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Ataque a repórter em CPMI das Fake News foi grotesco e impensável

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Ataque a repórter que incomodou o presidente da República é episódio grotesco de violência contra mulher. Insultos e mentiras de cunho sexual mostram que Congresso se acostumou a absurdos

A jornalista investigativa Patrícia Campos Mello e o ex-funcionário de empresa de disparos em massa Hans Nascimento

Eduardo Sakamoto, em seu blog

Logo após o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, declarar, no Congresso Nacional e em suas redes sociais, que Patrícia Campos Mello pode ter se insinuado sexualmente em troca de informações para tentar prejudicar a campanha de Jair Bolsonaro”, uma maré de mensagens violentas tomaram conta da internet com o objetivo de destruir a reputação da jornalista.

O ressentimento bolsonarista contra uma das principais jornalistas investigativas do país – responsável por uma série de reportagens que revelou como empresários gastaram milhões de reais em disparos em massa de mensagens de WhatsApp para beneficiar o então candidato Bolsonaro – mostrou novamente sua cara.

Não é novidade o desprezo do bolsonarismo contra jornalistas mulheres, elas foram o alvo preferencial do presidente no último ano. Mas o que aconteceu é um divisor de águas: o Brasil presencia o linchamento violento de uma profissional de imprensa, baseado em uma mentira de cunho sexual, a fim de encobrir outra história, cuja discussão não interessa aos atuais donos do poder.

O deputado reverberava a declaração de Hans River Nascimento, ex-empregado de uma agência de disparo de mensagens digitais, que depôs na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News, nesta terça (11). Ele, que havia sido fonte do jornal, mentiu à CPMI sobre o que havia dito e atacou de forma abjeta a repórter, dizendo que ela havia oferecido sexo em troca de informação.

Suas declarações foram desmascaradas horas depois, por uma matéria da Folha de S.Paulo, que desmentiu ponto a ponto o que foi dito na audiência, expondo material enviado pelo próprio Hans à reportagem, como áudios, fotos, planilhas e reproduções das trocas de mensagens – inclusive uma em que ele dá em cima da jornalista e ela, solenemente, o ignora.

Para uma parte das pessoas, contudo, pouco importa se a história é mentira, contanto que ela possa ser usada para atacar uma jornalista que incomodou o presidente da República com suas investigações. Seguem, com isso, a máxima da ignorância nas redes sociais e aplicativos de mensagens: verdade é tudo aquilo na qual eu acredito. A comprovação de fatos passa a ser irrelevante. Com isso, mesmo alertadas que estão cometendo um crime, continuam repassando os ataques.

Acreditando estarem em uma guerra, não se importam com a razão e o bom sendo tombando mortos.

Se por um lado, o episódio gerou demonstrações de indignação na parcela civilizada da sociedade, por outro, trouxe júbilo a hordas bárbaras que entenderam a mensagem de seus influenciadores como um sinal não apenas para quebrar a resiliência da repórter, mas também que ela sirva de exemplo para outras mulheres que tentem fazer jornalismo. Sim, isso não se resume a ódio político, mas é ódio de gênero. Muitas vezes levado a cabo por homens inseguros, impotentes, rancorosos, que não conseguem ser protagonistas de suas próprias vidas.

O mais fascinante desse episódio é ver que uma única repórter causa tanto medo no clã que governa o país. O que demonstra a força do jornalismo e de alguns profissionais de imprensa, mas também a fraqueza de quem acha que vence pelo grito.

A performance bizarra, desta terça, no Congresso Nacional e a forma como ela repercutiu quase que instantaneamente, como se fosse ensaiada, vai entrar como um dos maiores absurdos da história recente da combalida democracia brasileira. Mas também como uma das maiores passadas de recibo.

Em tempo: Se as instituições estiverem funcionando normalmente, como alardeiam, o depoente será indiciado por mentir diante de uma CPMI e teremos um deputado que terá que se explicar a um Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar. Mas quem já desejou a morte da democracia e saiu ileso ao fazer apologia ao AI-5 sabe que pode se safar de qualquer coisa.

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