Tortura

Rodrigo Pilha é torturado na prisão: “Não tem vergonha de ser um vagabundo petista?”

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Rodrigo Pilha continuou sendo torturado mesmo após ter desmaiado. Agentes penitenciários demonstraram devoção ao presidente Jair Bolsonaro e afirmaram que "é assim que petista é tratado na cadeia". Os funcionários ainda tentaram provocar indisposição entre o ativista e outros detentos

Rodrigo Pilha ao lado do filho

Preso desde 18 de março por protestar com faixa de “Bolsonaro Genocida”, o ativista Rodrigo Grassi Cademartori, conhecido como Rodrigo Pilha, foi torturado e humilhado no Centro de Detenção Provisória (CDP) II de Brasília, onde ficou 14 dias preso, até ser transferido para o Centro de Progressão Penitenciária (CPP), também no Complexo Penitenciário da Papuda.

Em relatório médico, assinado em 23 de março, Pilha se queixava de lesão contusa no membro superior direito e coxa direita. O exame clínico constatou equimose. O diagnóstico, que integra o inquérito, é semelhante a hematomas e indica a presença de manchas na pele geralmente provocadas por traumas.

As agressões contra Pilha na prisão promovidas por agentes do estado já haviam foram relatadas pelo jornalista Guga Noblat. Nesta semana, o também jornalista Renato Rovai obteve mais detalhes sobre o crime.

“Enquanto esteve na Polícia Federal prestando depoimento, Pilha foi tratado de forma respeitosa, mas ao chegar no Centro de Detenção Provisória II, área conhecida como Covidão, em Brasília, alguns agentes já o esperavam perguntando ‘quem era o petista'”, relatou Rovai.

“A recepção de Pilha foi realizada com crueldade. Ele recebeu chutes, pontapés e murros enquanto ficava no chão sentado com as mãos na cabeça. Enquanto Pilha estava praticamente desmaiado, o agente que o agredia, e do qual a família e advogados têm a identificação, perguntava se ele com 43 anos não tinha vergonha de ser um vagabundo petista. E dizia que Bolsonaro tinha vindo para que gente como ele tomasse vergonha na cara”, conta.

“Na cela, Pilha foi recebido pelos outros presidiários com solidariedade e respeito. Mas durante à noite esses mesmos agentes foram fazer uma blitz na cela e deixaram todos pelados e os agrediram a todos com chutes e pontapés. Com Pilha, foram mais cruéis. Esparramaram um saco de sabão em pó na sua cabeça, jogaram água e depois o sufocaram com um balde. Todos foram avisados que estavam sendo agredidos por culpa de Pilha. ‘Do petista que não era bem-vindo na cadeia'”, afirma Rovai.

Rodrigo Pilha foi o único dos cinco presos que permaneceu detido após estender a faixa “Bolsonaro Genocida” em frente à Esplanada dos Ministérios. A faixa carregada durante o protesto continha um ilustração do chargista Aroeira. O ato era um espécie de desagravo ao chargista, perseguido após fazer um desenho associando Bolsonoro à suástica. O símbolo remete ao regime nazista, que foi responsável por uma política de extermínio de milhões de judeus, negros e comunistas e ciganos. Policias militares, no entanto, reprimiram o ato e encaminharam os manifestantes à Superintendência da Polícia Federal, onde foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional (LSN).

“Sequestrado pelo estado”

A prisão de Pilha provocou indignação em diversos setores. Artistas, comunicadores, lideranças políticas e representantes de movimentos sociais protestaram pela liberdade do ativista. O ator José de Abreu contestou a parcialidade da Justiça que, segundo ele, “tem servido a um lado e está cada vez mais politizada”.

“Sumiram com a carteira de identidade do Pilha e ele não pode usufruir da liberdade durante o dia para ir ao trabalho, porque ele não tem como se identificar. Isso é uma coisa maluca, ele está praticamente sequestrado pelo Estado”, denuncia o ator. “Se é ele que está (preso), como é que ele tem se identificar para poder sair, se quando foi preso sumiram com a carteira de identidade dele?”, questiona. “Estamos vivendo um momento histórico extremamente difícil”.

O ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão também criticou o uso da LSN, redigida durante a ditadura civil-militar, para “perseguir” opositores do governo federal. “É um tipo penal anacrônico, fora de época. O desacato como crime de ação pública é o absurdo dos absurdos. Significa que o cidadão tem que fazer caramuru para o policial. O que numa democracia é absolutamente incabível”.

A jurista Gisele Cittadino, integrante do Grupo Prerrogativas (Prerrô) e da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) também alertou que a prisão de Rodrigo Pilha não está relacionada à faixa “Bolsonaro genocida” e tampouco pelo episódio em que foi acusado de “desacato”. “Rodrigo Pilha na verdade está preso porque é um ativista de esquerda”, enfatizou. “Nós vivemos, e sabemos disso, na fronteira de um Estado de exceção que convive paradoxalmente em uma democracia. A nossa democracia, pelo acúmulo de episódios desse tipo, a cada dia se fragiliza.”

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