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República de bananas

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André Falcão*

Meu país sempre foi o do futuro. Salvo para a espoliação de nossas riquezas e economia pelos mesmos dirigentes e poderosos capitalistas que aplaudiam o nosso futebol e rebolavam ao som dos nossos tamborins, sobre o mais éramos solenemente desconsiderados.

Era o tempo em que um FMI mandava e desmandava em nossa combalida economia, que o pequeno número de turistas brasileiros no exterior era lá ignorado ou desrespeitado, que a imensa maioria do povo brasileiro passava fome. Um tempo em que ministro de estado tirava sapatos para entrar em país “amigo”; em que um vaidoso presidente era um banana subserviente e vendilhão de nossa pátria. Ninguém nos levava a sério.

De 2003 pra cá nos tornamos uma democracia respeitada e pujante economia mundial. Construímos laços de amizade e comércio também com países então solenemente ignorados, com quem criamos um banco, o BRICS. Nossa infra-estrutura, a educação e a saúde sofreram avanços indiscutíveis, apesar das seculares carências ainda presentes. As instituições, pela primeira vez na história, estão livres para combater a corrupção, até seletivamente, contra o próprio governo. Saímos, finalmente, do Mapa da Fome (ONU).

Forças econômicas e políticas poderosas, porém, que jamais aceitaram essas mudanças, aqui representadas pela mídia oligárquica em conluio com setores da justiça e da polícia, promovem, em toda a América Latina, ataques diuturnos contra os respectivos governos.

Utilizando-se de procedimento previsto na Constituição (impeachment), busca-se apear do poder uma presidenta legitimamente eleita, sem a mínima base jurídica. Na linha de frente, parlamentares acusados de corrupção, que bem espelham o perfil dos seus eleitores recém-saídos do armário. Contra a presidenta não há nada. Nada.

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Ao mesmo tempo, agora não se houve mais falar em Lava Jato. Como nunca se ouviu falar em Mensalão do PSDB. O falastrão de Curitiba calou-se. Bandidos, e seu chefe, continuam impunes, sob a benção acovardada do STF. Toda a grande imprensa internacional, diferentemente dos pilantras da grande mídia tupiniquim, condena o golpe travestido de impeachment. Esses bandidos eleitos, e os que os aplaudem, ou com eles hipocritamente marcham, submetem o país a uma vergonha que dói n’alma. Todo o respeito ineditamente conquistado esvaiu-se.

Estamos voltando à condição que sempre desejaram os poderosos: a de uma república de bananas. Mas solamente para o povo, seu eterno macaco.

*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político

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