Educação

Nomeado por Bolsonaro, reitor usa “métodos de administração em Jesus”

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Bolsonarista, cristão conservador, defensor da família e pastor batista, novo reitor nomeado sem ser o mais votado baseia seus métodos administrativos em obras que remetem a relatos bíblicos

Marcelo Recktenvald

Ana Luiza Basílio, CartaCapital

A Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), que tem sede na cidade de Chapecó (SC) e conta com mais quatro campus no Sudoeste do Paraná, Oeste de Santa Catarina e Noroeste do Rio Grande do Sul, é mais uma a demonstrar contrariedade em relação à nomeação de seu reitor.

O professor Marcelo Recktenvald, nomeado para o cargo pelo presidente Jair Bolsonaro, era o terceiro colocado na lista tríplice encaminhada ao Ministério da Educação.

Marcelo Recktenvald foi professor, nos anos de 2013 e 2014, da disciplina optativa “Espiritualidade e Liderança”, dentro do curso de Administração. A aula, que tinha como objetivo “aprofundar os conhecimentos de liderança e coaching a partir de uma perspectiva da realidade”, tinha como referência básica títulos como Jesus Coach, da autora Laurie Beth Jones.

Na obra, a autora recorre aos relatos bíblicos para revelar que os princípios utilizados pelo filho de Deus com seus colaboradores prenunciavam o que dois mil anos mais tarde passariam a ser conhecidos como life coaching.

A lista de leituras para a disciplina incluem ainda Os métodos de administração de Jesus, de Bob Briner, Liderança Corajosa, de Bill Hybels, O Desafio da liderança, de James Kouzes e Barry Posner, Administração Segundo a Bíblia: métodos de gestão que não envelhecem, de Steve Marr, Espiritualidade no ambiente de trabalho: dimensões, reflexões e desafios, de Anselmo Ferreira Vasconcelos, e Uma Vida com Propósitos, de Rick Warren.

Apoiador declarado de Bolsonaro, Recktenvald se descreve em suas redes sociais como cristão conservador, defensor da família e pastor batista.

Criada em 2009, durante gestão do presidente Lula e do ministro da Educação Fernando Haddad, a universidade surge para atender às demandas, sobretudo, das comunidades camponesas que lutavam por uma universidade na região, de forma que seus filhos não precisassem se deslocar para os grandes centros urbanos para terem acesso ao Ensino Superior.

A recente nomeação movimentou a comunidade acadêmica, que vem demonstrando seu incômodo. Os campi de Cerro Largo e Realeza publicaram nota repudiando a ação de Bolsonaro, assinadas, respectivamente, pelos diretores Bruno München Wenzel e Marcos Antônio Beal. Os textos afirmam que a lista tríplice não tem sido um mecanismo efetivo para a garantia da autonomia universitária, conforme previsto na Constituição.

“A consulta prévia informal e o processo de composição da lista tríplice garantiram à Comunidade Universitária o debate de ideias, o questionamento e o aprimoramento de um programa de gestão vencedor, em um processo transparente e democrático. O desrespeito ao seu resultado, mesmo não sendo ilegal, é visto com grande preocupação”, diz a nota assinada por Wenzel. Na mesma linha vai o texto assinado por Beal que “vê com preocupação a decisão de não se respeitar o princípio da escolha democrática produzida pela comunidade universitária (acadêmica e regional)”.

Estudantes da universidade também manifestaram insatisfação com a nomeação em um protesto realizado no sábado, 31 de agosto. Um grupo ocupou a sala de entrada da reitoria na universidade em Chapecó.

A Seção Sindical dos Docentes da UFFS também emitiu uma nota de repúdio. No texto, colocam que a nomeação representa “uma afronta e um desrespeito, um riso sarcástico na cara de toda a UFFS. Não seremos coniventes com esta medida autoritária”, colocaram.

O novo reitor também enviou um comunicado à imprensa dizendo que “compreende que a escolha do seu nome para reitor se deva principalmente em função do seu compromisso institucional e desejo de transformar a UFFS em uma universidade reconhecida pela sua qualidade, missão pública e função social”.

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