Saúde

Pastor evangélico pede perdão por culto que propagou coronavírus na França

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Ao contrário de países como Itália e Espanha, um dos principais focos do coronavírus na França é uma região relativamente pouco populosa. A explicação está na realização de grandes cultos realizados por uma igreja neopentecostal

O pastor Thiebault Geyer

Willy Delvalle, DCM

“O evento evangélico realizado entre 17 e 24 de fevereiro está na origem do maior foco de coronavírus no nosso país”, disse Michèle Lutz, prefeita da cidade francesa de Mulhouse, no início de março.

Na manhã desta segunda-feira, o município de 110 mil habitantes no leste da França confirmou a terceira morte de um médico francês pela pandemia e já ultrapassou o limite de pacientes em seus hospitais.

Foi a primeira a transferir pacientes para outras áreas do país.

Por que, ao contrário de países como Itália e Espanha, um dos principais focos da doença na França é uma região relativamente pouco populosa?

A resposta da prefeita de Mulhouse está na igreja neopentecostal Porta Aberta (Porte Ouverte), que recebeu naquele período pelo menos 2.500 pessoas vindas de diversas partes da França, Bélgica, Alemanha e Suíça.

O resultado, como vemos agora, foi catastrófico.

A “reunião evangélica propagou o coronavírus na França”, disse o jornal Le Figaro .

“O evento provavelmente foi uma das principais portas de entrada do coronavírus na França”, afirmou a rede de televisão BFMTV, que o qualificou de “um dos epicentros do coronavírus” no país.

De acordo com a reportagem, já nos primeiros dias de volta para casa, diversos participantes do evento apresentaram sintomas “anormais” e deram positivo no teste para o coronavírus.

Como não era necessário se inscrever para participar do encontro, as autoridades regionais se confrontaram com um segundo problema: descobrir quem esteve lá para tentar impedir a transmissão em grande escala, uma tarefa hercúlea para os meios locais, para o tempo e a dispersão geográfica dos frequentadores.

O próprio filho do pastor, Dr. Jonathan Peterschmitt, ressaltou à publicação conservadora que “há muito compartilhamento, um contexto propício à contaminação”.

Foi o que aconteceu. De mão em mão, durante os cultos, o vírus circulou.

O médico Jonathan Peterschmitt teve diagnóstico positivo, tendo que ficar de quarentena num período crítico em que a região sofre com escassez de profissionais de saúde.

Pelo menos três prefeitos que estiveram no encontro também deram positivo para o coronavírus.

Outros prefeitos tiveram que se confinar depois que um dos pastores da organização, Patrice Giannetta, que tem o vírus, frequentou uma funerária regional, entrando em contato com os eleitos e candidatos às eleições municipais.

A região do Grande Leste, onde fica Mulhouse, tem mais de 3 300 casos confirmados de coronavírus, a segunda do país em número absoluto de contaminações.

Depois que a prefeitura proibiu aglomerações de mais de 100 pessoas, Thiebault Geyer, pastor da “Porte Ouverte”, também contaminado pelo coronavírus, transferiu os cultos para a internet. Em entrevista à BFMTV, justificou a realização do encontro em fevereiro: “o vírus não estava na França, falava-se do vírus na China, até que falou-se dele levemente (aqui)”. Um mês depois da realização do culto de fevereiro, agora na internet ele pede “perdão”.

A indignação política transcendeu a cidade de Mulhouse.

Josiane Chevalier, prefeita regional do Grande Leste do país, apontou à rádio France Inter a responsabilidade da igreja: “Um encontro evangélico que aconteceu no Alto Reno, com mais de 3 mil pessoas e o desrespeito de medidas sanitárias; em síntese, tudo o que não deveria ser feito; pagamos um alto preço por essa não consideração de medidas básicas”.

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