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O que há por trás do imbróglio entre o papa Francisco e Mauricio Macri

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Em um gesto de indubitável repercussão política, o Papa Francisco rejeitou a doação de 16 milhões e 666 mil pesos que lhe foram outorgados pelo governo de Mauricio Macri

A rejeição do papa Francisco a uma doação milionária do governo argentino abriu uma nova frente de discórdia entre o Vaticano e o presidente Mauricio Macri.

A rede mundial Scholas Occorrentes, promovida pelo papa para a inclusão educativa e a paz rejeitou a doação e buscará “obter o aporte necessário de maneira imediata por meio dos organismos multilaterais de crédito e da ajuda de privados”, informou em uma carta datada de 9 de junho e destinada ao chefe de gabinete, Marcos Peña.

Macri havia ordenado por decreto a doação de 16,666 milhões de pesos (1,1 milhão de dólares) para pagar os gastos da sede local da rede mundial educativa.

A cifra ‘666’, o número da besta que faz referência a satanás, foi considerada uma “piada de mau gosto” em âmbitos religiosos, afirma o jornal Vatican Insider que cita a “perplexidade do papa” com a doação “imprevista”.

“Tudo é interpretado de forma negativa”, declarou à rádio Continental o diretor da Scholas Occurrentes, José María del Corral, ao colocar panos quentes no assunto.

Peña indicou, por sua vez, que “é um insulto à inteligência pensar que com uma doação de dinheiro pode-se comprar o papa”.

Constrangimento

Para o economista e analista Carlos Fernandes, a recusa do Vaticano representou um constrangimento internacional para o governo de Mauricio Macri.

“O que se especula no centro do poder religioso católico é que a doação seria uma forma de ‘comprar’ a simpatia do santo papa em relação ao governo macrista que sofre de uma avassaladora onda de impopularidade no seu país”, diz.

Além da desmoralização pública, o desconforto com o número da besta é evidente. “Pegou muito mal com o alto clero da igreja a cifra 666 estar presente no valor da doação. Incluir o número da Besta num donativo ao Vaticano é uma grosseria diplomática”, avalia.

A origem do dinheiro também não agrada. “O diretor geral da Scholas Occurrentes, José Maria del Corral, tornou o episódio ainda mais vergonhoso para Macri ao lembrar que essa não é a primeira vez que a fundação recusa esse tipo de doação. Dinheiro vindo da Conmebol também foi recusado devido ao seu envolvimento no esquema de corrupção da FIFA. Liguem os pontos e chegaremos a uma conclusão óbvia”, conclui Fernandes.

Tempos difíceis e mais distanciamento

Ainda de acordo com o Vatican Inseder “a quantia foi considerada como de todo excessiva em tempos em que seu país (Argentina) enfrenta uma delicada situação econômica”.

A rejeição representa um novo distanciamento entre o pontífice e o presidente argentino de centro-direita, que assumiu o governo no dia 10 de dezembro.

O papa recebeu Macri em uma audiência no fim de fevereiro em um encontro sério e formal, de breves 22 minutos, que foi considerado uma demonstração de frieza entre o religioso e o presidente argentino.

Macri assumiu a presidência com a promessa de de obter a ‘pobreza zero’.

Mas nos três primeiros meses de governo, 1,4 milhão de argentinos a mais caíram na pobreza, que afeta 34% da população de 40 milhões de pessoas, segundo um estudo da Universidade Católica.

informações de AFP e DCM

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