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Após ENEM, internautas editam página de Simone de Beauvoir na Wikipédia

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Após Enem 2015, verbete da Wikipedia sobre Simone de Beauvoir é vandalizado. Filósofa francesa ganha acusações de nazista e até pedófila. Página já foi alterada mais de 40 vezes

Helô D’Angelo, Revista Fórum

Depois do tema de redação do Enem – a violência contra a mulher -, foi a vez da filósofa Simone de Beauvoir ser atacada na internet. Além de críticas dos deputados federais Marco Feliciano (PSC-SP) e Jair Bolsonaro (PP-RJ) e do blogueiro Rodrigo Constantino sobre a questão que envolvia Beauvoir, o verbete em português da Wikipedia sobre a teórica francesa foi alterado mais de 40 vezes desde sábado (24), quando a questão que a citava foi divulgada nas redes sociais.

Em uma das primeiras edições, um usuário adicionou à descrição principal que “Simone é muito conheçida [sic] por seu comodismo e pela luta na justiça por uma lei que proibia o trabalho das mulheres fora de casa.” Autora, entre outros livros, de O Segundo Sexo, Beauvoir é um dos nomes mais importantes para o feminismo – e, portanto, para a inserção da mulher no mercado de trabalho.

Segundo outras edições, que foram rapidamente corrigidas, a autora teria escrito “romances, monografias sobre filosofia, política, sociedade, ensaios, biografias e uma autobiografia. Só não entendia nada de biologia”. Mais tarde, a mesma frase foi editada para “Escreveu livro de estupro, monografias sobre filosofia, política, sociedade, ensaios, biografias e uma autobiografia”.

No domingo (25), os ataques ao verbete tomaram outras proporções, com edições que acusavam a autora de pedofilia. Uma seção “Polêmica sobre pedofilia” foi adicionada e mantida até o momento de fechamento desta nota.

“Para Beauvoir (assim como para Sartre), a idade não importava, contanto que as parceiras fossem mais jovens do que ela e Sartre. A possibilidade de que as outras pudessem se ferir ou ser exploradas não passava nem remotamente pelo radar da eminente feminista, que pensava que ‘preparar’ garotas para Sartre lhes tirar a virgindade (palavras de Sartre, não minhas) era em si e por si um ato de empoderamento sexual para aquelas meninas”, dizia uma das primeiras edições.

Em seu perfil no Facebook, a filósofa e feminista Djamila Ribeiro, estudiosa de Beauvoir, comentou a respeito das adulterações.

“Eu estudo a obra dela a sério, não tenho tempo a perder com textos desonestos de blogs anti feminista ou de wikipedia. Do mesmo modo me recuso a debater frases tiradas de contexto ou excertos onde as pessoas fazem afirmações categóricas a partir deles sem nem terem lido a obra dela. Eu estudo a obra de Beauvoir assim como a obra de outras teóricas e inclusive faço críticas a Beauvoir na minha dissertação a partir da perspectiva do feminismo negro. Isso significa que deslegitimo a obra de Beauvoir? Só se eu fosse louca, a obra dela é um marco. Vamos parar com desonestidade e de tratar obras tão sérias como fla flu ideológico ou pra fazer sensacionalismo pseudo crítico (…). Vocês entram num imediatismo absurdo para querer provar quem tem razão, para ganhar likes e desrespeitam todo um trabalho, um sistema filosófico”.

Nos verbetes em inglês, em espanhol e francês, não há menção à suposta pedofilia da autora.

Confira algumas questões do ENEM 2015:

Questão 26

A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que um deles possa com base nela reclamar algum benefício a que outro não possa igualmente aspirar. HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

Questão 34

A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um. NIETZSCHE, F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

Questão 40

A crescente intelectualização e racionalização não indicam um conhecimento maior e geral das condições sob as quais vivemos. Significa a crença em que se quiséssemos, poderíamos ter esse conhecimento a qualquer momento. Não há forças misteriosas incalculáveis; podemos dominar todas as coisas pelo cálculo. WEBER, M. A ciência como vocação. In: GERTH, H.; MILLS, W. (org). Max Weber: ensaios da sociologia. Rio de Janeiro, Zahar, 1979 (adaptado).

Questão 42

Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino. BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

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