Saúde

Diabético e hipertenso, homem sobrevive a Covid-19 e H1N1

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"É desesperador. Você tenta respirar e não consegue, mesmo com o cateter com oxigênio no máximo". Técnico de enfermagem diabético, hipertenso e com sobrepeso sobrevive a Covid-19 e H1N1. Ele passou 11 dias internado e foi aplaudido ao receber alta médica

Tinha tudo para dar errado, e o técnico em enfermagem Paulo Celso Costa, 42, sabia disso — o que tornou os 11 dias de internação, 2 deles na UTI, ainda mais angustiantes. Hipertenso e diabético, o homem de 1,81m, e que chegou ao Hospital do Servidor Público Estadual com 130 kg, ainda tinha o sobrepeso como mais um fator de risco.

Paulo deu entrada no hospital no dia 31 de março com sintomas da Covid-19, doença que já causou 1.736 mortes no país e mais de 28 mil casos confirmados. “Fui perdendo o paladar, não sentia mais o cheiro das coisas, tinha muita dor no peito e febre”, afirma.

Funcionário do pronto socorro do próprio hospital, ele conta que começou a imaginar como seu quadro evoluiria. “Quando você é da área da saúde é ainda mais desesperador”, diz. “Você fica pensando: ‘e se me entubarem, e se eu não voltar?’.”

Ele é casado com a auxiliar de enfermagem do Hospital São Paulo Claudia Cristina Costa, 40, que teve os sintomas da Covid-19, mas não precisou ser internada. Dois dos três filhos do casal também apresentaram sinais da infecção. “Acredito que a diabetes e a hipertensão tenham feito a diferença para eu precisar ser internado”, afirma ele.

Paulo foi internado em uma área específica para casos de infecções respiratórias criada pelo Hospital do Servidor Público Estadual, onde conta ter visto uma série de funcionários da saúde assim como ele, antes de ir para a UTI. “É desesperador. Você tenta respirar e não consegue, mesmo com o cateter com oxigênio no máximo”, diz.

Após os dias iniciais na enfermaria de Moléstias Infecciosas, o auxiliar de enfermagem piorou e foi transferido para a UTI. “Ali, passa um monte de coisas pela sua cabeça, sozinho, sem conversar com ninguém. A gente começa a pensar que pode ser entubado, sedado”, diz. “Você olha pro relógio, acha que passaram duas horas, mas passaram só dez minutos.”

Vídeo do momento em que Paulo deixa o hospital:

(continua após o vídeo)

Covid-19 e H1N1 ao mesmo tempo

De acordo com os infectologistas Raquel Muarrek, da Rede D’Or e André Ricardo Ribas de Freitas, professor na Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic de Campinas, não é comum, mas diferentes vírus podem, sim, conviver no organismo humano. Foi o que aconteceu no caso de Paulo, que também testou positivo para H1N1.

“Eles [covid-19 e h1n1] não disputam por que nem toda célula fica infectada, então cada um consegue seu próprio espaço, replicando e aumentando o número de vírus”, esclarece Ribas de Freitas.

Ter os dois vírus ao mesmo tempo não significa, necessariamente, que os sintomas serão piores. Além de as doenças se manifestarem de forma similar, de acordo com Ribas de Freitas, os sintomas causados pelo novo coronavírus são mais fortes, e por isso, tendem a ser mais evidentes.

Emilio Sant’Anna, da Folha

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