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A pica-retagem de um golpe

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É fato que o ato de ontem nas ruas teve bastante gente. Entretanto, é fato também que teve muito menos gente do que se imaginava que teria.

Imagem: Redes sociais

Lucio Massafferri Salles*

É fato que o ato de ontem nas ruas teve bastante gente (7/09/2021). Entretanto, é fato também que teve muito menos gente do que se imaginava que teria.

A imaginação de milhões de brasileiros e não brasileiros foi turbinada pela propaganda intensa e de longo alcance que foi despejada em diversos canais de mídia, plataformas sociais e de comunicação instantânea, no melhor estilo “choque e pavor” (Shock and Awe) [1].

Através desses dutos de mídia e hipermídia foram injetadas fortes doses de insuflação e excitação na chamada extrema-direita e simpatizantes (excitação com direito a uma grande e simbólica “piroca inflável” verde-amarela nas ruas) [2], assim como também fortes doses de medo paralisante no restante da população (as esquerdas e demais). E aqui a alusão não é ao fato da pessoa simplesmente não ter ido ontem às ruas manifestar a sua oposição ao ato golpista, mas ao fato de não ter ido porque teve medo; há aqui uma sensível diferença.

Vale lembrar também que o medo paralisante, que é um ingrediente presente em quase todas as intensidades das angústias sentidas, não corresponde exatamente ao medo comum. Existem situações em que ter medo é algo muito bom, como, por exemplo, ter medo na hora exata em que se deve mesmo ter medo.

Medo, caos e confusão

É muito prático conseguir não somente inflamar como viralizar medo e expectativa tendo a finalidade de administrar/paralisar as percepções de alvos-humanos, ligados com os seus dedos e olhos fixos no Whatsapp, Telegram, Twitter, nessa paisagem mundial atual em que grande parte das pessoas se encontra constantemente interconectada. Os nazistas inauguraram uma geração estratégica de ataque de alvos aperfeiçoando as operações psicológicas e as táticas de propaganda para provocar caos, confusão e medo, usando para isso o maquinário e as tecnologias das décadas de 30/40.

Hoje estamos na era digital às portas do 5G, a era já estabelecida dos recortes e das colas de escrita, fala, áudios, videos e imagens, visando montagens e rápidas construções de realidades que servem aos fins mais diversos.

Provavelmente acordou com gosto de ressaca quem, vibrando ou sofrendo, imaginou antecipadamente que ensandecidos negacionistas invadiriam Embaixadas, Tribunais e o Congresso ontem, dia 7 de setembro.

*Guerras de Informação – A Arquitetura do Caos II (Portal Fio do Tempo)

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Notas:

1- Sobre as operações de “choque e pavor” [Shock and Awe]: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0404200330.htm

2-Soube-se hoje que a presença do falo inflável foi uma zoação/trollagem de estudantes infiltrados no ato golpista: https://www.brasil247.com/tanostrends/piroca-verde-e-amarela-foi-brincadeira-de-estudantes-infiltrados-no-ato-golpista

*Lucio Massafferri Salles é filósofo, psicólogo e jornalista. Doutor em filosofia (UFRJ), mestre em filosofia (UFRJ), especialista em psicanálise (USU) e ativista do Movimento Software Livre. É criador do Portal Fio do Tempo (You Tube).

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