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O desabafo do pai do bebê esfaqueado em Santa Catarina

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"Aquele marginal tem que morrer na cadeia. Acabou com o meu mundo", diz índio pai de bebê assassinado. Ele acredita que o crime foi encomendado. Há um homem em prisão temporária desde o dia seguinte ao crime bárbaro

Crianças indígenas seguram cartazes após morte de bebê em Santa Catarina (Imagem: Daniel Caron/FAS)

O artesão indígena Arcelino Pinto, 42, não entendeu direito o que havia ouvido na TV por volta do meio-dia do último dia 30 de dezembro, em Imbituba, cidade no litoral de Santa Catarina.

Era uma reportagem sobre o assassinato de uma criança indígena na rodoviária da cidade (saiba mais aqui), onde ele e vários índios caingangues acampavam havia duas semanas.

Só depois Arcelino entendeu que a criança era seu filho Vitor, de dois anos.

“Passou no jornal das 12h e eu fiquei em dúvida”, diz. “Quando cheguei lá na rodoviária, minha mulher não estava. Eu disse: ‘aconteceu alguma coisa’. Fui à delegacia e ela estava lá. De longe, falei: ‘e o nenê?’ Ela respondeu: ‘esfaquearam’. Acabou com o meu mundo.”

Arcelino e o grupo costumam acampar na rodoviária, aonde foram vender o artesanato produzido por sua aldeia, a Condá, a 14 km de Chapecó (SC).

Naquele dia, ele saiu para trabalhar às 7h com dois de seus filhos. Vitor ficou na rodoviária com a mãe, Sônia. Por volta das 11h40, a criança brincava sob uma árvore, quando um rapaz se aproximou, acariciou seu rosto e o degolou com um instrumento cortante –provavelmente um estilete, segundo o delegado Rafael Giordani, que investiga o caso.

“Assim que ele passa a navalha, vira as costas e sai correndo. A mãe abraça a criança e tenta pedir socorro. Um taxista tenta correr atrás do cidadão, mas o perde de vista”, detalha o delegado.

Há um suspeito em prisão temporária desde o dia seguinte ao assassinato. Matheus de Ávila Silveira, 23, desempregado. Ele ainda não possui advogado. Segundo o delegado Giordani, Silveira ficou calado no primeiro interrogatório, mas negou a autoria do crime quando foi ouvido pela segunda vez.

No quarto dele, a polícia apreendeu roupas que batem com o registrado por câmeras de segurança do local.

Giordani conta que o suspeito foi autuado por violência doméstica há oito meses, quando tentou agredir o pai com uma faca. “Ele é meio complicado”, diz.

Silveira tentou suicídio por asfixia com a espuma do colchão da cela logo que foi detido e tem o costume de se flagelar, segundo o delegado. Policiais dizem que ele teria problemas mentais.

“Aquele marginal tem que morrer na cadeia”, desabafa o artesão, que acredita que o crime foi encomendado para forçar os indígenas a deixarem a rodoviária. O delegado, porém, diz que não há indícios de que o assassinato da criança tenha ocorrido por motivações étnicas.

Jacson Santana, do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), explica que a relação dos índios caingangues com a população branca é bastante conflituosa.

“O artesanato é a fonte de renda deles, que vão vender em outras cidades. Isso às vezes incomoda brancos, porque eles costumam acampar nas rodoviárias”, afirma. “O menino Vitor é um caso mais grave porque envolve violência física, mas eles estão sujeitos a uma série de violências simbólicas.”

A família voltou à aldeia, a 620 quilômetros de distância, dias depois do assassinato. “Ele era bem alegre e inteligente, conversava com qualquer um. O irmão mais velho dele, com 7 anos, diz que está com saudades, porque sempre brincavam juntos”, diz Arcelino.

Folhapress

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