Mulheres violadas

Motorista de Uber assedia adolescente: “14 anos para cima já é responsável”

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Menina se defendeu de assédio e afirmou que homem tem idade para ser pai dela. Motorista rebateu: "Não sou teu pai. Eu faria coisas que o teu pai não faria". O homem foi detido após a repercussão das imagens. À imprensa, ele colocou a culpa na menor

O motorista de Uber André Lopes Machado (esq)

O vídeo de um motorista de Uber assediando uma adolescente em Viamão, Região Metropolitana de Porto Alegre, viralizou nas redes sociais. O episódio aconteceu na tarde do último domingo (16).

“Ele começou a fazer elogios. Dizendo que eu era a passageira mais bonita que ele tinha pego, que geralmente só entrava gente feia”, relata a jovem.

No vídeo, é possível ouvir o momento em que a jovem avisa ao homem que é menor de idade, mas o motorista rebate e diz que “não seria um problema”. Ele continua: “seria problema se tivesse 13 anos, e acho que tu não tem 13 anos, 14 para cima tu já é responsável”, disse ele.

Ele segue falando: “eu namoraria contigo se tu não tivesse namorado”. Nesse momento, a jovem informa que ele tem idade para ser pai dela e o motorista responde: “mas eu não sou teu pai. Eu faria coisas que teu pai não faria, pode ter certeza”.

Depois de postar os vídeos em uma rede social, a jovem recebeu relatos de outras adolescentes dizendo que já conheciam o motorista e que também tinham passado pela mesma situação.

“Eu fiquei apavorada. Fiquei com medo de ser grossa com ele e ele acelerar o carro e fazer algo pior”, contou a jovem.

A mãe da jovem acompanhou a filha na delegacia durante o registro da ocorrência. “Fiquei completamente indignada e com nojo do que ele falou para ela”, disse.

De acordo com a mulher, a família usa com frequência o aplicativo, e que depois do episódio ficaram com receio de fazer novas chamadas.

Motorista culpa a menor

André Lopes Machado é o nome do motorista que aparece nas imagens. Ele prestou depoimento na tarde desta terça-feira (18) na Delegacia da Mulher de Viamão.

Ao deixar o local, o homem de 43 anos falou com a imprensa e culpou a vítima. “Eu não vejo cunho sexual nenhum no que eu disse. Ela, em momento algum, se mostrou irritada, desesperada. Pediu pra descer, não. O tempo todo rindo, brincando, conversa chegando”, justificou-se.

“Vocês viram o vídeo. Ela está sorrindo bem espalhada [sic] no banco, em posições que eu nem gostaria de citar aqui, pois eu não posso provar, afinal de contas ela não se filmou nesse sentido”, disse o motorista.

“Mas ela estava com um short do ‘tipo Anitta’ [sic], uma mini blusa, com as pernas abertas no banco, me chamando atenção”, completou André.

VÍDEO:

Delegada

A delegada responsável pelo caso, Marina Dillenburg, disse que foi instaurado um inquérito para investigar o caso. “Nós temos um pouco de dificuldade de fazer a adequação típica dessa conduta, embora ela seja uma conduta muito desrespeitosa e bem corriqueira no cotidiano, principalmente das mulheres, a legislação penal peca na hora de enquadrar como crime”, observa Marina.

“Então, muito provavelmente uma contravenção penal, talvez um crime contra a honra. Nós trabalhamos também com a hipótese de importunação sexual, que é um crime mais grave, que a gente não descarta nesse momento, mas que em principio não se enquadra, então, estamos em três linhas, digamos, de investigação”, acrescenta a delegada.

Marina pede que se outras mulheres passaram por alguma situação parecida que procurem a polícia para denunciar. “Foi muito louvável a atitude da adolescente e espero que sirva de exemplo para outras mulheres, ainda mais nessa época de carnaval, onde tem o consumo de bebida alcoólica, onde as pessoas se vestem de forma mais despojada e isso pode levar a alguns comportamentos de assédio, até as vezes mais graves do que a gente viu no caso dessa adolescente”.

Nota da Uber

A Uber considera inaceitável e repudia qualquer ato de violência contra mulheres. A empresa acredita na importância de combater, coibir e denunciar casos dessa natureza às autoridades competentes. A conta do motorista parceiro foi banida assim que a denúncia foi feita.

A empresa defende que as mulheres têm o direito de ir e vir da maneira que quiserem e têm o direito de fazer isso em um ambiente seguro. Todas as viagens com a plataforma são registradas por GPS. Isso permite que em caso de incidentes nossa equipe especializada possa dar o suporte necessário, sabendo quem foi o motorista parceiro e o usuário, seus históricos e qual o trajeto realizado.

Como parte do processo de cadastramento para utilizar o aplicativo da Uber, todos os motoristas passam por uma checagem de antecedentes criminais realizada por empresa especializada que, a partir dos documentos fornecidos pelo próprio motorista e com consentimento deste, consulta informações de diversos bancos de dados oficiais e públicos de todo o País em busca de apontamentos criminais, na forma da lei. A Uber também realiza rechecagens periódicas dos motoristas já aprovados pelo menos uma vez a cada 12 meses.

Desde 2018 a Uber tem um compromisso público para enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil, materializado no investimento em projetos elaborados em parceria com entidades que são referência no assunto, que inclui campanhas contra o assédio e podcast para motoristas parceiros sobre violência contra a mulher, entre outras ações. Em novembro, a Uber anunciou um investimento de R$ 5 milhões para continuidade desse compromisso ao longo dos próximos anos.

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