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O PT deve supervalorizar as manifestações

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Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político

Excetuando-se as do último domingo, em alguns locais (por que, será?) a polícia sempre estima o número de participantes de determinadas manifestações em menos, não raro, muito menos, do que estimam os organizadores.

Pois bem. O PT não deve pegar os números das polícias, salvo em alguns locais, para mensurar os protestos que teve contra si – sim, pois os protestos não foram contra a corrupção, uma lástima, foi contra o PT. O PT deve pegar as informações que mais dimensionaram o número de participantes, mesmo que os dados sejam fantasiosos, e dobrá-los (mesmo os fantasiosos). O PT deve crer que houve 2 milhões de antipetistas na Av. Paulista e 200 mil em Porto Alegre (o dobro do que estimou a Polícia Militar e bem mais do que estimaram alguns participantes).

O protesto era, sim, majoritariamente de brancos de classe média e classe média alta. Algumas fotos de negros e de pessoas com menor poder aquisitivo foram tiradas e jogadas na internet e para tentar desmentir isso, mas sabemos que se tratava de uma minoria muito menor do que aqueles que protestavam realmente contra a corrupção, se é que alguém protestou realmente contra a corrupção.

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Mas é inegável que os protestos tomaram uma dimensão muito maior do que se esperava, além de ter uma cobertura especial das maiores emissoras do Brasil, sobretudo da Globo, que a cada chamada ressaltava o caráter pacífico da marcha, como quem diz: “esse movimento que pede o ilegal impeachment da Dilma não teve nenhum ato de vandalismo, ao contrário das passeatas dos Black Blocs, Sem-Terra, Via Campesina, e etc.”

Os movimentos alcançaram, com isso, um grande público, despertando a simpatia de muitos que prefeririam o churrasco à marcha. Viram, na televisão, famílias inteiras, incluídas as crianças, os avós e os cachorros, com a cara e os focinhos pintados de verde e amarelo, como se a hegemonia do pensamento nacional lhes pertencessem. Tal como os comerciais de margarinas, essas imagens entram no imaginário como o ideal de família perfeita. Ou seja, para que tua família seja alegre e feliz, coma Doriana e vá protestar contra o Governo.

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As entrevistas contribuíam de igual forma para a propagação do pensamento comum. Pessoas bradavam, invocando teses e pensadores nenhuns que temos que derrubar este Governo que quer transformar o Brasil numa Cuba, aproximando-se da Venezuela e levando o País ao bolivarianismo (algo que não importa o que é, só tenha em mente que é uma coisa ruim e que o PT conseguirá, muito facilmente, implantá-lo no Brasil).

O PT merece o repúdio pela corrupção que cometeu. Eu mesmo seria o primeiro a chegar se as manifestações fossem realmente contra a corrupção. Ocorre, contudo, que o PT (nem é o Governo, é o PT) está pagando por todos. Não se viu cartazes contra o Renan Calheiros, o Eduardo Cunha, o PMDB e o PP. Viu-se, unicamente, cartazes contra o PT e contra a Dilma Rousseff, que não tem nada contra si provado. Nem mesmo acusação ela tem.

Caberá, então, ao PT cumprir (final e atrasadamente) a sua promessa de medidas extremas contra a corrupção. Medidas essas que devem afetá-lo diretamente, assim como o Congresso e as demais empresas públicas. O PT não tem mais espaço pro erro. Do contrário, um erro muito maior, um golpe, será iminente.

*Delmar Bertuol é escritor, membro da Academia Montenegrina de Letras, graduando em história e colaborou para Pragmatismo Político

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