Economia

Quem é o bilionário por trás da Evergrande que pode ‘falir o mundo’?

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O magnata nasceu em uma família de classe trabalhadora, mas logo cresceu em cargos de liderança e tentou até mesmo bater a Tesla, de Elon Musk

Hui Ka Yan (Imagem: 24htech)

O colapso da gigante imobiliária Evergrande tem preocupado a economia mundial. Com dívidas calculadas em US$ 300 bilhões (R$ 1,5 trilhão), a empresa foi chamada até mesmo de “Lehman Brothers” da China – em alusão ao banco norte-americano que, ao falir, deu início à crise de 2008.

Quem assiste a tudo isso do alto de sua cadeira de presidente e fundador é Hui Ka Yan. Aos 62 anos, o magnata foi classificado em março deste ano como o 53º homem mais rico do mundo, possuindo nada menos que R$ 148 bilhões.

Depois que as ações da empresa despencaram mais de 80%, a Forbes estima que o magnata tenha reduzido sua fortuna para cerca de R$ 59 bilhões. Já a Bloomberg calcula o patrimônio em R$ 40 bilhões. De um jeito ou de outro, Hui continua extremamente rico, mas nem sempre foi assim.

Antes do sucesso

O magnata nasceu em uma família de classe trabalhadora na vila rural da província chinesa de Henan. Após concluir o ensino médio, ele atuou em uma fábrica de cimento e em um depósito – no qual seu pai, um soldado aposentado, também trabalhava. Em 1978, foi para o Instituto Wuhan de Ferro e Aço, onde concluiu sua graduação em metalurgia.

Assim que formado, Hui foi contratado por uma oficina de tratamento térmico, onde conheceu sua esposa, Ding Yumei, com quem tem dois filhos. Ele subiu rápido na hierarquia da empresa e, em 1985, tornou-se o diretor. Sete anos depois, Hui pediu demissão e mudou-se para Shenzhen, onde assumiu cargos de liderança em uma empresa comercial.

Em 1996, foi para Guangzhou e fundou o Grupo Evergrande.

A Evergrande

Focada na construção de apartamentos em arranha-céus, a Evergrande movimentava, em 2020, mais de R$ 406 bilhões em receita por ano. A gigante se espalhou por 280 cidades e possui, atualmente, mais de 200 mil funcionários em tempo integral.

Entre 2014 e 2020, as dívidas começaram a aumentar, mas isso não impediu o crescimento da fortuna de Hui. Segundo a Forbes, o patrimônio do magnata atingiu R$ 193 bilhões em 2019, ano em que as dívidas da Evergrande aumentaram R$ 228 bilhões.

A riqueza construída por Hui graças aos dividendos da empresa foi tão grande que, mesmo que o valor de suas ações chegue a zero, sua fortuna ainda o tornaria um dos 100 homens mais ricos da China, conforme observou Hank Tucker, repórter da Forbes.

Investimentos diferenciados e técnico Felipão

Hui não se contentou apenas com o mercado imobiliário e foi atrás de outros investimentos, como a compra de um time de futebol, chamado Guangzhou Evergrande FC. Para treinar os jogadores, o magnata contratou o ex-técnico da Seleção Italiana, Marcello Lippi, e o ex-técnico da Seleção Brasileira, Luiz Felipe Scolari, o Felipão – responsável por trazer o quinto título da Copa do Mundo ao Brasil.

A gigante também se aventurou no mercado de água engarrafa, turismo, saúde, finanças e construção de parque de diversões destinado a atender crianças com menos de 15 anos com atrações físicas e online.

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Em 2019, a empresa se desafiou a vencer a Tesla, de Elon Musk, no mercado de veículos elétricos. Foram gastos bilhões em pesquisas e seis modelos foram anunciados um ano mais tarde, com a promessa de tornar a Evergrande a maior produtora desse tipo de automóvel dentro de cinco anos. No entanto, nenhum chegou a ser vendido.

Relação de Hui com o governo chinês

O bilionário é membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, um grupo que assessora o governo chinês e seus corpos legislativos. Quando a crise na Evergrande começou a preocupar a economia como um todo, os regulares da China enviaram uma reprimenda à imobiliária, pedindo a correção dos problemas de empréstimo.

Mas apenas um mês antes disso, Hui foi fotografado posando na Praça Tiananmen no 100º aniversário da China, um sinal de que ele continua em boas condições com o partido no poder.

Entretanto, pesquisadores de Montreal que estudam a política da elite chinesa disseram ao The Financial Times que receber um convite para o aniversário significava que Hui estava no “radar” do líder Xi Jinping, o que geralmente é um mau presságio.

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