Redação Pragmatismo
Mulheres violadas 27/Jul/2015 às 13:27 COMENTÁRIOS
Mulheres violadas

A desonestidade da mídia no caso da morte da professora Mariana

Publicado em 27 Jul, 2015 às 13h27

A professora Doutora Mariana de Oliveira morreu depois de uma cesárea. Não depois de tentar um parto em casa, como sugeriram as manchetes de grande parte dos veículos de comunicação do Brasil. Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) divulgou uma nota de esclarecimento sobre a morte de Mariana

Mariana de Oliveira Fonseca
A professora Mariana de Oliveira Fonseca (reprodução)

Cada vez que uma mulher morre depois de tentar um parto em casa, o status quo comemora. Mesmo que haja uma família sofrendo, uma criança órfã.

Assim foi quando divulgado nos últimos dias que a enfermeira Mariana de Oliveira Fonseca Machado, 30, Professora Doutora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, morreu dez dias depois de… uma cesariana. Sim. O filho dela nasceu depois de uma cirurgia.

As manchetes, no entanto, afirmaram que ela morreu depois de 48 hs tentando ter um filho em casa. E embora haja poucas informações sobre a causa da morte de Mariana, a UFSCAR, Universidade Federal de São Carlos, manifestou-se sobre a morte da professora da instituição e esclareceu que Mariana chegou ao hospital para o parto em “perfeito estado de saúde”.

Destaco apenas uma frase do comunicado, antes de reproduzi-lo na íntegra. “Preconceitos em relação ao parto natural e a cultura de cesariana brasileira, associados à falta de responsabilidade no compartilhamento de informações nas redes sociais e na mídia, levaram a divulgações equivocadas sobre o caso.” Aqui está uma parte da história. E desde já, meus sentimentos à família de Mariana.

Leia abaixo a íntegra do comunicado:

“A Professora Doutora Mariana de Oliveira Fonseca-Machado, enfermeira obstetra, mestre e doutora pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP, era docente e pesquisadora da área da Saúde da Mulher do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos.

Com base em seu conhecimento e acompanhamento médico durante o pré-natal, que evidenciou uma gestação sem intercorrências, aguardou a evolução para um parto natural. Assim, a Prof.a Mariana entrou em trabalho de parto no sábado, dia 11 de julho, estando acompanhada por profissional capacitado durante todo o processo.

Para continuidade do trabalho de parto, encaminhou-se ao hospital no início da noite do mesmo dia, chegando ao local em perfeito estado de saúde. Algumas horas depois, Mariana foi submetida à cesariana, tendo a oportunidade de pegar sua filha no colo e amamentá-la. Posteriormente, foi encaminhada ao quarto junto com sua filha e, poucas horas depois, iniciou um quadro de complicações, que resultou no trágico desfecho.

Infelizmente, preconceitos em relação ao parto natural e a “cultura de cesariana” brasileira, associados à falta de responsabilidade no compartilhamento de informações nas redes sociais e na mídia, levaram a divulgações equivocadas sobre o caso. Dados científicos indicam que a cesariana aumenta o risco de morte materna em 3-5 vezes, comparada ao parto normal.

Dentre todas as causas de morte materna a hemorragia é a mais frequente delas. Em solidariedade à família da professora Mariana, o Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos manifesta seu profundo repúdio às manifestações sensacionalistas veiculadas.

Como instituição dedicada à promoção de conhecimento, convidamos toda a comunidade à reflexão e colaboração para que a verdade deste triste episódio seja esclarecida, contribuindo para a melhora do cuidado à saúde das grávidas do Brasil.

São Carlos, 24 de julho de 2015.
Coordenadoria de Comunicação Social – Universidade Federal de São Carlos Telefone: (16) 3351-8119″

Rita Lisauskas, Agência Estado

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