Redação Pragmatismo
Polícia Militar 26/Jan/2015 às 21:35 COMENTÁRIOS
Polícia Militar

“Esse cara da foto sou eu, e esse é o meu relato”

Publicado em 26 Jan, 2015 às 21h35

Protagonista de uma das imagens mais compartilhadas da última manifestação contra o aumento das tarifas, o estudante Pablo Cavichini conta como foi brutalmente espancado por 8 policiais. Um deles sorri antes de chutar Pablo, que estava caído no chão

manifestação são paulo repressão violência policial

SpressoSP

Protagonista de uma das imagens mais compartilhadas da última manifestação contra o aumento das tarifas, na última sexta-feira (23), Pablo Cavichini aparece cercado por policiais militares e prestes a ser atingido por um chute de um dos agentes, que sorri antes de atacar o ativista.

A cena, agora, é explicada pelo próprio Cavichini, que publicou seu depoimento em seu perfil no Facebook.

Confira o depoimento:

Um efetivo de dezenas de policias para prender/espancar uma única pessoa, essa pessoa deve ser muito perigosa não?

Não, não é, essa pessoa no chão sou eu, apenas um manifestante. Será os manifestantes os maiores criminosos do estado e do Estado? É o que parece, então aqui vai um relato de ontem, um relato de uma tentativa de usufruir da minha liberdade de expressão e do direito à livre manifestação.

Peço que antes de comentarem leiam com atenção e descubram quem são os verdadeiros vândalos.

Ontem a tarde fui participar da manifestação contra a tarifa, organizada pelo MPL, depois de 3 horas de caminhada e quase chegando ao fim do trajeto a polícia interviu. Segundo a PM um rojão foi atirado de um prédio(deve ser mentira) e eles começaram atacar o protesto por este motivo. Ué, uma pessoa que não está participando da manifestação atira um rojão de um prédio e o protesto com mais de 10 mil manifestante é quem paga? Enfim, pagou. Daí pra frente foram as cenas de sempre, bombas pra todo lado, balas de borracha e etc, começou uma correria um policial pegou um companheiro, o Rudha Punx e logo em seguida me pegaram.

Quando fui para o 2DP (Bom Retiro) os PM’s abriram um processo contra mim, tendo nele acusações de resistência a prisão, luta corporal e que atirei pedras, paus e rojões contra os soldados. Gostaria que vissem este vídeo (http://noticias.r7.com/…/policial-militar-usa-skate-para-agredir…) pois imagens valem mais que mil palavras, agora me digam, onde teve luta corporal aí? Quem em plena consciência sairia na mão com 8 ou 10 PM’s?

Fui imobilizado no chão com um mata-leão que quase me deixou inconsciente e fiquei atordoado, senti uma pessoa me puxando e gritando”vem vem vem” e sem sucesso de me resgatar solta meu braço, já estava imobilizado no chão e chegaram mais policiais e aconteceu a cena do vídeo, eu no chão sendo agredido por uns 8 policiais, diversas porradas cassetetes na perna e na cabeça, uma bica nas costas, um PM pega um skate e bate no meu rosto, olho pro lado e vejo a cena de outro grupo de PM’s batendo a cabeça do Rudha no chão diversas vezes até abrir o supercílio dele e melar o asfalto de sangue, tudo isso com ele já imobilizado.

Tudo isso aconteceu antes de qualquer vidraça ser destruída, tudo isso sem motivo nenhum, se quebraram algo dali pra frente eu não vi.

Já com o meu rosto sangrando eles me algemam e me levam pra calçada, lá um PM diz “Agora que você tá sozinho você não aguenta né” e com as minhas mãos algemadas pra trás ele me da dois murros na boca enquanto um segundo PM bate com o cassetete na minha costela e sim, eu que não aguento sozinho. No total, foi um “saldo” de 2 hematomas nas pernas, 1 na costela, 1 em cada braço, tudo a golpe de cassetetes, um nas costas que foi resultado de um chute, um atrás da orelha e a minha cabeça aberta, tive que raspar parte do cabelo e tomar 4 pontos na cabeça, meu cotovelo quase foi quebrado e está inchado até agora, se mexer causa muita dor, se isso foi uma luta corporal eu não sei lutar.

O meu rosto e o rosto do Rudha estava coberto de sangue e antes que qualquer mídia pudesse nos fotografar eles limparam o sangue com uma blusa e nos “apresentaram” para as mídias, fizeram de uma forma que parecíamos ilesos. Usaram de uma violência totalmente gratuita.

Assim que apareceu uma câmera gritei para que me revistassem e revistassem minha mochila(que possuía dentro apenas minha carteira e meu celular) não o fizeram e o resultado foi o esperado: cheguei no 2DP revistaram minha mochila e vualá, a mágica acontece, aparecem pedras e garrafas na minha mochila, forjaram.

Enfim, o vídeo prova que não houve luta corporal e as outras duas acusações do processo foram pq forjaram objetos na minha mochila.

Fui para o 2DP e lá me encaminharam para o Pronto Socorro Servidor para cuidar dos ferimentos, chegando lá tinha um manifestante com uma bala alojada na perna, o PM que me escoltava olhou pra ele e disse “Tomara que você se foda, vai tomar no seu cu, espero que você perca essa perna.”.

Fui atendido, tirei raio x e fizeram os pontos na minha cabeça, a parte boa foi que me deram a vacina de proteção contra o Tétano que estava atrasada. Depois voltamos para o 2DP e da lá me encaminharam pra uma espécie de sede da Fundação Casa, colheram minha digitais para verificar se eu tinha passagens, processos e etc, uma procedimento pra criminosos.

Depois de algumas horas lá fomos para o 2DP e nos encaminharam para o IML, lá um PM ficou xingando a gente quase o tempo todo. Na volta do IML pro 2DP (acho que andamos de viatura por SP toda) um policial ficou nos ameaçando, dizendo que ele era vingativo, pra gente tomar muito cuidado e de lei, nos xingou diversas vezes. Enfim chegamos no 2DP e eu e o Leon fomos liberados, ambos com processo de resistência a prisão, luta corporal e por atirar pedras, paus e rojões.

Gostaria de perguntar pra vocês, isso foi uma abordagem? Uma imobilização? Isso é um exemplo do ótimo trabalho da Polícia Militar do Estado de São Paulo, com um belíssimo preparo, os mesmos que dizem que estão lá para servir e proteger, garantir a segurança dos manifestantes. Quem são vândalos?
Tire sua conclusão.

100 agradecimentos Victor Costa de Souza por ter tentando impedir minha detenção e 1000 desculpas por ter causado a sua.

Isso tudo aconteceu na frente de diversas câmeras das mídias corporativas, agora imagine o que acontece na periferia, longe de todas as câmeras, acho que se multiplicar essa violência por 10 é pouco.

Não fui o primeiro e nem serei o último.

Servir e proteger, a propriedade e o poder.

Não ACABou, tem que ACABar, eu quero o fim da Polícia Militar!

Desmilitarização já!

Leia também: PM bate recorde de mortes e não reduz crime em São Paulo

Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook

Recomendações

COMENTÁRIOS