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Dois importantes veículos da imprensa independente chegam ao fim

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Dois importantes veículos de comunicação da mídia independente anunciaram o fim de suas atividades. Confira a repercussão

Dois importantes veículos de comunicação da mídia independente encerraram suas atividades em definitivo neste fim de semana: o Conversa Afiada e o Nocaute.

Em comunicado, o site Conversa Afiada afirma que, embora tenha encerrado suas atualizações, manterá a página online para que as pessoas acessem os conteúdos produzidos durante mais de uma década.

“Os artigos, as reportagens e os vídeos que tiraram o sono dos inimigos da democracia e dos vendilhões da pátria continuarão à disposição dos amigos navegantes”, afirma o comunicado do site fundado pelo renomado jornalista Paulo Henrique Amorim, falecido no ano passado.

“Por mais de uma década, este site idealizado, construído e mantido por Paulo Henrique Amorim e uma pequena – mas aguerrida – equipe serviu de bastião da luta pela formação de uma imprensa independente, progressista e destinada a combater em todas as frentes possíveis o PiG (e seus efeitos deletérios), os golpistas e os traidores da democracia brasileira. PHA foi pioneiro, um revolucionário nas chamadas “novas mídias”. Um colosso!”, diz trecho da carta de despedida.

O comunicado ainda destaca como as áreas da plataforma mostram a luta de Amorim pela liberdade de expressão, caso da aba “Não me Calarão” em que é possível acessar as batalhas judiciais as quais o jornalista teve de enfrentar. “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique, e, diante disso, PHA e o Conversa Afiada nunca fugiram à sua responsabilidade”.

O texto ainda revela o apoio que a plataforma teve ao longo do tempo, além de prêmios, e seguidores 1,13 milhão de seguidores no Facebook, 634,3 mil no Twitter, 690 mil no Instagram e 985 mil no YouTube.

O Pragmatismo Político esteve ao lado do Conversa Afiada em premiações. Relembre:

NOCAUTE

O blog Nocaute, do escritor e jornalista Fernando Morais, também anunciou o encerramento das atividades neste sábado 1. O texto de anúncio atrela a decisão a falta de um orçamento que possibilite a sua continuação e sobre perdas orçamentárias.

“O dinheiro era pouco e se acabou. Conseguimos sobreviver mais de três anos, sempre com a corda no pescoço. Temos repetido aqui o bordão de que ‘Tempos perigosos exigem jornalismo corajoso’. Mas fazer jornalismo e corajoso e independente tem um custo. A perda dos poucos anúncios que recebíamos e a queda na arrecadação tornaram impossível organizar um orçamento mínimo”, traz o texto.

Repercussão

Para o jornalista Moisés Mendes, o encerramento das atividades do Conversa Afiada e do Nocaute representa “duas perdas para o jornalismo de combate nesses tempos em que as trincheiras de esquerda são desafiadas a sobreviver em ambientes infectados pelas fake news, pelo ódio e pelas difamações da extrema direita.”

“Desaparecem os espaços virtuais criados por dois dos maiores jornalistas brasileiros. É do jogo e mais ainda em uma guerra. O mundo virtual ainda é Marte para o jornalismo de pequenos times, muitas vezes apegado às referências românticas das redações analógicas. Conversa Afiada e Nocaute duraram o tempo que foi possível, como os nanicos da época da ditadura (alguns duravam apenas alguns meses)”, acrescenta Mendes.

O jornalista Renato Rovai também lamentou: “A notícia dolorosa traz consigo uma necessária reflexão. O que está acontecendo com a mídia progressista? Por que tão importantes sites não são financiados por recursos de leitores e entidades que tanto deles precisaram e precisam? Por que tanto dinheiro é desperdiçado em projetos que não ficam em pé e aqueles que já existem são descartados?”

“É preciso que se abra este debate com um pouco mais de generosidade e solidariedade. Porque a esquerda tem sido muito umbilical e muito pouco coletiva. Não é nada fácil manter um projeto de comunicação de pé sem apoio de entidades nacionais ou internacionais. São poucos os sites que têm conseguido essa façanha. E quando o fazem isso se dá à custa de enorme investimento pessoal daqueles que os lideram”, acrescentou Rovai.

“Não tenho dúvida que Paulo Henrique e Fernando Morais botaram a mão no bolso pra levar o projeto adiante. E que perderam muitas noites de sono fazendo contas e tocando o telefone pra pessoas que pudessem colaborar com seus projetos. Quantos nãos ouviram? Centenas? Milhares? A vida é dura, hermanos”, finalizou.

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