Categories: Saúde

Como a Neurociência pode ajudar a educação em sala de aula

Share

Neurociência pode oferecer caminhos para uma educação melhor na sala de aula. Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP mostra interfaces entre as descobertas científicas sobre o funcionamento do cérebro, o processo de aprendizagem na escola e a promoção de saúde

Júlio Bernardes, USP

Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP mostra interfaces entre as descobertas científicas sobre o funcionamento do cérebro, o processo de aprendizagem na escola e a promoção de saúde. O estudo da educadora Neuza Mainardi aponta que um estímulo adequado do professor pode fazer o aluno se empenhar mais para aprender, de modo a aumentar sua autoestima. Isso o torna mais ativo no dia-a-dia, o que melhora sua qualidade de vida e, em consequência, a sua saúde.

Neuza aponta que as pesquisas na área neurológica se intensificaram na última década do século 20, conhecida como “a década do cérebro”. Uma das descobertas mais importantes da neurociência foi a da plasticidade cerebral. “Durante todo o século 20, acreditava-se que os seres humanos iam perdendo, ao longo da vida, os neurônios com que nasciam”, conta. “Entretanto, ao aprofundarem os estudos sobre o funcionamento do cérebro os cientistas descobriram que as células nervosas se renovam e se adaptam. Elas são sensíveis às mudanças ao redor e excitáveis, gerando sentimentos, pensamentos e comportamentos”.

O estudo relaciona quinze pontos coincidentes ou complementares entre neurociência, educação e promoção da saúde. “Por exemplo, sabe-se que o cérebro humano tem capacidade de criar mapas e imagens, de fora para dentro por reações físicas e químicas aos estímulos que recebe do meio”, diz Neuza. Na educação, o incentivo (externo) que os professores oferecem aos alunos visa criar neles a motivação (interna) e a vontade de aprender, devido a atividade neural. “A consequência, no que diz respeito à promoção de saúde, é que o aluno motivado tem mais chance de ter melhor qualidade de vida porque o sucesso aprimora a autoestima”.

A educadora lembra que a plasticidade cerebral contribui para a adaptabilidade do comportamento. “O papel condutor da educação interfere na atividade da criança e em sua atitude diante da realidade, o que amplia aos poucos a sua consciência”, diz. “Nas experiências psíquicas estão emoções e sentimentos que interferem na qualidade de vida. Os estímulos do professor quando positivos, geram pensamentos e comportamentos que favorecem o processo de ensino-aprendizagem”.

Desenvolvimento do cérebro

De acordo com os neurocientistas, os estímulos ambientais ampliam as conexões entre neurônios, havendo uma relação entre as experiências de vida e o desenvolvimento do cérebro. “A aprendizagem pode ser mais eficiente se o professor conhecer a vida da criança em casa, tendo mais contato com as famílias, por meio das reuniões de pais ou mesmo chamando os familiares, se for necessário, demonstrando interesse pelo aluno”, observa Neuza. “Quanto maior o contato, mais segurança o professor terá para planejar o processo educacional, além de dar mais segurança ao aluno, pois ele se sente acolhido pela escola ao perceber que sua família é bem-vinda”.

Os princípios da psicologia e da neurociência podem ser aplicados no trabalho diário do professor se ele entender como o cérebro humano reage aos estímulos e procurar despertar no aluno uma atitude positiva. “Por exemplo, quando o aluno é elogiado por uma tarefa que faz em sala de aula, acontecem reações elétricas e químicas no sistema nervoso que fazem com que ele se sinta capaz de aprender. O estímulo melhora sua autoestima, ele aprende com mais facilidade e vive a experiência escolar com alegria. Além de ir a escola com prazer, no seu dia-a-dia terá mais entusiasmo para tudo, inclusive para fazer atividades físicas, o que traz qualidade de vida e melhora a saúde”, diz a educadora. “O professor deve sempre buscar um ponto positivo para enaltecer o aluno, mostrar que ele tem valor, não fazendo apenas críticas que podem gerar desinteresse pela escola”.

Segundo Neuza, o conceito de promoção da saúde passou a ser difundido em todo o mundo após a divulgação da Carta de Ottawa no Canadá, em 1986, durante a 1a Conferência Internacional para a Promoção da Saúde. “Anteriormente, saúde era vista como ausência de doença. Com a Carta de Ottawa, saúde passou a ser sinônimo de qualidade de vida, vivenciada no dia-a-dia”, relata. “No Brasil, após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, os Parâmetros Curriculares Nacionais estabelecem a saúde como tema a ser trabalhado de forma transversal e contextualmente, em todos os níveis, tornando a escola uma promotora de saúde, não só dos alunos, mas de toda a sociedade”.

A educadora defende que o profissional de educação precisa se conscientizar do papel que tem como formador, muito mais do que apenas como transmissor de informações, e buscar compensar as possíveis falhas do seu curso de formação profissional. “Sempre cabe um repensar e se pode melhorar a atuação a cada dia”, afirma. “A internet pode ajudar bastante os que têm vontade de se atualizar”.

Neuza destaca que a educação determina em grande parte o bem-estar e a felicidade que a pessoa possa ter na vida. “Não se apaga o que se faz em educação, sejam aspectos positivos ou negativos”, conclui. A pesquisa, realizada durante pós-doutoramento na FSP, teve a supervisão da professora Isabel Maria Teixeira Bicudo Pereira.

Leia também:
Destruidores do mundo apoiam-se numa ideia que nasce em Platão
Neurocientistas revelam 4 técnicas para acelerar o aprendizado e melhorar a concentração
Neurocientistas listam as 10 músicas que podem diminuir a ansiedade
Por que acreditamos em deuses, fantasmas, anjos e demônios?
Religiosidade poderia ser tratada como doença mental, diz neurocientista

Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook