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Parece um shopping, mas é a feira do livro de Havana

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Feira do Livro de Havana: parece um shopping, mas não é. Edição 2015 do evento internacional de literatura mobiliza atenções da capital cubana e e atrai pluralidade de moradores e turistas

Cubanos e turistas lotam antigo forte que sediou Feira Internacional do Livro em Havana (Imagem: Eduardo Seidl, RBA)

Clarissa Pont e Eduardo Seidl, RBA

A multidão era ainda maior do que aquelas vistas no Brasil em pré-feriado natalino dentro de um shopping center, quase impossível caminhar. A diferença é que não se tratava de um shopping, mas da 24ª Feira Internacional do Livro de Havana. Do dia 12 até o último domingo (22), a Fortaleza de San Carlos de La Cabaña, a maior construída pela Espanha nas Américas e uma das edificações históricas mais bonitas da capital cubana, abrigou centenas de livreiros, shows musicais e exposições.

A fortaleza sozinha já valeria a visita. Foi construída a partir da invasão inglesa, serviu de prisão militar e, na Revolução Cubana, de quartel-general. Atualmente, é um local turístico com feira de artesanato, cafés e onde, todas as noites, às nove em ponto, acontece a cerimônia do cañonazo, declarado recentemente Patrimônio Cultural de Cuba. Atores em uniformes militares do século 18 recriam o disparo de canhão sobre o porto de Havana que era sinal, até 1850, do fechamento das portas da muralha da cidade.

Considerado o maior evento cultural da ilha, a Feira do Livro ocupou Havana a partir da fortaleza e moveu a população para o outro lado do porto, onde se chega por uma autopista que corre por baixo da água. Neste ano, foram instaladas 12 subsedes da feira em todos os bairros. Os cubanos levaram até as comemorações do Dia de São Valentin para a fortaleza e muitos casais programaram um passeio entre os expositores no último dia 14.

Homenagem a Índia

“É uma honra para a Índia ser o primeiro país asiático convidado a esta Feira do Livro, que conta com a participação de intelectuais e escritores de 35 nações”, disse Ravindra Singh, secretário de Estado da Cultura da Índia, durante a cerimônia de abertura da feira, que movimentou a Sala Nicolás Guillén da fortaleza. Para se ter uma ideia, 13 editoras indianas estiveram presentes, com mais de 27 títulos traduzidos para o espanhol. A expectativa dos indianos era vender cerca de 100 mil exemplares em Havana.

Pluralidade. Feira de literatura internacional atrai cubanos e turistas e reúne diversidade da população da ilha (Imagem: Eduardo Seidl, RBA)

Além de homenagear a Índia como país convidado, a feira deste ano foi dedicada aos escritores Olga Pontuondo Zúñiga, Prêmio Nacional de Ciências Sociais e Humanas de 2010, e Leonardo Acosta, Prêmio Nacional de Literatura 2006 e Prêmio Nacional de Música 2014.

O evento também rendeu homenagens aos cinco heróis, como são conhecidos os agentes de inteligência Gerardo Hernández, Ramón Labañino, Antonio Guerrero, Fernando González e René González, que recentemente voltaram a Havana depois de estarem arbitrariamente presos nos EUA desde 1998. Eles são lembrados a todo momento em eventos oficiais. Antonio, Gerardo e Ramon estiveram na cerimônia de abertura da feira literária, no último dia 12.

Segundo a organização, na edição 2015 do evento foram mais de 850 lançamentos editoriais e calcula-se que circularam nos seus dez dias de duração 5 milhões de exemplares na fortaleza. ““A feira reafirma assim seu tamanho e sua vontade de diálogo intercultural”, afirma Zuleica Romay, presidente do Instituto Cubano do Livro.

A feira foi o principal assunto da semana em Havana. O incremento de 17% na produção de livros desde a edição do ano passado foi destaque do jornal Granma. O jornal seguiu durante algumas semanas a força-tarefa desenvolvida em gráficas cubanas para aportarem na feira com todos os títulos em tiragens máximas.

“Quando se entra na área de imprensa e encadernação da Empresa de Artes Gráficas Frederico Engels, salta à vista uma enorme rotativa Man Roland que trabalha em velocidade extrema imprimindo em quatro cores”, diz a matéria.”

Os trabalhadores das gráficas fazem grande esforço para garantir todos os lançamentos. Edel Gálvez, operário principal da rotativa, conta que desde o fim de novembro são realizados turnos de 12 horas de trabalho, de segunda a domingo. Para agilizar o processo, os títulos foram organizados por formatos para que não sejam necessárias muitas mudanças no maquinário a cada impressão. “Para garantir que cada autor lance seu livro é que estamos trabalhando”, conclui Gálvez.

Desde cedo

Foi intensa a participação das crianças e inúmeros os espaços dedicados a elas. Segundo o portal Prensa Latina, o Fundo das Nações Unidas para a Educação e a Infância (Unicef) destacou na mesma semana da abertura as contribuições teóricas de Cuba à inclusão nas escolas.

Anna Luzia D’Emilio, representante da Unicef em Cuba, destacou que na ilha está garantido o direito humano à educação. A declaração foi destaque no lançamento do livro Inclusão Educativa e Educação Especial, dos autores Santiago Borges e Moraima Orozco. O texto diagnostica e propõe enfoques ao tema da inclusão de crianças com deficiência física, dificuldade de mobilidade e pobres. “Este estudo serve de retroalimentação à Unicef, simultaneamente, que promove a reflexão e o questionamento dos enfoques pedagógicos tradicionais no ensino especial”, disse Anna.

Logo depois do encerramento, domingo, a Feira do Livro de Havana partiu em circuito por todas as províncias do país – um périplo de literatura.

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