Saúde

Coronavírus: advogada relata último diálogo antes de namorado ser intubado

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Advogada perde o namorado para o coronavírus: "Não podemos nos achar fora de perigo". Homem era jovem e não tinha comorbidades. Na última conversa que teve com o companheiro, por telefone, ele relatou o medo de morrer e reforçou um desejo que havia expressado em outras ocasiões

O piloto César Augusto Visconti

A advogada Fernanda Credídio, de 39 anos, perdeu o namorado para o coronavírus. César Augusto Visconti, 43, não tinha nenhum fator de risco entre os tantos elencados para a doença. Além da pouca idade, era saudável, sem sobrepeso, sem hipertensão, sem diabetes e sem quaisquer doenças preexistentes. Sequer fumava.

“Ele começou com uma tosse seca no último dia 17, e, como ela não passava, foi a um médico particular, que avaliou ser uma tosse alérgica, de sinusite, e receitou antibiótico. Não procuramos um hospital, mesmo porque as instruções eram as de que, isso, só em último caso. Eu trabalhei até terça, ele, até quarta, aí ele veio para a minha casa e passamos até o final de semana anterior juntos”, relatou ao portal ‘Viver Bem’.

Mesmo medicado com antibiótico, César começou a apresentar febre de 39º. Ele estava na casa dela, mas como os filhos de Fernanda de 11 e 7 anos chegariam lá nos dias seguintes, ele achou por bem, na segunda (23), ir para sua casa na cidade vizinha.

“Ele se despediu e foi para a casa dele, pois se sentia muito mal. Como começou a apresentar muita dor no peito para respirar, voltou ao médico, que o encaminhou ao hospital. No caminho até lá, ele me ligou. Ao chegar lá, ligou de novo para me dizer que ficaríamos dois dias sem poder conversar, porque ele seria intubado para melhorar mais rápido. Mas disse também que, se algo não desse certo, que eu jogasse as cinzas dele em Interlagos —coisa que ele sempre falava, mas pediu que eu não esquecesse. Imagine ouvir isso de alguém que está prestes a entrar em uma UTI? É muito complicado…”

Gravidade da doença

Fernanda contou à revista Marie Claire que, embora ela e o namorado tivessem decidido ficar em casa a partir da metade da semana anterior à ida dele ao hospital, a gravidade da doença não era algo de que eles fossem completamente conscientes. Ao menos, não para perfis fora dos chamados grupos de risco.

“Nós não tínhamos tanta noção da gravidade dessa doença, resolvemos ficar em casa porque, no caso dele, havia os sintomas de gripe ou alergia; no meu, o fiz por causa da minha mãe e da minha avó, ambas com mais de 60 anos. Eu respeitava a quarentena por elas, não por mim —e nem eu, nem o César julgávamos que haveria um risco de morte a pessoas como nós por conta de idade ou outros fatores de risco. Isso me apavora”, desabafa.

A advogada acha difícil ou praticamente impossível definir onde César contraiu o vírus —embora um amigo dele tenha ido parar na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) por conta da covid-19, o piloto não havia tido contato recente com ele. O teste de César, por sinal, ficou pronto até rápido: ele ainda estava vivo.

“Acho que o caso do César, totalmente fora de grupos de risco, é só mais um entre tantos de que a gente nem tem notícia. É importante que as pessoas saibam disso. Estou isolada com meus filhos e é praticamente certo que tenho o vírus, embora não tenha desenvolvido sintomas. Mas preciso ficar em casa porque, se estiver infectada, agiria com um vetor lá fora e poderia ser pior para outras pessoas”, define.

A advogada disse não ter recebido nenhum contato ou orientação dos serviços públicos de saúde mesmo tendo convivido com uma pessoa comprovadamente infectada pelo coronavírus por vários dias.

Aniversário

“Ele era uma pessoa muito alegre, um sujeito muito carinhoso que amava muito a filha dele, de 15 anos, a mãe, a família dele. Amava muito estar vivo. Acho que o fica disso tudo para mim, dessa situação toda, é que a gente não pode achar que está fora de perigo. É dar valor para a vida, para as pessoas, para os abraços —agora que estou aqui isolada, sem poder ter o abraço de quem eu amo, é que vejo o quanto essas coisas têm valor.”

Fernanda e César

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