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Escola troca merenda com estrogonofe, arroz e feijão por bolacha e suco

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Estudantes que comiam arroz, feijão, estrogonofe e salada passaram a se alimentar de bolacha e suco em escola de SP. "É ruim porque a gente passa fome", relata aluno. Mudança se deu por não renovação de convênio com o Estado para o preparo e fornecimento da merenda. O motivo é o baixo valor repassado pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB): R$ 0,50 por aluno

Os alunos da escola estadual Valério Strang, em um bairro carente de Mogi Mirim (a 151 km da capital paulista), estavam acostumados com uma merenda farta: arroz, feijão, estrogonofe, salada.

Mas, desde que voltaram às aulas, há duas semanas, se depararam com um cardápio bem mais magro: bolacha com achocolatado ou suco em caixinhas de 200 ml, a chamada “merenda seca”.

“É ruim porque a gente passa fome”, disse um aluno que entrava para a aula na manhã desta sexta (26). “Disseram que na semana que vem a merenda volta. Vamos esperar”, afirmou outro.

A mudança se deu porque a prefeitura não renovou o convênio com o Estado para o preparo e fornecimento da merenda. O motivo alegado é o baixo valor repassado pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB): R$ 0,50 por aluno.

O mesmo acontece em diversos municípios paulistas, como Caieiras e Franco da Rocha, na Grande São Paulo; Americana, no interior, e Ubatuba, no litoral norte. Ao menos 90 mil alunos foram afetados pela mudança. O Estado promete regularizar a situação até 5 de março -e, após ser questionado pela Folha, disse ter resolvido parte do problema na própria sexta-feira.

CUSTOS

“Tivemos que cortar custos na prefeitura e percebemos que aplicávamos R$ 2,47 na merenda, enquanto o governo do Estado só nos repassava R$ 0,50”, afirma Márcia Róttoli Masotti, secretária da Educação de Mogi Mirim.

Segundo as prefeituras, o governo estadual foi avisado cerca de 120 dias antes para que tivesse tempo para organizar a compra de alimentos e contratar merendeiras, que eram dos municípios.

A responsabilidade pela merenda na rede estadual é do governo paulista, que recebe uma complementação da União. Já os convênios com os municípios são opcionais: aderem os que quiserem.

“Tenho 30 anos na educação e isso nunca tinha acontecido. Foi triste porque não pudemos ajudar”, diz Márcia. Segundo ela, o dinheiro “economizado” (R$ 1,2 milhão) será aplicado em duas creches a serem abertas neste ano.

De acordo com a secretária, a prefeitura avisou o Estado que não renovaria o convênio em outubro de 2015. “Desde 2014 a gente vinha dizendo que não ia renovar. O governo prometeu ajuda, mas não chegou nada”, afirmou.

Mogi Mirim tem 11 escolas estaduais e cerca de 11 mil alunos. “Está todo mundo reclamando. Não dá pra oferecer bolacha e Toddynho todo dia”, disse Suelen Gabriel, 31, mãe de uma estudante. Já Marcela de Martini, 32, mãe de duas meninas, reclamou que as despesas em casa aumentaram com a redução da merenda. “Tivemos que comprar mais coisas para elas levarem. Está tudo ruim.”

Venceslau Borlina Filho, Folhapress

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