Redação Pragmatismo
Cultura 05/Jul/2016 às 17:30 COMENTÁRIOS
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Gregorio Duvivier narra dia de artista e rebate Marco Feliciano

Publicado em 05 Jul, 2016 às 17h30

Duvivier narra dia de artista e rebate Feliciano. Em vídeo, pastor sugeriu que artistas são vagabundos e mandou profissionais da arte e da cultura "arrumar o que fazer e procurar emprego"

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Gregorio Duvivier e Marco Feliciano

Em artigo para a Folha de S. Paulo, Gregorio Duvivier propõe um dia de artista para todos que acreditam que “artista é vagabundo”.

“Você vai acordar às cinco da manhã. ‘Ah, mas é domingo’. Esse conceito de domingo não existe pro vagabundo. ‘Ah, mas minha família almoça todo domingo’. Ih, filho, melhor esquecer também esse conceito de família. Vagabundo não tem família”.

Ao final do texto, uma provocação ao deputado pastor Marco Feliciano, com quem discutiu durante a gravação ao vivo do programa Pânico, na rádio Bandeirantes.

“Às seis da tarde você está liberado –se você não for da equipe técnica. Nesse caso ainda vai ter que fazer a desmontagem. Mais uma hora e meia de trânsito pra casa, onde vai ter que decorar o texto do dia seguinte, e por aí vai, 12 horas por dia, seis dias por semana: a semana de trabalho do vagabundo tem 72 horas. Ah, mas o dinheiro é ótimo! Certamente menor que o seu, pastor-deputado”.

Recentemente, o pastor Marco Feliciano sugeriu, em vídeo, que os artistas eram vagabundos em razão dos protestos que realizaram contra o fechamento de Ministério da Cultura.

Leia abaixo a íntegra do texto de Duvivier:

Pra quem acha que artista é vagabundo, queria sugerir um programão pra esse domingo: um dia na vida de um vagabundo. Você vai acordar às cinco da manhã. “Ah, mas é domingo”. Esse conceito de domingo não existe pro vagabundo. “Ah, mas minha família almoça todo domingo.” Ih, filho, melhor esquecer também esse conceito de família. Vagabundo não tem família.

Você acorda às cinco, mas a filmagem é só às seis (ufa, tem dia que é às quatro): você tem que ir pra Vargem Pequena –não me pergunte o porquê, mas cinema é sempre longe. No caminho, é capaz que você encontre amigos saindo da balada –ou talvez não, porque ainda é cedo pra sair da balada. Alguns estarão chegando na balada.

Chegando no set, você precisa fazer a barba para que alguém te cole uma barba postiça por cima da pele em carne viva de quem acabou de fazer a barba. São seis da manhã e você está em Vargem Pequena com o rosto cheio de pentelhos colados na bochecha. Isso se você não for mulher. Nesse caso, adicione uma hora colocando base e cílios e apliques e babyliss e megahair.

No figurino, você precisará sobrepor casacos de lã sobre camisas de flanela para curtir o verão de Vargem Pequena –caso seja inverno, o figurino será uma sunga (figurinistas, assim como dentistas e cobradores, caracterizam-se pelo sadismo). Depois que você sobrepôs todas as peças, um microfonista te pede para tirá-las pois ele precisa colocar o microfone na lapela.

Quando a luz e o som estiverem a postos, você deverá falar o texto. Mas tem que projetar a voz, porque tem uma obra rolando na casa ao lado (mesmo que você filme nos Lençóis Maranhenses, sempre haverá uma obra na casa ao lado) enquanto angula a cabeça pra que a luz chegue nos olhos, sempre repetindo os mesmos movimentos idênticos, senão a continuista infarta e, se lembrar, é importante ser engraçado. Caso acerte tudo, vai ter que repetir porque a câmera perdeu o foco (foquistas também se caracterizam pelo sadismo). É matemático: a cada cinco horas de filmagem, filma-se um minuto de filme.

Às seis da tarde você está liberado –se você não for da equipe técnica. Nesse caso ainda vai ter que fazer a desmontagem. Mais uma hora e meia de trânsito pra casa, onde vai ter que decorar o texto do dia seguinte, e por aí vai, 12 horas por dia, seis dias por semana: a semana de trabalho do vagabundo tem 72 horas.

Ah, mas o dinheiro é ótimo! Certamente menor que o seu, pastor-deputado.

GGN

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