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De que cor são as vestes da moral?

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A vida íntima de FHC não nos interessa. As manobras sim. E de que cor são as vestes da moral? Será que ela serve de disfarce, em suas cores diáfanas, para esconder a imundície humana?

(Imagem: FHC durante cerimônia de nomeação da Academia Brasileira de Letras / Fotos Públicas)

Mailson Ramos*

Nem as escadarias da Igreja do Bonfim após a lavagem parecem estar tão limpas quanto a consciência de FHC e dos moralistas sem moral. Porque deles emana a sensação de que, se a moral utiliza vestes, elas são brancas e intangíveis como as suas dissimuladas consciências.

Nada que a mídia não consiga alvejar ainda mais com artigos edificantes dos colunistas apaixonados por um príncipe que virou sapo. E no desvão da paixão desenfreada, Noblat e Cantanhêde se extremam em defesa unilateral da moral sem vestes do FHC.

O ex-presidente deixou cair as vestes esbranquiçadas numa lama fétida e putrefata. E isso causa repercussão justamente porque aqueles que não têm moral costumam imputá-la aos outros.

Há alguns meses, nas palavras de FHC a renúncia da presidenta Dilma seria um gesto de grandeza. Hoje os questionamentos o pressionam a ter um gesto de grandeza e explicar as manobras feitas para, por exemplo, enviar dinheiro para a ex-amante no exterior.

E o tecido sujo que se arrastou sobre a pele de FHC acabou respingando no José Serra e sua mais ausente funcionária, também conhecida como Margrit Dutra e irmã da Mirian. Esta ilibadíssima funcionária pública ia ao Senado uma vez por mês bater o ponto e depois se ausentava, segundo o Serra, para “trabalhar num projeto sigiloso”.

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Nem mesmo ao jornal O Globo o senador soube explicar qual era a frequência de Margrit, se ela trabalhava em seu gabinete ou não; o que nos mostra a imundície causada pela meritocracia. Não sabendo sobre a sua capacidade laboral, podemos dizer que ela é boa em protestar contra a corrupção. Uma piada pronta!

Num país em que o judiciário travou perseguição contra um ex-presidente por um sítio que não é dele – espetacularizando compra de barco de lata, pedalinho no lago e horta – outro ex-presidente é defendido com unhas e dentes em artigos de extremada argumentação.

Vivemos no país da dissimulação onde a verdade tem apenas uma face? O que espera a Polícia Federal para investigar o assunto? Devemos priorizar assuntos na agenda, como disse a Cantanhêde, para não deixar cair a perseguição ao Lula e sua família? Ou devemos colocar a culpa na Mirian e isentar este homem digníssimo com ares de garanhão de sangue azul?

Há de se ganhar muito descobrindo o que está por trás das vestes da moral, ainda que não se saibam as cores que ela veste.

No fim, não importa muito a cor das vestes da moral, porque FHC sequer as usou ou as usou para difamar seus adversários e posar de Príncipe dos Sociólogos. Principesco sim porque o status lhe concede a posição, mas sem um pingo de moral.

*Mailson Ramos é escritor, profissional de Relações Públicas e autor do blog Nossa Política. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político.

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