Mulheres violadas

Morte da advogada Izadora Mourão tem reviravolta com possível envolvimento da mãe

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Advogada Izadora Mourão foi assassinada pelo próprio irmão, o jornalista João Paulo Mourão. Mas investigações revelam que a mãe pode ter sido a mentora do crime. Plano funerário foi quitado uma semana antes da morte

A advogada Izadora Mourão

A advogada Izadora Mourão, de 41 anos, foi assassinada no último dia 13 de fevereiro no município de Pedro II (PI). A mulher apresentava perfurações de faca no pescoço e foi encontrada sem vida em um quarto na casa da mãe, dona Maria Derci.

No dia 15 de janeiro, a Polícia prendeu o jornalista João Paulo Mourão. Ele é irmão de Izadora e apontado pelos investigadores como o autor do assassinato.

Após passar por audiência de custódia, o Tribunal de Justiça do Piauí (TJ-PI) decidiu manter o homem preso. Segundo o delegado Francisco Costa, o acusado preferiu se manter em silêncio. “Ele não fala, não confessa”, relatou.

Entre os objetos de Izadora, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) encontrou uma carta que João Paulo escreveu para a irmã.

Na mensagem, o jornalista comunica à advogada para nunca mexer em suas coisas sem permissão e nem criar “confusão” envolvendo o seu nome ou o da mãe deles. A Polícia Civil acredita que os dois possuíam desavenças devido a questões patrimoniais.

“Pare de criar confusão e se prejudicar. Cuide-se, esqueça a vida alheia, cuide bem dos seus filhos, procure organizar-se em sua vida. Lembre-se que temos uma mãe já de idade e um irmão especial para cuidarmos”, escreveu o irmão.

O crime

As investigações apontam que, após matar a irmã com sete golpes de faca em seu quarto, o irmão teria ido dormir no quarto da mãe.

Maria Derci, ao encontrar a filha machucada no quarto, segundo a polícia, ligou para a empregada doméstica da casa e ordenou que ela lavasse o quarto onde aconteceu o crime.

“Lavaram o quarto, o sangue. Contudo, foram requisitadas perícias e o sangue humano, mesmo sendo lavado, deixa resquícios que a perícia criminal conseguem detectar”, disse o delegado.

A mãe, segundo o DHPP, teria pedido ainda que a empregada doméstica dissesse aos policiais que o filho estava dormindo no momento do crime, criando um álibi para o jornalista.

Empregada doméstica

A empregada doméstica revelou detalhes da conversa que teve com a mãe de Izadora após o crime. “Ela me ligou pedindo para eu ir lá. Eu perguntei o que estava acontecendo e ela disse ‘não, vem aqui, vem aqui que quando chegar aqui tu vê’. Aí eu fui, cheguei lá, né?!”, contou a empregada.

A mulher, que preferiu não ser identificada, afirmou que se a patroa tivesse relatado que Izadora havia sido esfaqueada, ela teria ligado para o Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência].

“Na hora que apertei a campainha ela já veio, abriu o portão e já foi dizendo que entrou uma mulher lá, deu uma facada nela e ela estava desmaiada. Fiquei desesperada porque eu gostava muito da Izadora”, continuou a doméstica.

A empregada contou que gritou para que a mãe de Izadora chamasse o Samu e que correu para o quarto da advogada, mas que, quando chegou ao cômodo, a patroa disse que a filha estava no quarto do irmão.

“Eu me sinto hoje… Você nem imagina como é que está o psicólogo da minha cabeça. Porque eles quiseram me incriminar. Porque não era para ela ter me chamado”, desabafou.

A mulher afirmou que a mãe já sabia que Izadora estava morta. “Era para ela ter me pedido pra não pegar nela, mas não, ela viu que fiquei desesperada, entrei já correndo e peguei nela para ver se tinha pulso, porque se ela ainda tivesse viva eu tinha chamado o Samu”, declarou.

Plano funerário

Na última sexta-feira (19/02), a Polícia Civil informou que a família de Izadora seria dividida em núcleos familiares. “A mãe defendia os irmãos. O pai, que já morreu, apoiava mais a advogada”, explicou o delegado.

Mais de 15 testemunhas já foram ouvidas oficialmente. Segundo a polícia, a mãe de Izadora quitou o plano funerário da família que estava atrasado há dez meses. O pagamento foi realizado na semana anterior ao crime.

“O trabalho da polícia tem sido muito bem feito. A OAB está atenta às investigações e recebemos essa informação que o plano funerário da família estava atrasado há dez meses e no dia 02 de fevereiro a mãe de Izadora foi lá e pagou. Isso era só uma denúncia, mas repassamos ao DHPP que confirmou que era verdade”, disse o advogado Mauro Benício, nomeado pela OAB Piauí para acompanhar o caso.

“Com a morte do pai no ano passado, a Izadora ficou vulnerável. Ele amava muito a filha e era tudo para ela. Do outro lado tinha a mãe que protegia o João Paulo e o irmão dele. Era muito claro que tinha o grupo da mãe e do pai. Mensagens no celular da Izadora mostram que havia várias discussões entre ela e João Paulo e isso coincidiu com o depoimento de algumas testemunhas. Acredito que a questão patrimonial foi a gota d’água. A herança instigou e queriam tirar a Izadora de perto”, relatou Benício.

“Testemunhas contaram ao DHPP que um dia Izadora jogou fora uma quentinha que havia recebido da mãe como se estivesse com medo de que tivesse envenenada. Até pra dormir, ela colocava objetos na porta para caso alguém abrisse, ela ouvisse o barulho antes. O DHPP está fazendo um excelente trabalho desconstruindo a versão da família de que uma vendedora matou Izadora e construindo uma versão baseada em todo um corpo de provas. A OAB está pela verdade e estamos muito satisfeitos com a investigação do crime”, conta o advogado Mauro Benício.

Entrevista contraditória

Em entrevista para uma emissora local, a mãe de Izadora se contradisse diversas vezes e demonstrou frieza ao falar do crime. Questionada sobre o verdadeiro autor do crime, uma vez que defendeu a inocência do filho, a mãe de Izadora sustentou a versão de que a advogada foi assassinada por uma mulher, que entrou na casa alegando ser vendedora de roupas.

“Quem matou deve ter sido a mulher que veio cobrar ela, não sei quem era, não conhecia, eu abri o portão e autorizei que ela entrasse com ordem da Izadora, nunca tinha visto essa mulher”, disse a idosa de 70 anos.

No início da entrevista, Maria Derci negou que Izadora e João Paulo tivessem qualquer problema, contudo, mais adiante ela apontou que a filha estava “criando” alguns problemas com o irmão jornalista.

“Um dia ela pegou o celular dele e vasculhou as coisas, falou que não era para ele falar mais com as primas dele e que elas davam azar para ele. Eu contei para o João Paulo e disse para a Izadora não mexer nas coisas dele, era o celular do trabalho dele, que era para ela cuidar da vida dela. Ele também pediu para ela não fazer mais isso, não mexer mais”, afirmou.

Durante toda a entrevista a idosa não demonstrou tristeza pela morte da filha. Em determinado momento, o repórter comenta que muitos vizinhos se referem à advogada como uma pessoa amável e prestativa e a mãe rebate: “ela nem andava na casa dos vizinhos”.

A missa de sétimo de dia de Izadora Mourão foi marcada por muitas homenagens e comoção na última sexta-feira (19). Havia dezenas de amigos e familiares no local. No entanto, a mãe da advogada não compareceu à igreja.

João Paulo e Izadora
João Paulo e a mãe