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Ucranianos proíbem brasileiros de lutar na guerra contra a Rússia

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Grupo de 35 brasileiros que estava de malas prontas para lutar na Ucrânia cancelou a viagem depois de ser informado que brasileiros não são mais bem-vindos nas forças de defesa do país. "Fomos excluídos e não podemos mais integrar a legião estrangeira. O sentimento é de vergonha", lamenta ex-militar brasileiro

Brasileiros filmam ações em suposto combate na Ucrânia (reprodução)

A Ucrânia rejeitou a ‘ajuda’ de 35 brasileiros que estavam de malas prontas para viajar e lutar contra a Rússia na guerra. Um porta-voz da Legião Internacional informou que “os brasileiros não são bem vindos nas forças de defesa do país”.

Ao entrarem em contato com representantes ucranianos por e-mail para combinar um encontro na Polônia, país vizinho à Ucrânia, os brasileiros foram informados de que o Brasil está em uma lista de países cujos cidadãos não são mais aceitos na Legião Internacional.

Nenhuma razão foi oficialmente apontada para a inclusão do Brasil na lista que conta com outros países, como a própria Rússia, Belarus e todos os países do continente africano.

A desconfiança de um dos coordenadores do grupo, Bruno Bastos, é de que isso acontece devido à dubiedade de Jair Bolsonaro em relação ao conflito. “Nem como voluntários para médico e socorrista eles estão aceitando. É vergonhoso. Que aperto de mão foi aquele entre Bolsonaro e Putin? Por que Bolsonaro não se pronuncia, não fala? O que está havendo?”, questionou.

A posição brasileira em relação à guerra na Ucrânia é de fato dúbia. Na ONU, o Brasil se juntou à maioria dos países e condenou a invasão. Jair Bolsonaro, entretanto, não fez isso até hoje e tem evitado criticar a Rússia.

ÁUDIOS

Os próprios brasileiros que foram rejeitados na Legião Internacional divulgaram áudios nas redes sociais das conversas que tiveram com os ucranianos. “É da legião estrangeira? Estou me preparando para ir à Ucrânia, mas tive a informação de que vocês não estão mais aceitando voluntários do Brasil. Isso é verdade?”, perguntou em inglês o ex-militar mineiro Fabio Júnior de Oliveira, 42, que serviu como sargento das Forças Armadas entre janeiro de 2005 e novembro de 2006.

“Sim, senhor. Infelizmente, os voluntários do Brasil e de alguns outros países não podem mais se juntar à legião”, respondeu um homem que se apresentou como representante da unidade formada por estrangeiros.

“Mas eu não entendo. Eu tenho experiência militar. E eu…”, continuou Fábio, interrompido em seguida: “Eu entendo, senhor. Muito obrigado. Mas [os voluntários] do seu país não podem ser aprovados para se unir à legião”.

Fábio disse ter tomado a decisão de telefonar diretamente para a legião no último sábado (19) após ter recebido a informação de que um paramédico com experiência militar e outros dois brasileiros teriam sido descartados pelas tropas ucranianas na região de Lviv, perto da divisa com a Polônia.

No dia seguinte, disse ter ligado para a Embaixada da Ucrânia na Polônia. E, nesta segunda-feira (21), informou ter entrado em contato com a Embaixada do país invadido no Brasil. Em ambos os casos, onde obteve a mesma resposta.

“Eu tenho todos os emails confirmando o alistamento. Mas a situação mudou depois do pronunciamento do ministro russo e do silêncio de Bolsonaro. Fomos excluídos e não podemos mais integrar a legião estrangeira por causa da posição do presidente em relação à guerra na Ucrânia. O sentimento que a gente tem é de vergonha”.

Sergei Lavrov, ministro de Relações Exteriores da Rússia, afirmou recentemente que o Brasil está na “lista de países que não dançarão ao som dos Estados Unidos”.

‘BLOGUEIRINHOS’

Na última semana, perfis de diversas nacionalidades culparam brasileiros que foram à Ucrânia para lutar contra os russos por facilitar ataques das tropas de Vladimir Putin.

Publicações dos brasileiros nas redes sociais exibindo as bases militares ucranianas e até marcando o local exato da localização teriam contribuído para o lançamento de mísseis pelas tropas russas, causando dezenas de mortes.

Alguns mercenários dos EUA chegaram a afirmar que os brasileiros estariam mais interessados em se promover, com o exibicionismo nas redes sociais, do que em ajudar a Ucrânia na guerra.

“É incrível como são descuidados e estúpidos os ‘voluntários’ brasileiros na legião estrangeira. Outro mercenário, capturado anteriormente perto de Lviv, também mantém discretamente um perfil aberto no Instagram, encantando regularmente os seus seguidores com novas histórias”, escreveu, em inglês, o internauta identificado como Spriter.

“O fato dos brasileiros irem para uma guerra e postarem em rede social já é burrice. Mas burrice também é achar que não há serviço de inteligência na Rússia, uma das nações que tem histórico de excelência em espionagem”, observou um internauta.

Em entrevista à CNN de Portugal, o Coronel Fernando Montenegro criticou e classificou os mercenários brasileiros como ‘vaidosos caçadores de like’. “A cyber inteligência da Rússia faz um rastreamento dessas pessoas”, disse.

Uma reportagem da BBC descobriu que os mercenários são contratados em várias partes do mundo por até US$ 2 mil por dia (mais de R$ 10 mil) para ajudar no resgate de famílias e no enfrentamento aos inimigos russos.

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