Tragédia

Por que todos a bordo do avião de Marília Mendonça morreram?

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Se o avião de Marília Mendonça parecia pouco danificado, por que todos morreram? Esse é um dos questionamentos mais recorrentes a respeito da tragédia que deixou o Brasil de luto. Gerente técnico da Associação Brasileira de Aviação Geral explica o que poderia ter ocorrido

Imagem: reprodução

A queda do avião de Marília Mendonça na sexta-feira (5) em Caratinga, no interior de Minas Gerais chamou atenção pelo fato de o avião não ter ficado completamente destruído, como é comum ocorrer em quedas de aeronaves.

A aeronave caiu em uma cachoeira a quatro quilômetros do aeroporto, e segundo imagens do local do acidente, é possível ver que a estrutura principal do avião não ficou destroçada, e apenas a cauda se rompeu. Ao observar uma cena como essa, é comum pensar que o avião fez um pouso forçado e que, com os aparentes danos não tão severos, quem estava a bordo conseguiria sair com vida ou ferimentos leves. Mas por que todos a bordo morreram?

A aeronave

O especialista em aviação, comandante Luiz Monterani, afirma que o avião modelo Beechcraft King Air C90A, é um dos mais confiáveis da categoria e era seguro de ser operado.

É um avião conceituado. É excelente avião. Foi conferido e checado em 2020. É um avião que tem dois motores, consequentemente são necessários dois pilotos. É uma aeronave que tem capacidade de fazer voos noturnos, voos por instrumento, é um excelente avião, que é fabricado repetidamente em razão da sua qualidade”, explica.

Questionado sobre o que pode ter ocorrido, já que o avião caiu muito perto do aeroporto e não ficou totalmente destruído, Luiz Monterani deu um paranoma geral das possibilidades.

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“Um avião de dois motores ele voa com um motor só. Ele voa até sem motor. Ele vai baixando, até que o comandante encontre um local seguro para fazer a aterrissagem. Neste caso específico, ele se acidentou em uma cachoeira. O que dá indícios de local com montanhas. Isso pode levar a crer que o tempo pode ter tido influência grande neste acidente”, disse.

O comandante ainda explicou quais dificuldades podem ter ocorrido no acidente. “Não houve colisão de frente. Em região de montanha não tem possibilidade de ir parando devagar, ele vai parar instantaneamente em razão dos obstáculos. O que faz ter uma aceleração de “G” muito grande e o nosso organismo não suporta uma parada brusca. Esse avião deveria estar em uma velocidade de uns 200km/h, uma velocidade de aproximação. Se houve uma parada brusca, é muito forte para o nosso organismo. Quem pode informar isso é o SIPAER [Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos]”.

Luiz Monterani explica ainda que a região do aeroporto não é considerada de bom acesso. “Ali também é um aeroporto que não tem os auxílios de segurança que possa trazer um respaldo para o piloto para fazer uma aproximação segura. Ainda é cedo análises detalhadas”.

Sobre uma possível falta de combustível, hipótese levantada devido a não explosão da aeronave, o comandante Luiz Monterani explica que o combustível usado no avião e o local contribuíram.

O motor a jato usa querosene. Se você pegar uma lata de querosene e colocar fogo, o fósforo vai apagar. O perigoso é o vapor do combustível. Quando o combustível vaza e cai numa região quente, próximo ao motor ou ao trem de pouso, e dali se transforma em vapor, aí se torna explosivo. Neste acidente houve vazamento, mas o combustível deve ter sido levado pela água ou ter ficado numa rocha fria, ele então não vira vapor e não explode”, concluiu.

Queda na vertical

Caso o avião faça um pouso forçado, geralmente, as forças se distribuem entre a movimentação vertical e a horizontal da aeronave. É a trajetória de pouso comum de um avião, que desce aos poucos enquanto avança para a frente, mas agravada pelo fato de isso ocorrer em um local improvisado, e não uma pista.

O que poderia ter ocorrido com o avião de Marília Mendonça é uma perda de sustentação, e ele teria caído na vertical, e não voando para a frente, como costuma ocorrer. Isso é apenas uma especulação, mas serve para entender um pouco mais sobre a força que o corpo humano recebe nesse tipo de queda.

Se fosse um pouso forçado e o avião tivesse pousado e parado naquela posição, provavelmente, todos estariam vivos“, diz o piloto Raul Marinho, gerente técnico da Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral).

Aparentemente, o avião caiu de maneira abrupta, perdendo a sustentação e girando em relação ao solo. Essa rotação seria como a de um ventilador de teto. Se fosse isso que ocorreu, o avião teria caído e, ao tocar no solo, sofrido uma desaceleração brusca, ocasionando a morte das pessoas a bordo. Mas isso é apenas uma hipótese“, afirma o piloto.

Órgãos internos em colisão

De acordo com Adnamare Tikasawa, mestra em terapia ocupacional neurológica, a desaceleração é uma das principais responsáveis pelas mortes quando acontece uma diminuição brusca da velocidade de um corpo em movimento. Isso ocorre quando há uma interrupção súbita de um movimento.

Segundo a profissional, o corpo da pessoa fica parado, fixo no objeto em movimento (no caso, o avião), mas os órgãos internos mantêm a velocidade. Os órgãos não estão totalmente presos e por isso acabam se chocando com muita força contra ossos, músculos e pele.

Dependendo da intensidade do choque, órgãos internos como o baço e o fígado, podem se romper, de acordo com Adnamare. Já o cérebro tende a entrar em choque contra a caixa craniana, formando coágulos hematomas e lesionando o órgão.

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Ainda pode ocorrer um deslocamento do cérebro dentro da calota craniana o que provoca um estiramento da base do crânio onde está localizado o tronco cerebral, diz a terapeuta.

Também é comum que ocorram múltiplas fraturas, como a da coluna cervical. “Quanto maior a velocidade, maiores são os danos“, diz Adnamare.

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informações de Alexandre Saconi, do Uol e da Rádio Itatiaia

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