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O caso dos 43 estudantes desaparecidos no México

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Quem eram os estudantes? O que aconteceu? Como a população mexicana reagiu ao desaparecimento dos estudantes? Caso já mergulhou o governo de Enrique Peña Nieto em grave crise, com grandes protestos, e atraiu os holofotes da mídia internacional

43 estudantes mexicanos desaparecidos em Iguala

Um total de 43 estudantes mexicanos têm paradeiro desconhecido desde o dia 26 de setembro, após ação policial na cidade de Iguala, no Sul do México. O fato mergulhou o governo do presidente do país, Enrique Peña Nieto, em grave crise, atraiu os holofotes da mídia internacional e desencadeou grandes protestos. Entenda o caso.

Quem eram os estudantes?

Todos são rapazes, a maioria entre 18 e 21 anos, alunos da escola rural Raúl Isidro Burgos, de Ayotzinapa, cidade a cerca de 125 km de Iguala. Os jovens estudavam para serem professores nessa região rural mexicana.

Os jovens haviam viajado para a cidade de Iguala, em 26 de setembro, a fim de arrecadar fundos para sua escola. O grupo usou vários ônibus, tomados à força, prática comum em suas mobilizações.

O que aconteceu?

Na noite de 26 de setembro, Iguala — cidade de 140 mil habitantes, localizada a 200 quilômetros da capital mexicana — foi palco de violentos confrontos entre cerca de cem estudantes e a polícia. Seis pessoas morreram, 25 ficaram feridas e os 43 estudantes desapareceram após os conflitos.

Os jovens eram provenientes de diversas regiões do país e, além de pedir recursos para a educação, protestavam contra a má qualidade do ensino. Segundo relatos divulgados pela imprensa internacional, os estudantes foram vistos sendo conduzidos à força para o interior de carros da polícia e, depois, levados para destino desconhecido. Segundo as autoridades, policiais municipais abriram fogo contra os estudantes e os entregaram ao cartel “Guerreros Unidos”.

Três membros do cartel admitiram que os estudantes foram assassinados e os corpos, queimados. De acordo com a investigação, o líder do grupo, Sidronio Casarrubias, ordenou o desaparecimento dos jovens por acreditar que eram membros dos “Los Rojos”, um grupo criminoso rival.

Com que hipóteses trabalha a investigação policial?

Segundo a Anistia Internacional, cerca de 70 pessoas, entre policiais, funcionários públicos e supostos criminosos, já foram presos por envolvimento no desaparecimento. Alguns dos presos apontaram a versão de que os 43 estudantes desaparecidos foram assassinados e enterrados após o ataque. Investigando a acusação, autoridades descobriram valas, onde foram encontrados 38 cadáveres.

Segundo as autoridades, no entanto, as análises preliminares de DNA mostram que pelo menos 28 dos corpos não são dos estudantes. Argumentando não confiar no governo, parentes dos desaparecidos exigem que a palavra final seja dada por especialistas forenses independentes, oriundos da Argentina. A equipe de peritos já está no México para colaborar na identificação dos corpos.

Na ocasião em que as valas foram descobertas, o presidente do México, Henrique Peña Nieto, ressaltou que o caso “deixa transparecer o nível de barbárie e o caráter desumano” que “perturba o esforço coletivo” para garantir um país “com mais progresso e desenvolvimento”.

De acordo com infomações da agência de notícias Télam, membros do grupo Guerreros Unidos que foram detidos reconheceram participação do cartel no assassinato dos estudantes. Patricio Reyes “El Pato”; Jonatan Osorio “El Jona”; Agustín García “El Chereje” teriam afirmado que, após incinerar os corpos, um integrante da gangue conhecido como “El Terco” ordenou que os restos fossem triturados e jogados no rio Cocula.

No rio Cocula, foram encontradas bolsas com restos e cinzas que podem ser das vítimas. A Procuradoria Geral da República no México afirmou que a identificação dos corpos será “muito difícil”, mas que os trabalhos periciais continuarão.

Por que o nome do ex-prefeito de Iguala foi envolvido nas denúncias?

José Luis Abarca, ex-prefeito de Iguala, e sua esposa, María de los Ángeles Pineda, são apontados como os idealizadores dos ataques contra os estudantes. Eles são conhecidos em Iguala como “casal imperial”.

O Ministério Público mexicano acusou Abarca, que teve o mandato cassado, e sua mulher, de ligação com o grupo dos Guerreros Unidos e de ordenar a repressão dos estudantes. O objetivo do ataque aos alunos seria evitar protestos durante um comício liderado por Maria de los Ángeles.

O então dirigente e a mulher fugiram poucos dias depois do ataque. Após um mês de fuga, em 4 de novembro, Abarca e Pineda foram detidos. A polícia espera que a captura possa oferecer pistas sobre o paradeiro dos estudantes, já que a esposa do ex-prefeito tem irmãos ligados ao narcotráfico.

Como a população mexicana reagiu ao desaparecimento dos estudantes?

Os pais dos 43 alunos desaparecidos afirmam que seus filhos ainda estão vivos e criticam o governo por não obter, em cerca de 50 dias, qualquer prova concreta no caso. Além de protestar contra a leniência do Estado na investigação, os familiares buscam chamar a atenção da comunidade internacional para que as investigações ganhem celeridade.

Enquanto isso, protestos desencadeados pela tragédia se espalham por todo o país. Centenas de milicianos se deslocaram para Iguala e iniciaram as suas próprias buscas aos estudantes, à margem das forças de segurança federais.

Na quarta-feira, 12 de novembro, manifestantes atearam fogo à Assembleia Estadual de Guerrero, em Chilpancingo. Eles atacaram várias repartições públicas e a sede do partido PRI, do presidente Enrique Peña Nieto. Neste sábado (15), centenas de pessoas fizeram uma nova manifestação no estado mexicano de Guerrero.

Líria Jade, EBC

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