Redação Pragmatismo
Racismo não 26/Mar/2015 às 10:41 COMENTÁRIOS
Racismo não

Médica negra é alvo de racismo: "estamos acostumados com outro padrão"

Publicado em 26 Mar, 2015 às 10h41

Médica é alvo de racismo por ser negra e usar “dreads” no cabelo. Integrante do programa Mais Médicos, Thatiane Santos da Silva ouviu de secretária de Saúde de Santa Helena (PR) que seu cabelo “exalava um cheiro forte” e que os pacientes estão acostumados com outro “padrão” de médico

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Médica brasileira, negra, formada em Cuba e integrante do Mais Médicos é alvo de racismo. Secretária acusada foi temporariamente afastada (divulgação)

Thatiane Santos da Silva enfrentou uma situação nova e desagradável poucos dias atrás. Graduada em 2012 na Escuela Latinoamericana de Medicina (Elam), em Cuba, a jovem gaúcha de 30 anos acusou sua chefe em uma cidade do interior do Paraná de ter praticado racismo contra ela em pleno ambiente de trabalho. Agora, pretende levar adiante o caso para tentar punir a primeira profissional acusada de atitude preconceituosa desde que o programa Mais Médicos foi iniciado no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.

Thatiane, médica clínica-geral em Santa Helena, pequeno município de 23 mil habitantes localizado a pouco mais de 600 quilômetros da capital paranaense, Curitiba. “Foi uma atitude racista vergonhosa. E achei que fosse realmente necessário expô-la a toda a população.”

Na tarde do último dia 19 de março, Thatiane se reuniu com a secretária municipal de Saúde da cidade, Terezinha Madalena Bottega, para apresentar seu organograma de trabalho. Entretanto, a reunião que seria para falar sobre trabalho subitamente se transformou em um ataque direto à sua aparência física, mais especificamente a seus longos cabelos com dreadlocks – os populares “rastas”, segundo relato de Thatiane.

Em carta enviada ao Ministério da Saúde para denunciar a funcionária, Thatiane afirmou que, tão logo entrou na sala da secretária da cidade, Terezinha lhe comunicou que “sentia muito falar sobre isso, porém havia um problema: meu cabelo.”

Segundo a médica, a secretária justificou que a população da cidade, “principalmente por ser formada por descendentes de germânicos”, estranhava seus dreadlocks, alegando que os pacientes estavam acostumados a um padrão visual entre os médicos. Terezinha ainda teria lhe chamado a atenção para o odor das madeixas, que, segundo ela, “exalava um cheiro forte”.

Secretária de Saúde é afastada

A secretária da Saúde de Santa Helena foi afastada pelo prefeito Jucerlei Satoriva (PP), que determinou a abertura de uma sindicância para apurar a conduta da assessora. O edital do afastamento da secretária Terezinha Madalena Bottega foi publicado no “Diário Oficial” eletrônico do município na última quarta-feira (25), após o Ministério da Saúde cobrar explicações da prefeitura sobre o caso. O ministério deu prazo de cinco dias para o município se manifestar. Caso contrário, a pasta informou que a prefeitura estará sujeita a sanções no âmbito administrativo do programa Mais Médicos, do qual a médica faz parte.

A secretária se defendeu das acusações e disse que “orientou” a médica sobre o risco de ela sofrer preconceito por parte de pacientes, mas negou ato de racismo. Na segunda-feira, o prefeito da cidade, que foi colonizada por alemães e italianos, havia dito que iria “acolher bem” Thatiane e que o comentário da secretária teve o objetivo de “proteger a médica”.

Último Segundo e Folhapress

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