Nicolas Chernavsky
Colaborador(a)
Política 30/Mar/2016 às 08:00 COMENTÁRIOS
Política

Quem quer o impeachment? O conservadorismo

Nicolas Chernavsky Nicolas Chernavsky
Publicado em 30 Mar, 2016 às 08h00

Tanto o conservadorismo como campo político-social quanto o conservadorismo que existe em cada pessoa; é ele que se posiciona a favor do impeachment da presidenta Dilma e a consequente ascensão de Michel Temer à presidência

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Nicolas Chernavsky*

Quem quer o impeachment? Não é tão simples responder a essa pergunta. Alguns querem, outros não, e tem muita gente indecisa. Inclusive, alguns que não queriam passam a querer, e alguns que queriam passam a não querer.

Qualquer entidade que apoia ou não apoia o impeachment sempre tem muitos dos seus membros que discordam da decisão tomada. Essa mistura de opiniões se vê nos partidos, nas entidades profissionais, nas ruas e no boteco da esquina. Então, no fim das contas, quem quer o impeachment? O conservadorismo. Onde ele está? Está em todo mundo. Está em todas as entidades, em todos os partidos, em todos os sindicatos, em todos os botecos. Mas onde tem conservadorismo tem…progressismo. Juntos e separados ao mesmo tempo, conservadorismo e progressismo disputam cada espaço do Brasil neste momento, defendendo cada um uma posição diferente em relação ao impeachment. Assim, nas mesmas entidades, partidos, sindicatos e botecos em que o conservadorismo está, o progressismo também está, fazendo a disputa. Isso está cada vez mais evidente. Se alguém levantar em um restaurante e gritar “fora Dilma” ou “fora PT”, alguém vai levantar e gritar “fora Cunha” ou “não vai ter golpe”. Não há espaço sem disputa entre conservadorismo e progressismo no Brasil hoje.

Isso acontece também na Câmara dos Deputados. Os meios de comunicação mais conservadores não explicam essa situação, mas em quase todos os partidos, há disputa de posições entre os que querem o impeachment e os que não querem. Trocar Dilma por Temer na presidência não é uma atitude simples para muitos deputados e deputadas, mesmo que não sejam do PT, do PCdoB ou do PSOL, porque o progressismo, em maior ou menor medida, está em todos os partidos, e mais além, em todas as pessoas. Será que os deputados e deputadas, em um momento de reflexão, de diálogo com sua consciência, não vão pensar se trocar Dilma por Temer é mesmo bom para o país? Claro que muitos deputados e deputadas vão votar a favor do impeachment. Mas chegarão a 2/3 da Câmara dos Deputados? Lembro, no final do ano passado, da votação da comissão de impeachment que Eduardo Cunha havia implementado, com voto secreto e sem que as chapas seguissem necessariamente a indicação dos partidos. Posteriormente, o STF anulou a votação, mas quando ela aconteceu, mesmo o voto sendo secreto, os votos pela chapa mais propensa ao impeachment ficaram cerca de 70 aquém dos 2/3 da Câmara dos Deputados. Assim, me pergunto até que ponto realmente não há mais de 1/3 da Câmara dos Deputados suficientemente progressista para não querer substituir Dilma por Temer na presidência.

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Se a disputa entre conservadorismo e progressismo está em todas as pessoas e entidades, neste momento é essencial conversar com os deputados e deputadas federais. Muitos deles(as) devem estar refletindo intensamente sobre a decisão a ser tomada, e é preciso argumentar. É preciso entrar em contato com os deputados e deputadas e argumentar sobre por que não é bom para o Brasil trocar Dilma por Temer na presidência. E o argumento mais importante é aquele que toca na alma do progressista e lhe dá forças pra vencer sua disputa interna: trocar Dilma por Temer é trocar um governo progressista por um governo conservador. Se mais de 2/3 da Câmara dos Deputados quiserem isso, haverá impeachment. Senão, não.

*Nicolas Chernavsky é jornalista formado pela Universidade de São Paulo (USP), editor do CulturaPolítica.info e colaborador do Pragmatismo Político

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