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Prisão arbitrária de Eduardo Suplicy foi uma vergonha nacional

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Eduardo Suplicy foi preso por defender pobres. Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, lobista e comprovadamente corrupto, continua solto e debochando da cara da população brasileira e colocando em xeque a lisura da Justiça

O ex-senador e candidato a vereador pelo PT Eduardo Suplicy, 75, foi detido nesta segunda-feira (25) pela Polícia Militar (PM) após protestar contra reintegração de posse na Zona Oeste de São Paulo. Ele foi levado ao 75º Distrito Policial (DP), no Jardim Arpoador. Ele foi liberado às 14h30, após ficar cerca de três horas detido.

Suplicy se deitou na rua para impedir a reintegração de posse e chegou a ser carregado por policiais militares. Após prestar depoimento, Suplicy disse a jornalistas que relatou ao delegado ter deitado no chão para evitar confronto entre policiais e os moradores. “Havia um grupo de policiais militares avançando com escudos e uma escavadeira que estava avançando logo atrás, e do outro lado estavam os moradores, pelo menos 80. Fiquei com receio de que pudesse haver uma cena de violência quase que incontrolável”, afirmou.

Segundo o delegado Gilberto de Castro Ferreira, Suplicy assinou um termo circunstanciado (um tipo de boletim de ocorrência para crimes sem potencial ofensivo) e vai responder por desobediência.

Logo após sua prisão, Suplicy afirmou em sua página do Facebook, por meio de sua assessoria da imprensa, que “a truculência da Polícia Militar do governo Alckmin é inaceitável. Se fazem isso com um ex-senador da República, imagine o que sofre a população que tanto precisa de apoio”. Mais tarde, também em sua página pessoal, o ex-senador publicou um vídeo em que diz que sua atitude “foi para prevenir atos de violência que estavam para acontecer”.

Alckmin: “Suplicy tumultuou”

Em uma nota divulgada ontem, o governo Alckmin disse que Eduardo Suplicy se “aproveitou da fragilidade das famílias para tumultuar” a reintegração de posse do terreno na zona oeste de São Paulo.

O governo “lamenta que o ex-senador Eduardo Suplicy tenha aproveitado a fragilidade de famílias para tumultuar uma reintegração de posse em cumprimento a uma ordem judicial solicitada pela Prefeitura de São Paulo, dona do terreno”, diz a nota.

A nota diz ainda que o ex-senador “insistiu na obstrução da via mesmo após negociação”.

Vergonha

Ao comentar a prisão de Eduardo Suplicy, o jornalista Paulo Nogueira, editor do Diário do Centro do Mundo, disse que o episódio é extremamente simbólico.

“Suplicy vai preso porque defende os oprimidos. Cunha está solto porque defende os plutocratas. Somos uma sociedade que pune quem se coloca ao lado dos excluídos e protege os fâmulos da plutocracia. Por isso somos um dos países mais brutalmente desiguais do mundo”, afirmou Nogueira.

“Criou-se uma situação que ilustra o Brasil destes tempos. Um país que prende Suplicy e deixa solto Eduardo Cunha é um país doente. Não me venham com sofismas. Não me venham dizer que são situações diferentes. Tudo isso é nada diante da simbologia do caso”, disse o jornalista.

Paulo Nogueira lembra que Cunha roubou, mentiu, ameaçou, mudou projetos de lei para beneficiar empresas que patrocinaram sua eleição a deputado federal. “Chamou os brasileiros de débeis mentais ao negar contas milionárias na Suíça provadas pelas autoridades locais. Escarneceu de todos ao fabricar lágrimas e se fazer de coitadinho depois de agir como gangster a carreira toda”.

Quanto a Suplicy, afirma, bastou “agir pelos oprimidos que foi carregado por policiais de Alckmin como se fosse um saco de lixo rumo à detenção. Aos 75 anos”.

“E no entanto, brutalizado por agentes da plutocracia, mesmo sem pisar no chão, Suplicy protagonizou uma marcha gloriosa. Ele escancarou o que é o Brasil real, a terra selvagem em que um homem puro como ele é preso enquanto um canalha corrupto como Eduardo Cunha é recebido pelo presidente interino num palácio.”

De volta às ruas

Horas depois de ser liberado em razão da prisão na reintegração de posse, Eduardo Suplicy voltou às ruas e foi visto na Marcha das Mulheres Negras, na região central de São Paulo.

“Agora estou entre as mulheres. As mulheres negras; e sou solidário a elas, para que venham a ter um futuro melhor e um progresso efetivo na sociedade brasileira”, disse o senador em vídeo divulgado pela revista Fórum.

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