”. O diálogo é concluído com um áudio de Lucas: “Ok, então, vou apagar aqui a nossa conversa aqui”.

Yago Henrique França

Yago Henrique França era ator, drag queen e tarólogo. Ele conheceu Lunna Black em um curso de preparação para drag queens, em 2016, na cidade de São Paulo. Ela morava na zona sul da capital e ele, com os pais em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Era filho único.

A amizade evoluiu junto com o curso e ambos criaram um coletivo para levar a arte drag para a periferia de São Paulo, após concluírem a capacitação. Até 2019, a dupla atuou em centros culturais, Centros Educacionais Unificados (CEUs) e em eventos, principalmente na zona leste paulistana.

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“Não dá para falar dele com tristeza, mas com alegria. Ele levava alegria onde chegava. O que mais vou sentir falta do Yago é, justamente, essa alegria de incluir todos e todas em seus shows de diversidade, do companheirismo dele, de estar à disposição para fazer bem para a cultura LGBTQIA+. Ele tinha muito isso, estava enraizado”, afirmou Marcelo Gil, que é fundador da ONG Ação Brotar pela Cidadania e Diversidade Sexual.

Lunna Black (esq) e Yago França, montado como a drag Amélia Lovett