Redação Pragmatismo
Geral 08/Abr/2015 às 21:00 COMENTÁRIOS
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Uma análise do encontro de Bolsonaro e Jean Wyllys no voo da TAM

Publicado em 08 Abr, 2015 às 21h00

Jair Bolsonaro disse que se sentiu humilhado e vítima de "heterofobia" quando Jean Wyllys se recusou a viajar numa poltrona ao seu lado. O parlamentar registrou o episódio (coincidentemente incrível) em vídeo e divulgou nas redes sociais

bolsonaro jean wyllys
(Reprodução/Vídeo/Jair Bolsonaro)

O deputado federal Jair Bolsonaro (PP – RJ) publicou uma mensagem em seu Facebook nesta terça-feira afirmando ter sido “humilhado” durante um voo da TAM entre Rio de Janeiro e Brasília pelo deputado Jean Wyllys (PSOL – RJ), que se recusou a se sentar ao seu lado no avião.

Bolsonaro postou um vídeo junto da mensagem, mostrando o momento em que Jean Wyllys sai de sua poltrona, indo para outra mais distante. De acordo com o deputado do PP, isso teria sido uma demonstração de “heterofobia” do colega do PSOL.

O jornalista Marcelo Zorzanelli, do Diário do Centro do Mundo, escreveu um texto sobre o encontro dos dois parlamentares. Leia a íntegra abaixo:

Somos todos vítimas da liberdade de Jair Bolsonaro

Caí, como muitos, no facebook de Jair Bolsonaro na tentativa de entender qual era a última polêmica envolvendo o deputado. No caso, o homem que foi vaiado na passeata do dia 15 de março do Rio de Janeiro gravou um vídeo que mostra que o deputado Jean Wyllys está sentado ao lado da cadeira reservada para ele pela companhia aérea TAM.

Uma pausa para analisar a incrível coincidência. Bolsonaro, a uma distância considerável, já havia começado a gravar. De onde ele estava, no espaço exíguo de um corredor de avião, é impossível fazer duas coisas: identificar quem está algumas poltronas à frente e, mais importante, saber qual é sua própria fileira. Quantas vezes você mesmo não sentou na fileira errada mesmo depois de conferir? Bolsonaro não sabia qual era a décima segunda fileira, mas sabia quem se sentaria ao seu lado.

“Jean Wyllys, tou do seu lado aí”, diz a voz modorrenta por trás da câmera. O psolista imediatamente percebe algum armação porque, num sobressalto contido, escapole para a poltrona do outro lado do corredor.

Jean Wyllys mudou de cadeira. Eu teria mudado de avião.

Ao publicar seu vídeo, Bolsonaro escreveu um texto que só classifico de “texto” depois de muito refletir e concluir que chamar de “bosta” seria um desserviço a um substantivo cujas eventuais utilidades (a do boi vira adubo, a do elefante vira comida na Índia, a humana é usada terapeuticamente em casos específicos) faltam ao que Bolsonaro escreveu.

Em resumo: Bolsonaro diz que ao mudar de assento Jean Wyllys cometeu “clara demonstração de intolerância, preconceito, discriminação e heterofobia.”

A lógica desonesta de Bolsonaro está sendo comemorada nos cantos obscuros da internet. A velha mídia, cada vez mais caça-níqueis em seu triste anoitecer, deu manchetes que dão a entender que a reclamação de Bolsonaro é procedente.

Veja só: qualquer pessoa faria o mesmo. Como se sentar ao lado de alguém que é contra tudo o que você é, que deseja destruir tudo pelo que você luta? Bolsonaro disse, com todas as letras, preferir que seu filho morra antes de ter um romance homossexual.

Para ficar ainda no mérito da homofobia cavalgante de Bolsonaro, o deputado disse, há alguns anos, em entrevista ao programa “A Liga”:

“Eu não gostaria de ter um vizinho meu um casal homossexual com meus filhos pequenos morando em casa. Eu me mudo!”

Ele se muda. De casa. Se sabe que há um gay a algumas paredes de distância.

Hoje, Bolsonaro é disparado o canalha-mor da nação, distinção esta que tem se provado cada vez mais difícil de ser alcançada. Seu cinismo me ofende não apenas como cidadão: ofende como ser humano. O deputado federal de 60 anos é um homem violento que vive de fazer ameaças. Um fanático com um microfone. Fala em matar com o desprendimento de quem lambe a tampinha de um copo de iogurte.

Para não ficar em seus alvos mais recentes, voltemos a 1999: “O grande erro da ditadura foi não matar vagabundos e canalhas como Fernando Henrique Cardoso”, disse. “Se fuzilassem 30 mil corruptos, a começar pelo presidente FHC, o país estaria melhor.”

Socou o psolista Randolfo Rodrigues em 2013. Não deu em nada. Sobre as pessoas mortas e torturadas na ditadura, disse que quem procura osso é cachorro. Não deu em nada. Disse que não estupraria a petista Maria do Rosário porque ela não merecia. Não deu em nada. Continua livre, deputado federal, com licença para cometer os crimes de ódio que bem desejar.

Mas tudo que é ruim pode ficar pior. Sempre fica, quando no meio está o nosso Jair. O comentário mais curtido abaixo do vídeo do avião era este:

“Bolsonaro , tenho 16 anos sou de SP e te ”apresentei” a toda minha família que ate então não te conhecia e estamos todos de acordo com suas propostas !!! Pf Salve minha geração !!!! obg”

Este é o preço que vamos pagando por não punir exemplarmente o ódio manifesto de Jair Bolsonaro. Um menino de 16 anos, que poderia muito bem estar descobrindo que tem o poder de fazer do mundo um lugar menos cínico e violento, foi quem apresentou Jair Bolsonaro à própria família – e não o contrário. É uma subversão da ordem natural das coisas.

O sabido Jair percebeu que o comentário era ouro e respondeu abaixo:

“B., dia 12 estarei na Paulista. Um abraço, JB.”

O deputado chama o garoto pelo nome. Preferi não expô-lo, apesar do post público.

bolsonaro facebook jean wyllys

No Rio de Janeiro, Bolsonaro foi vaiado, impedido de discursar e de marchar ao lado de alguns participantes. Não tenho esperanças de que o mesmo vá se repetir em São Paulo, infelizmente. Enzo e Jair vão sair de mãos dadas pela avenida Paulista. Melhor: de mãos dadas, não, porque isso é coisa de viado.

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