Redação Pragmatismo
Racismo não 06/Ago/2015 às 23:24 COMENTÁRIOS
Racismo não

A lição que fica do caso Fernanda Lima e as babás negras

Publicado em 06 Ago, 2015 às 23h24

Não dá para afirmar que houve racismo no ato de Fernanda Lima, mas em meio aos questionamentos gerados a partir da publicação da apresentadora há uma certeza: ou as “celebridades” aprendem que a democracia racial brasileira é uma balela ou seguirão sendo contestadas na internet

fernanda lima babás negras

Marcos Sacramento, DCM

Em meio aos questionamentos se o post das babás da modelo Fernanda Lima no Instagram foi ou não racista há uma certeza: ou as “celebridades” aprendem que a democracia racial brasileira é uma balela ou continuam a levar pancadas na internet.

Ao publicar as fotos das funcionárias Angela e Tayane Dias, a modelo foi criticada por uma seguidora, que lembrou do peso histórico representado pela imagem das duas babás negras. “O mais triste desse país não é o fato de estarem vestidas de branco ou não, é o fato de sempre vermos pelo passado escravocrata esse tipo de foto, a sinhá branca falando ‘olha, minhas negras não vivem na senzala, são da casa’. Pode até tratar bem, mas infelizmente elas sempre serão as babás e a sinhá sempre será a boazinha, tipo Princesa Isabel. Um dia, neste, país ainda vamos ver os negros no poder e não só subalternos como essa foto”, escreveu.

Com a popularização das redes sociais, acabou o tempo em que insinuações racistas ou postagens reveladoras sobre as tensões raciais passavam despercebidas.

As críticas contra a campanha oportunista “Somos Todos Macacos”, o infeliz “blackface” de Michel Teló e o comentário grotesco de Fausto Silva a respeito do cabelo da dançarina da funkeira Anitta estão aí para comprovar.

Se fosse mais atenta, Fernanda Lima evitaria o post que elogia o estilo das funcionárias e se orgulha de que elas não usam uniforme branco, mas em vez disso agiu com ingenuidade, como se nunca tivesse se envolvido em uma polêmica de teor racista antes.

Em 2013, surgiram especulações de que o casal Lázaro Ramos e Camila Pitanga, cotado para apresentar o sorteio dos grupos da Copa do Mundo de 2014, foi substituído por Fernanda Lima e e Rodrigo Hilbert.

Na época, a modelo manifestou sua indignação em um depoimento asséptico e despolitizado à jornalista Mônica Bergamo. “Eu sou funcionária, uma comunicadora. Fui convocada e como tal aceitei e vou fazer o meu trabalho. O que eu tenho a ver com isso? Só porque eu sou branquinha? Não discrimino ninguém. Também não levanto bandeiras. Simplesmente acho que a gente tem que ser respeitado, sem violência. Eu não alimento esse tipo de coisa”.

Quase dois anos depois, a modelo manteve o mesmo tom na resposta à internauta que a chamou de “Sinhá Fernanda”. “Querida, essas meninas são filhas de uma grande amiga e não trabalhavam. Quando tive meus meninos, liguei pra ela perguntando se elas queriam uma oportunidade de trabalho porque eu estava disposta a ensinar, já que saquei que, apesar de difícil, a profissão de babá pode ser muito rentável. Desde então elas convivem com nossa família, comemos na mesma mesa, conversamos e trocamos confidências como amigas e ainda as remunero muito bem. Sem queixas, nem crises por parte de ninguém”.

Como se dividir a mesa anulasse a hierarquia entre patroa e empregada e o abismo de oportunidades entre negras e brancas. Trabalhando há 24 anos como modelo, atriz e apresentadora, Fernanda Lima teria que ser muito distraída para não perceber a escassez de colegas negros.

Formada em jornalismo, provavelmente sabe que o biotipo dela e da maioria das companheiras de profissão não representa o fenótipo predominante dos brasileiros. O que talvez ela ainda não perceba é que o mundo está mudando em direção ao reconhecimento dos direitos das chamadas minorias. Piadas que antes faziam graça hoje são ofensivas, situações outrora vistas como naturais são passiveis de críticas e a internet amplificou a voz do cidadão comum, que não reluta em futucar os armários alheios em busca de esqueletos.

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