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Bolsonaro comenta acusações contra Jair Renan: “Está longe de mim, mora com a mãe”

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Bolsonaro tenta se desvincular de Jair Renan após investigação da PF e diz que não sabe se filho está certo ou errado: "Ele mora com a mãe, há muito tempo está longe de mim. Peço a Deus que o proteja"

(Imagem: Evaristo Sá | AFP)

O presidente Jair Bolsonaro comentou nesta quarta-feira (13) o caso do filho Jair Renan, que, na semana passada, prestou três horas de depoimento à Polícia Federal, em Brasília. Bolsonaro disse que o filho “zero quatro” vive com a mãe, está longe dele “há muito tempo” e “ninguém conhece” o rapaz e que “há muito tempo está longe” do jovem.

Quarto filho do presidente, esse de seu segundo casamento, Jair Renan é alvo de inquérito do Ministério Público Federal desde março do ano passado sob suspeita de tráfico de influência e lavagem de dinheiro. Na semana passada, ele prestou depoimento à Polícia Federal.

O moleque tem 24 anos agora, acho que ninguém [aqui] conhece ele. Vive com a mãe. Há muito tempo está longe de mim, mas recebo ele de vez em quando aqui. Tem a vida dele, não sei se está certo ou se está errado, mas peço a Deus que o proteja“, disse Bolsonaro, em um café da manhã com pastores da Assembleia de Deus no Palácio da Alvorada, que contou com a presença de Michelle e da ex-ministra Damares Alves.

O encontro com as lideranças da igreja evangélica, importante fatia do eleitorado do presidente, ocorreu fora da agenda oficial, mas trechos foram transmitidos na rede social de parlamentares.

Bolsonaro mencionou o caso do filho 04 ao se queixar de uma alegada perseguição à família e relembrou o fato de a avó da primeira-dama, Michelle, ter sido presa por tráfico de drogas, o que ele disse ter ficado sabendo pela imprensa.

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Durante a reunião, Damares falou em “guerra espiritual” e em “capeta careca”, sem entrar em detalhes. A segunda expressão é em referência a Alexandre de Moraes, do STF, e arrancou risada dos participantes.

O ministro é alvo constante de Bolsonaro e de seus aliados. “É um novo tempo, mas saibam, o inferno está com muita raiva de todos nós. E o inferno está se levantando. E o inferno mandou uns capetas, que vocês não têm nem ideia. Tem um até careca“, disse a ex-ministra e pastora.

Nos bastidores, há relatos de uma relação turbulenta entre Jair Renan e a primeira-dama.

Em agosto passado, causou repercussão no meio político a mudança de Jair Renan e da mãe para uma mansão avaliada em R$ 3,2 milhões em um bairro nobre da capital federal.

Ainda que tenha tentado deixar claro seu distanciamento do filho, Bolsonaro minimizou o caso em apuração e citou que o pedido de abertura do inquérito ao Ministério Público foi feito por deputados da oposição.

A gente apanha o tempo todo“, disse. “Pega uma ida dele [Jair Renan] ao ministério, daí tinha um grupo lá de pessoas tentando vender, vender é jeito de falar, projeto de novos tipos de carros popular. E daí foi suficiente para falar em tráfico de influência“, completou.

Doação de carro avaliado em R$ 90 mil a empresa de eventos

O inquérito foi aberto em março do ano passado, a pedido do Ministério Público Federal, com base em uma denúncia apresentada por parlamentares de oposição ao governo.

A apuração pela Polícia Federal teve início com a doação de um carro elétrico, avaliado em R$ 90 mil, da empresa Neon Motors, ligada a Gramazini a um projeto parceiro da empresa de Jair Renan, a Bolsonaro Jr. Eventos e Mídia.

A Bolsonaro Jr. e o projeto MOB, de propriedade do ex-personal trainer de Jair Renan, Allan Gustavo Lucena do Norte, inauguraram em outubro de 2020 o empreendimento Camarote 311, no estádio Mané Garrincha, em Brasília.

Jair Renan e Allan Gustavo Lucena na inauguração do Camarote 311

O veículo foi doado pelos grupos WK, de propriedade de Wellington Leite, e a empresa Gramazini Granitos e Mármores Thomazini. Ambos tiveram suas logomarcas impressas na decoração da parede de entrada do escritório de Renan, com outras empresas que apoiaram a iniciativa empresarial.

Em um vídeo, Allan aparece saindo do carro que, segundo ele, foi doado pelas empresas “Gramazine e grupo WK”.

(Imagem: reprodução)

Representantes da Gramazini Granitos também conseguiram um encontro com uma autoridade do governo federal, como revelou a Folha.

Eles foram recebidos pelo então ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, no dia 13 de novembro de 2020, reunião agendada pelo assessor especial da Presidência Joel Fonseca.

Na ocasião, foi apresentado ao ministro Marinho um projeto de casas populares desenvolvido em parceria com o WK. O filho de Bolsonaro participou do encontro.

A Folha também mostrou que a cobertura com fotos e vídeos da festa de inauguração da empresa de Jair Renan foi realizada gratuitamente por uma produtora de conteúdo digital e comunicação corporativa que presta serviços ao governo federal.

Somente em 2020, a empresa produtora Astronautas Filmes recebeu R$ 1,4 milhão do governo Bolsonaro.

A abertura da empresa de Renan foi revelada pela revista Veja.

Segundo a revista, Renan solicitou ao gabinete da Presidência da República uma audiência para tratar de interesses comerciais de um de seus patrocinadores.

Na semana passada, Jair Renan prestou depoimento de cinco horas à PF. Antes, ele concedeu entrevista ao SBT, em que disse estar revoltado e negou as acusações.

​”Eu me sinto revoltado com tudo isso que tá acontecendo. Nunca recebi nenhum cargo, nenhum dinheiro, nunca fiz lavagem de dinheiro, e estão tentando me incriminar numa coisa que não fiz“, afirmou.

A respeito da reunião com empresários no ministério, o advogado do filho do presidente, Fred Wassef, disse que ele “entrou mudo e saiu calado“, e que não promoveu a reunião.

Se eventuais pessoas desejaram ou quiseram usar o seu nome e falam coisas que não existem, não cabe a nós fazer nada“, afirmou a jornalistas quando ele foi à PF.

Mãe de Jair Renan, Ana Cristina Valle também é investigada, mas por “rachadinha” no Rio de Janeiro. Suspeita de operar do esquema no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro, ela teve sigilo bancário e fiscal quebrado em agosto do ano passado.

As relações familiares vão além da segunda esposa de Bolsonaro: ela teve dez familiares empregados no antigo gabinete do então deputado estadual e hoje senador Flávio Bolsonaro.

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Bolsonaro e Ana Cristina se divorciaram em junho de 2008, após divórcio litigioso com acusação de furto e relato de patrimônio não declarado do casal a partir de outubro de 2007.

Com FolhaPress e G1

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