Religião

Sócio de Malafaia que deu golpe em Sasha mostrava baús com ouro

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Vídeo mostra filha de Xuxa e o marido em lancha com sócio do pastor Silas Malafaia. “Sheik” evangélico mostra baús com ouro e teria ficado com cerca de R$ 1,2 milhão de Sasha

(Imagens: reprodução)

Investigado por fraude em um esquema envolvendo moedas digitais, Francisley Valdevino da Silva, conhecido como Francis da Silva, ou “Sheik”, foi sócio do pastor Silas Malafaia numa empresa de “marketing de relacionamento multinível”, a AlvoX, que oferecia recursos tecnológicos para quem quer abrir o seu próprio negócio dentro dos “valores cristãos”.

O esquema de pirâmide disfarçado de “aluguel de criptomoedas” realizado pelo “Sheik” e que teria sido praticado amplamente nos círculos evangélicos brasileiros, contava com um elemento de persuasão bem alegórico e impressionante: dois baús cheios de ouro.

Duas caixas-fortes, uma contendo barras de ouro de 1 kg, e outra com os chamados “zelts”, pequenas bolinhas do metal precioso de 10 gramas, eram expostas para os interessados em “investir” no esquema montado por “Sheik”, que prometia para os novos clientes um retorno de até 13,5% de juros ao mês, um valor estratosférico e totalmente fora dos praticados nos mercados de investimento, que com as altas taxas de juros atuais pagam até 1% para quem coloca suas economias nesses fundos legalizados.

Caixas com ouro mostradas por “Sheik” aos interessados em investir (Reprodução)

Os baús seriam mostrados aos investidores numa sala do 10° andar do edifício onde funciona a Rental Coins, empresa de “Sheik”, em Curitiba, capital do Paraná. O pastor Silas Malafaia, bolsonarista de primeira hora e fiador do líder extremista entre as hostes mais radicais desse grupo religioso, segundo O Globo, seria um dos clientes da empresa fundada por Francis, embora o clérigo negue qualquer envolvimento com criptomoedas.

Bens do Sheik

Advogados de clientes lesados da Rental Coins — uma das empresas de Silva fizeram levantamento dos bens do Sheik. Identificaram que ele tem ao menos um jatinho de R$ 79 milhões e um imóvel comercial em Curitiba avaliado em mais de R$ 2,2 milhões. Os dois bens constam como bloqueados pela Justiça.

A aeronave é um Cessna Aircraft, modelo C680, fabricado em 2008. Com capacidade para transportar nove passageiros, um jatinho desses pode ser encontrado por US$ 15 milhões — equivalente a R$ 79.837.500,00 na cotação de hoje — no mercado de venda de aeronaves usadas.

A aeronave foi transferida para a ITX Administradora de Bens LTDA em 2019, segundo registro da Agência Nacional de Aviação (ANAC). Essa empresa tem como sócio-proprietário Francisley Valdevino da Silva.

Já o imóvel em Curitiba está no nome da Interag Administração de Fundos Ltda, que tem como “administrador” o Sheik das criptomoedas. A propriedade foi adquirida em novembro de 2021 e, desde março de 2022, consta como indisponível por conta de um processo judicial contra a empresa.

Vítimas

As vítimas afirmam que Sheik captou dinheiro, investiu em um ativo digital e sequestrou os recursos, devolvendo para eles uma criptomoeda falsa, chamada Mindexcoin, que não tem valor algum no mercado e não é encontrada em corretoras.

O advogado Jeferson Sarandy Brandão informou que está representando cerca de 200 clientes lesados pela Rental Coin. “E o número não para de crescer. São pessoas que investiram R$ 1 milhão, R$ 5 milhões, mas tem pessoas que me procuraram e disseram que deram R$ 2 mil, R$ 10 mil.”

Entre os clientes de Brandão, estão estrangeiros dos Estados Unidos e Itália. Segundo o advogado, já foram identificadas mais de 100 empresas com as quais o Sheik tem ligação, que teriam sido usadas para ocultar bens.

A defesa dos clientes lesados já ingressou com diferentes pedidos de arresto de bens em tutela antecipada. “A gente está monitorando e indo atrás de bens para que as pessoas tenham uma chance para receber, mas o que a gente já sabe é que não tem dinheiro para todo mundo”, relata Brandão.

Golpe em Sasha

Sasha Meneghel, filha da apresentadora Xuxa, e seu marido, o cantor gospel João Figueiredo, levaram um golpe de R$ 1,2 milhão. Eles se conheceram num culto evangélico na igreja evangélica Bola de Neve e a partir dali passaram a tratar dos “investimentos”.

Inicialmente, o cantor gospel investiu R$ 50 mil em criptomoedas e, após receber o pagamento pontual dos juros prometidos, convenceu Sasha a aplicar R$ 800 mil. Mais tarde, ela acrescentou mais R$ 400 mil ao investimento.

Como não tiveram o retorno prometido, Sasha e o marido entraram com um processo por dano moral e material alegando fraude. O processo corre na 14ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná.

Francis, ou “Sheik”, é ligado ao campo evangélico e tinha grande influência nesse segmento religioso. Ele estimulava a transferência dos valores para “aplicações” prometendo até 13,5% de juros ao mês, um valor absolutamente irreal no mercado financeiro, onde boas aplicações, com o aumento das taxas de juros, têm obtido em torno de 1%. No caso do golpe aplicada em Sasha, a promessa era de um retorno de 8,5% ao mês.

Ao O Globo, o “Sheik” disse que as empresas de seu grupo estão passando por uma reestruturação e, por isso, ele deixou de pagar os rendimentos mensais prometidos aos investidores. Em nota, ele afirmou que em outubro retomará os pagamentos.

Um vídeo divulgado pelo jornal O Globo mostra Sasha e João, a bordo de uma lancha com o “Sheik”. As imagens foram feitas antes de o casal entrar com um processo contra Francisley por dano moral e material alegando fraude.

Sasha e o marido, João Figueiredo, aparecem em vídeo na lancha do ‘sheik das criptomoedas’ (Reprodução)

Na gravação publicada pelo jornal, é possível ver Sasha, João, Francisley e outras pessoas a bordo de uma luxuosa lancha Azimut 56, que tem 17 metros de comprimento e três cabines com cama, além de áreas de estar e jantar, espaço gourmet, cozinha e áreas externas para relaxamento. Na cena, também aparecem baldes com garrafas de vinho.

O grupo canta, animado, a música “Muleque de Vila”, de Projota. Francisley está vestindo camiseta e bermuda e tem um par de óculos pendurado na roupa. Sasha aparece ao fundo, vestindo branco, assim como o marido. Meses antes, João gravou o clipe de “Nasce o Sol”, dirigido pela filha de Xuxa, no estúdio da gravadora Sounder Records, vinculada na época ao grupo InterAG de Francisley, conhecido também como Francis da Silva.

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