Lula

Lula a os palavrões

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Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político

Assisti ao Lula no programa(?) Podpah, no YouTube. Eu já havia dito, o homem está bem. Malhado, corado, bonito. Pra delírio dalgumas (e dalguns também, por que não?), fala marotamente sobre sexo. Deu dicas de ginástica e alimentação saudável.

Falou da prisão, do período como Presidente, de Política, da atual (des)política, da anomalia política (palavras dele) que é o Bolsonaro, da sua infância… enfim, ele continua se comunicando muito bem. Segue explanando suas ideias com carisma e simpatia. Ele conquista.

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Mas algo me incomodou.

Lula falou muito palavrão. Não gosto disso. É incondizente com a sua elegância.

Eu não conhecia o programa (nem sei se é assim que chama as atrações com esse formato). Mas o cenário, o roteiro, o figurino dos apresentadores, enfim, me deixou claro que é uma atração voltada aos jovens. Não me perguntem o intervalo de idade da juventude. Mas certamente alguém que escreve juventude deixou de ser jovem há algum tempo.

Digo isso pra tentar entender os motivos que levaram o presidente a essa verborragia (quando digo presidente, me refiro ao Lula. Não àquela figura muito mais verborrágica que está no Palácio do Planalto agora).

Eis um leigo analisando as expressões faciais e comportamentais, mas Lula não parecia à vontade quando usava algum palavrão. Não lhe saía natural, me parece. Não sou totalmente contra as palavras de baixo calão. Elas muitas vezes são necessárias discursiva e literariamente. Mas Lula, na maioria das vezes em que as empregou, o fez de modo desnecessário e, repito, forçoso. Presidente, certa feita, Lula, num discurso, foi didático: “eu quero saber se o povo tá na ‘merda’, pois vou ajudá-lo.”. A escatologia saiu naturalmente e ao calor do discurso. E sintetizou sua ideia, sua preocupação. Os “porras” que lhe saíram no programa, contudo, não explicaram muita coisa.

Posso estar fazendo ilações (vou usar este termo rebuscado pra compensar o que pus entre aspas no parágrafo acima), mas acho que o Lula pode ter pensado que os jovens brasileiros se identificam com palavrões, que falá-los incondicionalmente irá lhe aproximar deles. Não, presidente. Os jovens, estudantes, em sua maioria, que fizeram um curso superior talvez graças aos programas de incentivo ao estudo criados pelo senhor, querem justamente educação. E “fino trato”, como o senhor mesmo se definiu nesta mesma entrevista (sou um homem de fino trato, disse. Eu sigo concordando).

Mas eu continuo a supor.

Talvez Lula quisesse atingir os simpatizantes do Bolsonaro.

Bem, esses sim, ao contrário dos estudantes, lhes agradam os palavrões. Essa turma confunde grosseria com simplicidade. Acha que ignorância é empatia. Esse pessoal acredita que, quando Bolsonaro não segue a liturgia do cargo e desrespeita pessoas e instituições, está sendo apenas humilde (na verdade, ao se julgar superior ao cargo, é, além de patético, arrogante).

Quero crer que, um pouco mal assessorado neste caso específico, Lula mudou um pouco seu modo de falar visando ao segundo público. Mas, ainda assim, foi um erro.

É mais do que legítimo o Lula tentar reverter os votos bolsonarísticos. É necessário! Mas não é porque Bolsonaro baixou nossa régua de elegância pra baixo do esgoto (pra não dizer um palavrão), que o Lula deve continuar a fazê-lo.

A gente quer o Lula justamente pra voltarmos a ser respeitados no cenário mundial. Queremos voltar a colocar nossos jovens nas faculdades. Quando eu era jovem, entrei no curso superior graças a um programa criado pelo Lula. Além de várias destruições econômicas e sociais, que o Lula citou, cito eu uma: Bolsonaro acabou com a nossa elegância, com a nossa fineza, com o nosso, cito o Lula de novo, “fino trato”.

Não, presidente Lula, queremos que nossa régua da educação (em todos os sentidos) volte a subir. Retome com a sua elegância e bom trato nas entrevistas, sejam elas destinadas a que público for, jovens, estudantes, idosos ou bolsonaristas que estão esquecidos de como a elegância e educação é parte necessária da estética social.

Puta que pariu, Lula, nós precisamos da tua elegância!

*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”

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