Nicolas Chernavsky
Colaborador(a)
EUA 12/Jan/2016 às 17:09 COMENTÁRIOS
EUA

A eleição mais influente do mundo começa em 3 semanas

Nicolas Chernavsky Nicolas Chernavsky
Publicado em 12 Jan, 2016 às 17h09

As eleições mais influentes do mundo começam em três semanas e se realizam em um sistema eleitoral virtualmente inexistente no resto do planeta, que consiste em um modelo de dois turnos em que o primeiro acontece mais de 6 meses antes do segundo. No atual contexto, Bernie Sanders tem chances reais de chegar à Presidência, e sua eleição seria uma vitória extraordinária do progressismo mundial

Bernie Sanders futuro presidente progressista EUA
Bernie Sanders: futuro presidente progressista dos EUA?

Nicolas Chernavsky*

As eleições nos países em que não moramos não são apenas fatos pitorescos que nos influenciam marginalmente. Elas são, em seu conjunto, provavelmente tão ou mais importantes que as eleições no próprio país em que moramos. E entre todas as eleições do mundo, a mais importante vai começar a ocorrer daqui a três semanas, no dia 1º de fevereiro de 2016. São as eleições presidenciais dos Estados Unidos, disputadas em um sistema eleitoral que na prática possui dois turnos. O primeiro turno, que são as prévias dos partidos Democrata e Republicano, ocorrerá aproximadamente de fevereiro a abril deste ano, e o segundo turno, em que disputam os vencedores das duas prévias, será em novembro também de 2016.

O sistema pode ser considerado de dois turnos por um conjunto de razões. Uma delas é que a disputa nas prévias dentro dos dois partidos ocorre entre projetos políticos bastante diferentes, a ponto de modificar intensamente o sentido do segundo turno, em novembro. Por exemplo, em 2008, as prévias no Partido Democrata, entre Hillary Clinton e Barack Obama, foram uma eleição em si, profundamente influente, como seria um primeiro turno. Neste ano de 2016, ocorrerá o mesmo, com a disputa entre Hillary e Bernie Sanders no Partido Democrata, sem contar que a disputa no Partido Republicano também é relativamente diversa, podendo vencer um candidato extremamente conservador, Donald Trump.

Outra razão pela qual as prévias de aproximadamente fevereiro a abril podem ser consideradas um primeiro turno é que em novembro, o sistema eleitoral praticamente força uma disputa entre apenas dois candidatos, através da conjugação entre a ausência de um turno posterior no qual disputem apenas os dois primeiros colocados e a existência do Colégio Eleitoral. Quantos à prévias aproximadamente de fevereiro a abril, o primeiro estado a realizá-las vai ser Iowa, no próximo dia 1º de fevereiro.

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Assim, neste primeiro turno no Partido Democrata, temos uma disputa em muitos sentidos semelhante à de 2008 entre Hillary e Obama. Como em 2008, Hillary e seu campo tentam criar um clima de “já ganhou”, estratégia que dessa vez está muito prejudicada pela experiência de 2008, quando Obama acabou vencendo contra praticamente todos os prognósticos. Assim, agora em 2016, Bernie Sanders é o “Obama” da vez, subindo gradualmente nas pesquisas e se posicionando como o candidato do progressismo do Partido Democrata, enquanto Hillary representa o conservadorismo do Partido Democrata. Quem vencer vai representar o progressismo estadunidense no segundo turno em novembro, mesmo se for Hillary, pois no segundo turno há uma configuração nacional dos campos políticos na qual o progressismo se inclina muito mais para o Partido Democrata e o conservadorismo se inclina muito mais para o Partido Republicano.

E o que significaria uma vitória de Bernie Sanders para o mundo? Muita coisa. Os Estados Unidos têm uma imensa influência militar, financeira, política e cultural no mundo. Sanders se autodenomina “socialista democrático”. Claro que sua definição de socialismo é apenas uma entre muitas que existem, mas uma coisa ele deixa claro: o tempo em que vamos aceitar cabisbaixos que existam simultaneamente bilionários e milhões de pessoas miseráveis, seja nos Estados Unidos, seja no mundo, acabou. Vamos olhar para os Estados Unidos com esperança. Eles têm democracia sim, e lá, como em todos os países em que existe, ela é a luz que nos leva para o futuro.

*Nicolas Chernavsky é jornalista formado pela Universidade de São Paulo (USP), editor do CulturaPolítica.info e colaborador do Pragmatismo Político

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