Eleições 2018

O bicho-papão e a lógica do mal-menor

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Estamos presenciando mais uma vez na história do país o PT adotar a gestão do medo para garantir adesão a seu candidato

João Elter Borges Miranda*, Pragmatismo Político

Daqui a pouco, vamos às urnas escolher as pessoas que irão estar à frente do Estado. Quando estamos prestes a definir qual será o projeto de país que será implementado a partir do ano seguinte, é comum o clima de tensão e ansiedade.

Nas eleições de 2018, contudo, esse clima é ainda mais intenso, pois as forças eleitorais estão dispersas e 27% dos eleitores ainda podem mudar o voto nas próximas horas. Diante de tamanha imprevisibilidade e da possibilidade de Bolsonaro ser eleito, infelizmente estamos presenciando mais uma vez na história do país o PT adotar a gestão do medo para garantir adesão a sua campanha.

O petismo faz isso para evitar o debate aprofundado a respeito do seu programa de caráter neoliberal moderado. A discussão de um projeto de país, de propostas plausíveis para a crise, de um programa efetivo de reformas que promoveriam a construção da contra-hegemonia, tudo isso é deixado de lado porque precisamos “derrotar o coiso”. Haddad sequer foi questionado de verdade sobre política pública. Bastou aproveitar-se das muitas trapalhadas do candidato do PSL. Com isso, não precisou deixar claro, por exemplo, se vai ou não revogar as contra-reformas implementadas por Temer, sendo as mais candentes as contra-reforma trabalhista e a Emenda Constitucional 95.

De fato, precisamos derrotar o avanço de Bolsonaro e do fascismo bolsonarista. Afinal, a eleição desse candidato significará um grande regresso para o país. Num possível governo dele, vivenciaríamos um forte movimento para contra-arrestar a mobilização do conjunto da classe trabalhadora, além da continuação do processo, iniciado por Temer, de implementação do programa neoliberal extremado. Mas, a luta contra o fascismo não omite a necessidade de debatermos um projeto de país.

A gestão do medo perpetrada pelo petismo é encampada em campanhas que têm como carro-chefe o “voto útil” no “mal-menor”, leia-se: voto no PT. Faz mais de uma década que esse partido faz isso. De acordo com a conveniência, os bichões-papões vão mudando: primeiro Serra, depois Alckmin, depois Serra de novo, depois Aécio, agora Bolsonaro. Desta vez, o bicho papão é inegável

Esse “voto útil” em Haddad contra o Bolsonaro, contudo, é desmentido pelos números. Segundo o último data-folha, Haddad tem 25% dos votos, mas perde no segundo turno para Bolsonaro por 45% a 43%. E sua rejeição explodiu para 41%. Se o objetivo fosse mesmo derrotar o bolsonarismo, essa seria a hora do PT procurar a candidatura do Ciro e propor um grande acordo nacional, retirando a candidatura de Haddad em nome do #EleNão. Os números mostram que Ciro tem 15% dos votos, mas ganha no segundo turno de Bolsonaro por 47% a 43%. E sua rejeição é de 21%, praticamente a metade da rejeição do candidato petista. Para realizar esse grande pacto democrático, Lula e a cúpula do PT teriam que parar de pensar somente em si mesmos e intermediar o acordo através do apoio à candidatura Ciro (incluindo a candidatura Boulos). Seria o maior acordo nacional desde as Diretas Já. Mas o alto escalão do PT está longe de fazer isso e muito aquém de realizar uma autocrítica. Preferem seguir adotando a lógica do mal-menorismo.

Portanto, nestas eleições estamos presenciando mais uma vez ser reeditado essa chantagem do mal-menor sobre os movimentos sociais e partidos de esquerda. Primeiro, vimos a cúpula do PT, lamentavelmente, fazendo manobras para eliminar os atores mais próximos, de forma que agora possam polarizar com o lado de lá. Fizeram isso em 2014, eliminando Marina para polarizar com Aécio; e agora fazem o mesmo com Ciro, para polarizar com Bolsonaro. Tudo para que ninguém ameace a hegemonia do campo progressista encabeçada pelo PT e por Lula. E o fanatismo petista, como é de se esperar, aplaude de pé.

Leia aqui todos os textos de João Elter Borges Miranda

Essa gestão social do medo não é algo que só se vê na política brasileira, obviamente. É algo muito presente na política contemporânea em várias partes do mundo, cada país à sua maneira. Vimos isso, por exemplo, nas eleições presidenciais nos Estados Unidos. De um lado, Trump, que prometeu deportar 11 milhões de pessoas, banir do país uma religião inteira e construir um muro contra mexicanos. Do outro, Hillary, que foi responsável direta pela destruição da Líbia, corresponsável pela destruição do Iraque, pela matança na Síria, pelo golpe de estado em Honduras. No meio de tudo isso, o medo sendo adotado para que eleitores aceitem o que o establishment lhes oferece.

No Brasil, quem tem o programa mais completo e radical é a candidatura Boulos. E quem tem o tom certo de enfrentamento pragmático e objetivo é Ciro, com o qual teríamos alguma chance de sair dessa encruzilhada histórica entre o populismo autoritário do Bolsonaro e neoliberalismo moderado do Haddad. Numa época difícil em que somos soterrados pelos ataques cotidianos perpetrados pelo governo de Temer, em que presenciamos ataques ferozes do fascismo bolsonarista, a tese de que os governos petistas foram “anos dourados” é reforçada.

Acima de tudo, é preciso ter claro que, independentemente do resultado das eleições, como já apontei noutras vezes, a ofensiva do programa neoliberal extremado implementado a partir do governo Temer continuará sendo empurrado goela abaixo de nós — os de baixo. Ou seja, muito chumbo grosso nos espera no pós-eleições.

#EleNao #EleNunca #EleJamais

 

*João Elter Borges Miranda é professor de história formado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, trabalha na rede pública do Estado do Paraná e milita na Frente Povo Sem Medo, Frente Ampla Antifascista e Intersindical. Email para contato: recapiari636@gmail.com

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