Racismo não

Aluno que não pegou prova da mão de professora disse que “negros são preguiçosos”

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Universitário se recusou a pegar a prova das mãos de professora negra e cena foi gravada por outros alunos. Episódio aconteceu na 'universidade mais negra do Brasil'. Na delegacia, o estudante branco alegou que foi vítima de preconceito

(Imagem: Divulgação)

Uma professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) foi vítima de racismo em sala de aula na noite da última segunda-feira (9).

Isabel Reis aplicava uma prova dentro do campus da instituição, na cidade de Cachoeira (BA), quando o episódio aconteceu.

“Eu insisti para que ele desse qualquer explicação. Eu queria entender o motivo pelo qual ele não queria pegar a prova das minhas mãos. Eu disse a ele que eu não tinha nenhuma doença contagiosa”, conta a professora.

A ação foi gravada por outros estudantes. As imagens mostram Danilo Araújo de Góis se recusando a pegar a prova na mão da professora e pedindo que ela colocasse o exame em cima da mesa.

A professora do curso de Licenciatura em História disse que Danilo paga a matéria dela, História do Brasil no Século XIX, como optativa, e que neste semestre foi a primeira vez que ele foi seu aluno.

Alunos da universidade revelaram que Danilo não gosta de encostar em pessoas negras e homossexuais. Além disso, o jovem se recusa a pegar qualquer coisa da mão de pessoas negras.

“Antes daquilo acontecer na sala, os alunos já falavam de racismo e homofobia [por parte de Danilo], que ele não recebia coisas de pessoas negras. Mas até então nós [professora e estudante] não tínhamos vivenciado qualquer situação semelhante”, disse.

“Negros são preguiçosos”

A professora relembrou que durante uma aula, neste semestre, o estudante chegou a dizer que os negros eram preguiçosos e fediam.

“Durante uma das aulas, ele falou que negros não eram empreendedores, eram preguiçosos e que, por isso, foi necessário o uso da mão de obra imigrante. Como vou deixar um aluno sair da sala trazendo esse tipo de pensamento raso? Baseado em que ele está falando isso?”, questionou Isabel.

“Ele precisava ler, fazer uma reflexão do que falava. Então fizemos um trabalho, com os primeiros passos da república, com livro para leitura. Porque eu não sabia onde ele estava lendo as coisas que dizia. Após o trabalho, ele disse que o Rio de Janeiro fedia e que os negros fediam”, contou.

Há 10 anos no corpo de docente da universidade, a professora disse que jamais se viu em uma situação semelhante com a que vivenciou com Danilo. Relatou ainda que, diante dos comentário do estudante, o objetivo dela como docente era levar conhecimento para o aluno e jamais criar conflitos.

“O racismo é uma coisa que é socialmente construída. As pessoas não nascem racistas, elas são construídas. Racistas não declarados convivemos cotidianamente. A gente vai chamando atenção para as coisas pelo comportamento. Não que eu nunca tenha sofrido racismo, mas com essa destilação de ódio, não”, afirmou.

VÍDEOS:

“Vítima de preconceito sou eu”

Segundo a polícia, o estudante do curso de Ciências Sociais, Danilo Araújo de Góis, esteve na Delegacia de Cachoeira e relatou que foi vítima de preconceito, porque os estudantes não deixaram ele se explicar e o chamaram de racista. Ele registrou um boletim de ocorrência e foi liberado.

A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia é a instituição de ensino superior com mais estudantes negros no Brasil.

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