Redação Pragmatismo
Barbárie 12/Mai/2015 às 13:09 COMENTÁRIOS
Barbárie

Chamada de vagabunda, petista, comunista e obrigada a ficar nua

Publicado em 12 Mai, 2015 às 13h09

Estudante acusa PM do Paraná de obrigá-la a ficar completamente nua depois do massacre no Centro Cívico. A jovem relatou que foi humilhada e chamada de vagabunda, comunista e petista. Outros casos de abusos também foram registrados e estão sendo investigados pelo Ministério Público

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Estudante da UEL relata ter sido despida e humilhada no Palácio Iguaçu (Imagem: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)

Pelo menos quatro alunos denunciaram ao Ministério Público (MP-PR) agressões e torturas sofridas dentro do Palácio Iguaçu, sede do governo do Paraná, no fatídico 29 de abril – dia do massacre contra professores e servidores do Estado. No relato mais grave, uma estudante da Universidade Estadual de Londrina (UEL) alegou ter sido obrigada a ficar completamente nua.

A jovem de 19 anos contou em depoimento ao Ministério Público que foi levada para uma sala do Palácio Iguaçu e obrigada a tirar toda a roupa. Ela disse ainda que foi humilhada e chamada de “vagabunda, comunista e petista”.

As denúncia, que foi inicialmente publicada pelo Jornal de Londrina, ganhou repercussão nacional.

O depoimento foi prestado ao promotor de Direitos e Garantias Constitucionais de Londrina, Paulo Tavares. O promotor afirmou que irá encaminhar a denúncia à comissão do MP, formada para investigar o massacre do Centro Cívico.

Outros abusos

Outro estudante, também detido durante o conflito, afirma que foi agredido pelos policiais. Segundo ele, os agentes estavam à paisana, ou seja, sem a farda “Só consegui reconhecer depois que eu fui carregado até dentro do Palácio Iguaçu passando pelo cordão de policiais que estavam em volta. Eu fui carregado pelo pescoço. Chegando lá a gente foi ofendido diversas vezes. A gente tentava o tempo todo tentar descobrir por que a gente estava sendo detido”, afirma. O caso também foi denunciado ao Ministério Público.

O promotor Paulo Tavares não acredita na participação deles em qualquer ato de depredação ou de enfrentamento contra os policiais. “Nós não pudemos verificar que eles participaram de forma violenta. Pelo contrário, foram acuados e vítimas de uma ação policial que ultrapassou os limites da normalidade”, diz.

Momentos de terror

Professores e alunos denunciaram ainda a presença dos chamados ‘P2’, como são conhecidos os policiais a paisana, que estariam infiltrados entre os professores no dia do lamentável episódio. “Eles (estudantes) foram tratados com muita brutalidade. A menina, em especial, foi separada dos rapazes, levada para uma sala com duas PMs e foi obrigada a se despir. A chamaram de vadia, vagabunda, petista, comunista, black bloc, tudo isso. O nome disso é tortura”, afirmou o advogado e professor do curso de Direito da UEL, César Bessa.

“Eu e mais nove professores ficamos detidos do lado de fora do palácio. Os alunos foram levados lá para dentro e sofreram de tudo. Só faltou pau de arara. Enquanto as bombas explodiam do lado de fora, eles sofriam agressões lá dentro. Tentei me apresentar como advogado que sou, para defendê-los, mas (os PMs) formaram um círculo e não nos deixaram passar”, relembrou Renato Lima Barbosa – presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Superior Público Estadual de Londrina e Região.

“Está todo mundo muito assustado. Os alunos ficaram uma hora sofrendo essas agressões dentro do palácio do governo. Ainda por cima seguraram os telefones celulares deles, violaram a intimidade de todos. Claro, não acharam nada porque não havia nada a ser achado”, ponderou Barbosa. No fim deste mês, os estudantes terão de voltar a Curitiba, para responder por atentado contra o Estado.

“Oferecemos ajuda psicológica e jurídica aos alunos, mas é importante ficar claro que vivemos em um Estado de direito. As pessoas precisam se tocar (…). É importante que as pessoas continuem demonstrando indignação com as coisas que estão acontecendo aqui no Paraná. Aqui, a ditadura não acabou. Ela não é militar, mas sim de pessoas truculentas, autoritárias, e que se consideram personalidades diferentes a ponto de espancar professores”, concluiu Bessa.

Demissões

Três responsáveis diretos pela barbárie no Paraná pediram demissão dos cargos que ocupavam. Primeiro, o então secretário de Educação do Paraná, Fernando Xavier, envolvido na negociação com os professores em greve, pediu exoneração na última quarta-feira (6).

Segundo, o coronel da Polícia Militar do Paraná, César Kogut, pediu exoneração do comando da corporação no último dia 7. Ele alegou ao governador Beto Richa (PSDB) “dificuldades insuperáveis” no relacionamento com a direção da Secretaria da Segurança Pública. Kogut responsabilizou o então secretário da Segurança, Fernando Francichini, pela ação policial contra os professores e servidores estaduais, que deixou 213 feridos.

De acordo com o ex-comandante, o planejamento e o tamanho da operação, que contou com 1,6 mil policiais, foram determinados por Francischini e pelo subcomandante-geral da PM, coronel Nerino Mariano de Brito. “O secretário conhecia e participou de tudo”, disse Kogut.

No dia seguinte (8), Fernando Francischini pediu demissão do cargo. O chefe de todos eles, governador Beto Richa, continua no poder.

VEJA TAMBÉM: O cinegrafista mordido pelo cachorro da PM do Paraná falou pela primeira vez

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