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Depois da nossa maior crise hídrica, o que nos restará?

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Mediante esta crise hídrica histórica que já chega às casas, há uma tremenda necessidade de investimento em tecnologia para melhor aproveitamento dos recursos naturais que estão cada vez mais escassos, e não só isso, deve-se dar condições ao acesso a essas tecnologias existentes e pensar no acesso às que estão por vir

Ediel Rangel*, Pragmatismo Político

Por mais preocupante que sejam as mais pessimistas previsões sobre a falta de água no Brasil, da possibilidade de racionamento de água na região sudeste, principalmente em São Paulo e em Minas Gerais que tem a pior seca em mais de 100 anos, pergunto o que nos restará após esta crise?

A grande dependência energética misturada com o mito histórico do Brasil, o país com água em abundância, colocou em xeque toda a confiança nos sistemas de manutenção energéticos. O título de energia limpa mantém-se, mas a o atendimento a demanda foi posto a prova. Agora o que temos é um possível racionamento duplo, de água e de energia elétrica.

Racionamento não é fácil, principalmente quando somos dependentes de tecnologias que demandam o uso de eletricidade, como os nossos celulares, tablets, computadores e com o acesso a artigos que antes era de apenas uma parcela da população, como microondas e aparelho condicionador de ar. A nova classe média quer consumir.

Porém, o que deveremos aprender com essa situação? Podemos esperar a palavra sustentabilidade novamente como uma chave para a porta da solução. Mas será que com a demanda sempre crescente por recursos naturais é possível ser sustentável sem tecnologia?

O investimento em tecnologia é fundamental para sermos sustentáveis sem comprometer a nossa sobrevivência, mas o sucesso do investimento tecnológico é tornar essa tecnologia acessível a todos.

Ainda é muito caro para o cidadão comum poder ajudar o meio ambiente sem perder o seu conforto. Parece contraditório, mas observe, a questão financeira é que definirá isso. Quantos queriam ter um sistema de aquecimento solar de água em casa, que pode reduzir em até 90% o consumo de energia gasta para aquecer a água e ainda pode agregar valor do imóvel com esse sistema instalado, mas não o fazem por questões de custo? Quantas casas poderiam ter em seus telhados com placas fotovoltaicas “colhendo” energia solar e transformando-a em energia elétrica que será consumida em sua residência, mas não o fazem em função dos custos?

Na Alemanha, casas com sistema próprio de geração de energia elétrica vendem o excedente de eletricidade para a companhia de energia, e quando a sua produção não é suficiente, o sistema usa a energia da companhia, havendo assim uma de troca entre o fornecedor e o consumidor, sendo este beneficiado financeiramente.

Já com relação à questão da água, a tecnologia será a nossa grande salvadora. Sabe-se que aqui no Brasil até 72% da água tratada é usada na agricultura para a irrigação (ONU). A irrigação por aspersão é a mais comum, também é a que gera mais desperdício, sendo este de até 50% em função de condições climáticas, como temperatura e ventos.

Há uma necessidade de desenvolvimento tecnológico, popularização dessa tecnologia e acesso aos agricultores dessas técnicas, como por exemplo, a irrigação por gotejamento, que evitará o grande desperdício de água pois é direcionado, goteja onde é necessário. O pequeno agricultor é responsável por parte da alimentação presente em nossa mesa no dia a dia: a produção de alimentos que estão na cesta básica do brasileiro, como o arroz, o café, o feijão, leite/derivados e carnes vem em grande número da agricultura familiar, segundo o DIEESE, garantindo o consumo dos produtos vindo da agricultura familiar pelos brasileiros. Nota-se que dos alimentos que compõe diariamente as refeições dos brasileiros, grande parte vêm da agricultura familiar, como é o arroz (31%) e o feijão (67%), este sim, precisa e muito ter acesso a tecnologias que vão melhorar a sua produção, agredirá menos o meio ambiente e sem comprometer a sua renda.

É fácil para um grande agricultor se adaptar, tem mais fontes de captação de recursos, tem mais condições de fazer um financiamento, mas o pequeno agricultor não.

Do total dos recursos financeiros repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), no âmbito do PNAE, no mínimo 30% (trinta por cento) deverão ser utilizados pelas escolas na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas.

De um lado há uma demanda por produtos provenientes da agricultura familiar, de outro a agroindústria é necessária para o abastecimento alimentício e para a economia nacional. Apesar de serem as que mais consomem recursos hídricos, não podem e nem devem ter um racionamento de sua produção. Por outro lado, o uso desequilibrado da água compromete a nossa sobrevivência.

Mediante esta crise histórica que já chega às casas, há uma tremenda necessidade de investimento em tecnologia para melhor aproveitamento dos recursos naturais que estão cada vez mais escassos, e não só isso, deve-se dar condições ao acesso a essas tecnologias existentes e pensar no acesso às que estão por vir. É preciso reduzir os custos de produção das mesmas. Os impostos sobre tecnologias para produção de energia limpa e alternativa, como a eólica e a solar, devem ser zerados, assim como kits para aquecimento solar residencial e qualquer outra tecnologia eficiente para os pequenos agricultores, principalmente para a irrigação.

Todos têm que contribuir para vencermos essa crise. Todos mesmo! Inclusive o governo.

Sustentabilidade somente com tecnologia.

*Ediel Rangel é graduado em Sistemas de Informação pelo Instituto Doctum de Educação e Tecnologia, graduando em Ciências Contábeis pela UFVJM, mestrando em Tecnologia, Ambiente e Sociedade pela UFVJM, autor do Blog Ediel Rangel e colaborou para Pragmatismo Político.

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