Aborto

Mourão irrita Bolsonaristas após opinião inesperada sobre o aborto

Share

O vice-presidente Hamilton Mourão irritou Bolsonaristas após fazer uma declaração surpreendente sobre o aborto. Segundo o general, a interrupção da gravidez deve ser uma "decisão da mulher"

Vice-presidente Hamilton Mourão (Foto: Sérgio Lima/Poder 360)

O vice-presidente Hamilton Mourão irritou Bolsonaristas após fazer uma declaração surpreendente sobre o aborto. Para o general, a interrupção da gravidez deve ser uma “decisão da mulher”.

A declaração de Mourão foi dada em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta sexta-feira (1). O general recebeu a imprensa em seu gabinete.

Confira o trecho da entrevista em que o vice-presidente abordou o tema:

— Como o senhor acha que tem que ser tratado dentro do governo os temas de gênero?

O governo tem que tratar de forma objetiva. É uma questão de saúde pública. Doenças sexualmente transmissíveis são uma questão de saúde pública.

A questão do aborto também é algo que tem que ser bem discutido, porque você tem aquele aborto onde a pessoa foi estuprada, ou a pessoa não tem condições de manter aquele filho. Então talvez aí a mulher teria que ter a liberdade de chegar e dizer “preciso fazer um aborto”.

— Até mesmo nos casos em que a mulher não tenha condições de manter o filho?

Minha opinião como cidadão, não como membro do governo, é de que se trata de uma decisão da pessoa.

Reações

Nas redes sociais, o núcleo mais extremista do Bolsonarismo demonstrou irritação diante das declarações de Mourão.

“Mourão, você é VICE-presidente de um presidente. Você só existe politicamente por causa dele. General, siga seu Capitão ou o povo vai cuspi-lo fora. Aqui ninguém é idiota!”, bradou um internauta.

Mentor de Jair Bolsonaro, o filósofo Olavo de Carvalho também reagiu: “Alô, Mourão, ninguém votou em você. O povo ACEITOU você, meio desconfiado, meio de má vontade, só por conta do amor que tinha e tem ao Bolsonaro. Por suas próprias forças e popularidade, você não se elegeria vereador no menor município do imenso Brasil. Você subiu à sua parcela de poder levado de carona por um movimento popular ao qual não deu a menor contribuição notável e que, segundo o próprio Bolsonaro reconhece, foi inspirado por mim […]”.

Aborto

Atualmente, o aborto é a quinta maior causa de morte materna no Brasil. Resultados do estudo “Magnitude do abortamento induzido por faixa etária e grandes regiões” mostram que, apenas em 2014, foram 205.855 internações decorrentes de abortos no país, sendo que 154.391 por interrupção induzida e 51.464 espontâneos.

Este número, no entanto, é apenas uma ponta do iceberg. As estimativas de abortos do estudo conduzido pelos professores Mario Giani Monteiro, do Instituto de Medicina Social da Uerj, e Leila Adesse, da ONG Ações Afirmativas em Direitos e Saúde, revelam que o número de abortos induzidos é quatro ou cinco vezes maior do que o de internações. Com isso, é possível calcular que o total de abortos induzidos em 2014 variou de 685.334 a 856.668.

De acordo com um estudo a UnB, o método mais comum é que a mulher comece o aborto em casa, com medicamento e vá para a rede pública fazer a curetagem.

“O aborto hoje é um problema de saúde pública e deve ser discutido pelos três poderes. Os custos e as complicações dos abortos ilegais são enormes. Clinicamente as mulheres podem ter infecções, contrair doenças que incluem a Aids, ter hemorragias que podem levar à morte e ter perdas de órgãos internos. E isso vai parar nas mãos do Estado. As pessoas vão recorrer também ao SUS”, explica Sidnei Ferreira, presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj).

“O aborto ser ou não legal não teria mudado a minha decisão. Só teria permitido que eu não corresse risco de vida como corri”, desabafa uma jovem de 30 anos que recorreu, há dez anos, ao procedimento.

Siga-nos no InstagramTwitter | Facebook