Mídia desonesta

As lições que ficam da entrevista de Glenn Greenwald no Roda Viva

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Entrevista de Glenn Greenwald foi considerada uma aula sobre liberdade de expressão e jornalismo e alcançou o primeiro lugar nos trending topics do Twitter. Momento mais tragicômico foi protagonizado pela jornalista Lilian Tahan

Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o jornalista Glenn Greenwald não se deixou intimidar pela bancada da atração, que insistiu a todo momento sobre se seria ético usar dados que foram obtidos de forma ilegal nas reportagens da ‘Vaza Jato’.

Glenn é editor do The Intercept, site responsável pela série de matérias que mostram a atuação em conluio entre o ex-juiz Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato para dirigir de forma ilegal as investigações.

“A autenticidade das informações da Vaza Jato não é mais uma dúvida, esse jogo cínico do Moro e Dallagnol acabou. Todos sabem que as mensagens são autênticas. Temos um ministro da Justiça e um coordenador da Lava Jato que usavam métodos corruptos não em casos isolados, mas o tempo todo”, defendeu.

Indagado também se o material da Vaza Jato não beneficiaria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o jornalista respondeu que obviamente existe muito material ligado ao ex-presidente, “porque ele era um dos personagens mais importantes da Lava Jato para construir a fama de Moro e dos procuradores; e também publicamos materiais que não têm nada a ver com Lula”, disse ainda, lembrando da reportagem que mostrou a fixação dos procuradores com o ódio que emergiu na população desde a crise que se instalou no país.

A questão em torno das fontes dos documentos da vaza jato esteve presente desde o início da entrevista quando a apresentadora Daniela Lima levantou o assunto. Glenn disse que o conteúdo é mais importante do que a questão da fonte.

“Se você olha o jornalismo do mundo democrático, em boa parte das vezes é baseado em fontes que adquiriram informações de maneira ilícita. O caso do Pentagon Papers foi um exemplo disso, que mostrou que o governo dos EUA estava mentindo sobre a Guerra do Vietnã. Esses documentos foram mandados pela fonte para o The New York Times e hoje ele é um herói. Quando do caso Snowden, ninguém nesse país questionou o fato de que as informações foram adquiridas de maneira ilícita”, disparou Glenn.

A entrevista foi considerada uma aula sobre liberdade de expressão e teve grande repercussão nas redes sociais, com destaque nos trending topics, do Twitter, onde ocupava o primeiro lugar por volta de meia-noite.

Glenn defendeu que o trabalho jornalístico que tem sido feito pela vaza jato é “extraordinário”, sobretudo por conta do compartilhamento com os veículos e os jornalistas, chegando inclusive à revista Veja, que construiu a imagem de Sergio Moro como um herói. Glenn lembrou que a revista reconheceu em editorial que o que o ministro Moro fez enquanto o juiz era corrupto e ilegal.

Na entrevista, Glenn também falou sobre os métodos para confirmar autenticidade de informações, as consultas a peritos e especialistas em tecnologia que proporcionam a confiança para publicação desses materiais. O jornalista ainda citou que as conversas passaram por análises de outros veículos como a Folha de S. Paulo, o El País, a Agência Pública e o BuzzFeed.

“O jornalismo mais importante muitas vezes vem de fonte que cometeu crime para obter a informação”, disse Glenn, mas ressalvou que o interesse público impõe ao jornalista a obrigação de publicar.

O momento mais constrangedor da entrevista foi protagonizado pela jornalista Lilian Tahan, que é editora do portal Metrópoles. Ela soltou a seguinte pérola: “Não é melhor demitir repórteres e contratar hackers?”

Assista a entrevista na íntegra e tire as suas próprias conclusões:

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