Mulheres violadas

Mulher abusada por Roger Abdelmassih volta a escrever para Gilmar Mendes

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"Chega de juridiquês. Agora vou escrever com o coração, em nome das vítimas de Abdelmassih e em nome das milhares de mulheres que são violentadas diariamente no Brasil". Leia a íntegra da carta aberta de Vana Lopes ao ministro Gilmar Mendes

Gilmar Ferreira Mendes ministro do STF desde 20 de junho de 2002 (reprodução)

Blog Verdades Ocultas

Nós do Blog Verdades Ocultas, Elder Pereira e Fátima Miranda, na qualidade de amigos de Vana Lopes e colaboradores do Projeto Vítimas Unidas, do qual somos administradores de seus grupos, comunidades e fanpages, temos acompanhado bem de perto o drama das vítimas de Roger Abdelmassih, em especial de Vana Lopes, bem como sua coragem e determinação com as quais tem aguerridamente lutado por justiça nesse caso e em tantos outros de vítimas que a procura em busca de soluções.

O caso que envolve Roger Abdelmassih e suas vítimas, tornou-se conhecido no Brasil inteiro e em outros países e não é segredo para ninguém o fato de que o ministro Gilmar Mendes concedeu habeas corpus ao criminoso, o que lhe oportunizou fugir para Assunção – Capital do Paraguai.

A liberdade concedida pelo ministro ao ex-médico estuprador, culminou no ápice do inferno astral de suas vítimas, pois ao saber que o seu algoz monstro se encontrava em liberdade e foragido, algumas até tentaram suicídio, como foi o caso da própria Vana Lopes.

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Somente quem sofreu a violência que essas mulheres sofreram, sabe dimensionar a importância da prisão do réu e o que de fato significou aquele maldito habeas corpus, daí o porque Vana Lopes, demais vítimas de Roger Abdelmassih e muitos cidadãos de bem deste país repudiam o processo movido pelo ministro do STF Gilmar Mendes contra a apresentadora e atriz Mônica Iozzi.

A Vossa Excelência Ministro Gilmar Mendes,

Há dois anos, precisamente em 17/09/2014, escrevi uma Moção de Repúdio endereçada a Vossa Excelência. Ela versava sobre a concessão do habeas corpus ao médico Roger Abdelmassih. Anexei 85 provas a esse documento, que foi escrito com toda a formalidade jurídica necessária, e pessoalmente o protocolei sob o número 15037 nos órgãos pertinentes em Brasília. Fui solenemente ignorada por Vossa Excelência.

Chega de juridiquês. Agora vou escrever com o coração, em nome das vítimas de Abdelmassih e em nome das milhares de mulheres que são violentadas diariamente no Brasil.

Imagine que Vossa Excelência acompanha sua esposa para um tratamento de fertilidade. Enquanto o senhor está na sala de espera, o médico a seda. Ele baixa as próprias calças e a penetra pelo ânus; ato seguido, ele a penetra pela vagina, contaminando-a com bactérias da flora intestinal. Ele ejacula. O senhor continua na sala de espera, ignorando o acontecido.

Depois de uma hora, vossa esposa acorda e o médico a traz sorridente, como se nada tivesse acontecido! Isso foi o que aconteceu com os maridos de muitas das vítimas de Roger Abdelmassih. Eu fui uma dessas vítimas. Conto desta forma crua, em uma última tentativa para que Vossa Excelência se coloque em nosso lugar.

Os estupros de Roger Abdelmassih destruíram nossas vidas. Arruinaram nossos casamentos, nossas carreiras, nossas finanças e nossa saúde mental e física. O estupro é o pior tipo de tortura que existe. Ele machuca a carne, mas também dilacera e rasga nossas almas. Além disso, ainda temos que tolerar olhares e comentários de gente maldosa, que pensa que mulheres que foram estupradas têm algum tipo de responsabilidade pelo ocorrido.

Apesar do número de evidências no processo que indicavam a gravidade dos crimes, o senhor concedeu a Abdelmassih um habeas corpus. A concessão foi feita numa rapidez impressionante e sem lançar um olhar concreto sobre todo o caso, contradizendo um sistema judiciário sabidamente lento. O resultado foi que Abdelmassih aproveitou a oportunidade para fugir.

Quatro anos depois, conseguimos colocá-lo de volta na cadeia com a ajuda de um exército de anônimos, que colaboraram com mais de 300 documentos que auxiliaram a polícia a localizar o criminoso. Tive que contar detalhes do meu estupro, tive que implorar por ajuda em todo esse tempo e sofri ameaças de morte. Nem por isso, jamais, jamais passou pela minha cabeça pedir uma indenização a Vossa Excelência por ter dado a oportunidade a Abdelmassih de escapar.

Vossa Excelência nunca expressou qualquer tipo de arrependimento ou empatia com as vítimas. Nem mesmo uma carta pronta, respondida por intermédio de seus infinitos assessores. Mesmo que vossa decisão tivesse sido fundamentada do ponto de vista legal, uma pessoa minimamente sensível, uma pessoa que tem mãe, irmã, filha, um homem assim teria que sentir algum tipo de desconforto ou constrangimento, qualquer sinal de que se importava com as vidas que Abdelmassih destruiu. Mas não, não houve qualquer tipo de manifestação. Apenas o silêncio.

Como cidadã brasileira, tenho acompanhado a polarização política no país. Devido a esse fenômeno, Vossa Excelência tem a profunda simpatia de parte da população, inclusive a minha, no que tange a julgar, condenar e pôr fim à corrupção. Mas precisamos separar as coisas. A questão aqui não tem nada a ver com as preferências políticas. Independentemente do que Vossa Excelência tenha feito de bom ou possa fazer de bom no âmbito do Direito, no caso específico do violentador Abdelmassih, cometeu um erro.

Agora, arrisca-se a cometer um novo erro: aceitar uma indenização da atriz Monica Iozzi por “ofensa à honra” e doar o dinheiro à caridade para tentar lavar a própria imagem. Que esperava Vossa Excelência, que mulheres honradas desse país não se manifestassem?

Nosso país não precisa de que uma atriz seja punida por expressar justa indignação para servir de “pedagogia” contra futuros “ataques à honra” de ninguém. A pedagogia que o país precisa é a que ensina os juízes a reconhecerem um erro e retificarem; é também a pedagogia que ensina juízes a pensarem duas vezes antes de soltarem um delinquente perigoso. O que o senhor fez não foi um crime, mas foi um erro, um erro grave.

Saiba Vossa Excelência que doar a indenização de Monica Iozzi à caridade não significa nada. Repito, não existe dinheiro que o senhor possa doar à caridade que venha compensar o ocorrido. A única compensação possível seria o arrependimento e a retificação. Para começar, renunciar a esta indenização.

Em segundo lugar, mostrar compaixão e respeito de forma pública pelas vítimas de Abdelmassih. Caso contrário, Vossa Excelência entrará para a história como o juiz que deu a oportunidade de fuga a um homem que se aproveitou de uma nobre profissão para estuprar não uma mulher, mas dezenas, dezenas de mulheres.

Entregarei a Vossa Excelência novamente nos mesmos órgãos da Moção de Repudio, as 30.000 mil assinaturas com comentários de familiares, amigos e cidadãos que desejam moralidade no Brasil. Comunico que para nós na data de hoje, 07 de outubro de 2016, começamos enfim a lavar a honra de vitimas de estupro desse país.

Vanuzia Leite Lopes (Vana Lopes) escritora do livro “Bem vindo ao inferno”, história de Vana Lopes, a vítima que caçou o médico estuprador Roger Abdelmassih

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